Neste estudo realizado em serviços de emergência com crianças menores de 6 anos, o escore PAFRI se mostrou útil e uma pontuação menor do que zero pode auxiliar os médicos a considerar pneumonia como uma hipótese diagnóstica de baixa probabilidade, evitando a realização de exames desnecessários (ex. Raio-X de tórax) ou encaminhamento a outro serviço.
Escore PAFRI menor do que a zero em crianças febris menores de 6 anos significa um paciente com febre há menos de 3 dias, sem calafrio, com sintomas nasais, sem achados alterados no exame físico pulmonar, e com saturação de O2 normal. Na ausência de um oxímetro de pulso, pode-se utilizar a taquipneia.
Este estudo prospectivo multicêntrico ocorreu em 3 serviços de emergência em Hong Kong. Foram incluídas 967 crianças menores de 6 anos, febris (Tax ≥ 38 ºC) há no máximo 10 dias e com sintomas respiratórios (p. ex. tosse, dispneia). Foram excluídas crianças imunocomprometidas, com doença pulmonar crônica, hipóxicas (SatO2 ≤ 94%) ou com sofrimento respiratório. O diagnóstico de pneumonia consistiu em presença de infiltrado novo na radiografia de tórax ou retorno à emergência dentro de 7 dias e com diagnóstico de pneumonia subsequente. Os dados de metade das crianças foram utilizados para desenvolver o escore clínico PAFRI, que foi validado na outra metade das crianças. Os resultados do PAFRI também foram comparados a outros dois escores clínicos voltados para o mesmo problema já disponíveis. O diagnóstico de pneumonia foi fechado em aproximadamente 10% da população do estudo, sendo que o desempenho clínico do PAFRI foi considerado satisfatório. Os autores recomendam o uso do ponto de corte de 0 (sensibilidade = 92%; especificidade = 38%; razão de verossimilhança positiva = 1,49, IC 95% 1,33 – 1,66; razão de verossimilhança negativa = 0,22, IC 95% 0,08 – 0,56).
Chan FYY, Lui CT, Tse CF, Poon KM. Decision rule to predict pneumonia in children presented with acute febrile respiratory illness. Am J Emerg Med 2020;38(12):2557-2563. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0735675719308484?via%3Dihub
Infecções respiratórias são de grande importância para a Atenção Primária, seja pelo alto volume de pacientes que procuram os serviços para obterem cuidado, seja pelo desafio de se realizar um bom diagnóstico diferencial e identificar as crianças sob maior risco de complicações e hospitalização. De uma forma geral, os sinais e sintomas apresentados pelos pacientes não são bons preditores do tipo de infecção apresentado (viral, bacteriana ou atípica) e isoladamente também não são muito úteis para fechar o diagnóstico de pneumonia, sendo que o clínico assistente deve estar atento a sua combinação e características da pessoa. Dessa forma, ferramentais de tomada de decisão no contexto de atendimento a pacientes agudamente enfermos podem ter grande aplicabilidade. No caso do PAFRI, embora sua validação nesse estudo tenha ocorrido em serviço de emergência, há utilidade para o médico de família na medida em que sugere que podemos conduzir de maneira mais conservadora aqueles pacientes com febre de curta duração sem alterações importantes no exame físico, o que é a maior parte dos pacientes atendidos nesse contexto.