Tanto o Escore de Risco de Framingham quanto as Pooled Cohort Equations superestimam o risco de eventos cardiovasculares

| 04 out 2021 | ID: poems-44322

Área Temática:

Questão Clinica:

Qual a acurácia do Escore de Framingham para cálculo de Risco Cardiovascular Global e de outros escores, como o Pooled Cohort Equations, em estimar o risco de eventos cardiovasculares na população em geral?
Resposta Baseada em Evidência:

Tanto o Escore de Framingham (recomendado no Canadá e no Brasil) quanto o Pooled Cohort Equations (recomendado nos EUA) superestimaram significativamente o risco de um evento cardiovascular em 5 anos numa coorte robusta de pacientes atendidos na Atenção Primária de Ontário, Canadá, independente de idade, sexo, etnia e elegibilidade para uso de estatinas. O Escore de Framingham superestimou o risco principalmente na população de jovens. O fato das estimativas dos escores analisados indicarem um risco de mais de duas vezes o risco real observado no estudo deve levantar preocupações sobre o uso dessas ferramentas de tomada de decisão clínica no contexto da Atenção Primária.

Alertas:

Contexto:

Este é um estudo observacional com 84.617 indivíduos (56,9% mulheres) residentes de Ontário, Canadá, com idades entre 40 e 79 anos (idade média de 56,3 anos), sem história de doença cardiovascular aterosclerótica, 1% de negros, 33% nos dois níveis socioeconômicos mais vulneráveis (de 5 níveis), 21% residentes em zona rural, 17% fumantes, 25% em uso de anti-hipertensivo, 14% em uso de estatina, todos acompanhados na Atenção Primária local, que dosaram colesterol e mediram a pressão arterial entre 2010 e 2014. As estimativas de riscos dos dois escores foram comparadas com dados de prontuários eletrônicos da cidade, tomando como base um período de 5 anos. O Escore de Framingham superestimou as taxas de eventos observados em 101% e o Pooled Cohort Equations em 115.

Referencia

Ko DT, Sivaswamy A, Sud M, et al. Calibration and discrimination of the Framingham Risk Score and the Pooled Cohort Equations. CMAJ 2020;192:E442-9. Disponível em: https://www.cmaj.ca/content/192/17/E442.long

Comentários:

Estimar o risco cardiovascular global é um dos eixos de manejo das doenças crônicas conforme a maior parte dos guidelines. Para isso contamos com inúmeras equações, sendo o Escore de Framingham o mais utilizado e sugerido para o contexto brasileiro em diversas publicações do Ministério da Saúde (p. ex. Brasil, 2013; 2014). Contudo, há tempos se questiona a possibilidade de superestimação do risco cardiovascular com o uso desses escores, o que levaria parte das pessoas a se exporem a intervenções excessivas e potencialmente danosas (ex. risco de diabetes mellitus ou doenças musculares em usuários de estatinas). Além disso, escores desenvolvidos em cenários diferentes ao brasileiro, desconsiderando nosso perfil étnico/racial e socioeconômico poderiam gerar ainda mais problemas para a tomada de decisão clínica. O fato de, neste estudo, o risco predito pelo Escore de Framingham ter sido o dobro do risco observado (para uma população com bons indicadores sociais e composta majoritariamente por brancos) significa que os médicos de família devem ter cuidado ao utilizar essas ferramentas em sua prática, em especial em territórios e populações adscritas dos estratos socioeconômicos menos vulneráveis.

Data de acesso:

Endereço:

https://www.cmaj.ca/content/192/17/E442.long

Número, Data e Autoria:

Thiago Dias Sarti, setembro 2021