Aproximadamente uma a cada seis pessoas assintomáticas que se submetem à ressonância magnética (RM) de corpo inteiro terá algum tipo de anormalidade encontrada, dos quais cerca de 75% não tinham potencial de gravidade. Dados limitados sugeriram que, dos achados com potencial de gravidade, 48/234 (20,5%) representavam diagnósticos finais realmente graves.
Apenas um estudo elegeu uma amostra populacional aleatória não selecionada (2.500 do total de participantes), enquanto os demais registraram amostras selecionadas ou não relataram claramente os métodos de amostragem. Metade dos estudos não relatou claramente se os avaliadores das imagens foram cegados para as características dos participantes.
Os autores informam que em 14 estudos não foi possível identificar se cada achado se referia a uma pessoa, ou se havia pessoas com mais de um achado. Os autores supuseram que os dados se referem a achados únicos isolados (um descoberta para cada pessoa).
A ressonância magnética (MRI) está mais acessível, para triagem clínica e comercial e para pesquisa, inclusive com iniciativas de imagenologia de base populacional em larga escala, em andamento em todo o mundo. A detecção de achados incidentais não relacionados ao objetivo da imagem será uma consequência inevitável.
Uma proporção substancial de adultos aparentemente assintomáticos terá achados incidentais potencialmente graves na RM, mas pouco se sabe sobre suas consequências para a saúde. Estudos de acompanhamento de longo prazo são necessários para melhor informar sobre essas conseqüências e as implicações.
Um exame de ressonância magnética mais restrito dos doentes irá resultar em uma menor probabilidade de descobertas que requeiram uma investigação mais aprofundada, mas a detecção precoce pode não ser útil mesmo nos casos potencialmente graves, podendo resultar em sobrediagnóstico e causar mais mal do que bem. O equilíbrio entre danos e benefícios da intervenção médica – a prevenção quaternária – tem sido o ponto de equilíbrio necessário para evitar iatrogenias (Jamoulle, 2015).
É necessário que os estudos explicitem seus métodos de amostragem, descrevam fatores associados a achados incidentais potencialmente graves e resumam as informações sobre os diagnósticos de acompanhamento e desfechos.
Gibson LM, Paul L, Chappell FM, et al. Potentially serious incidental findings on brain and body magnetic resonance imaging of apparently asymptomatic adults: systematic review and meta-analysis. BMJ 2018;363:k4577. Disponível em: https://www.bmj.com/content/363/bmj.k4577
Outros estudos:
Jamoulle M. Prevenção quaternária: primeiro não causar dano. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2015;10(35):1-3. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5712/rbmfc10(35)1064
DeFrank JT Barclay C Sheridan S et al. The psychological harms of screening: the evidence we have versus the evidence we need. J Gen Intern Med. 2015; 30: 242-248. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4314481/
Com o objetivo de determinar a prevalência e os tipos de achados incidentais potencialmente graves na ressonância magnética (RM) em adultos aparentemente assintomáticos, foi realizada esta revisão sistemática com meta-análise. De 5.905 estudos recuperados pelos critérios de busca, preencheram os critérios de inclusão apenas 32 (0,5%) estudos, que avaliaram 27.643 pacientes nas bases MEDLINE, EMBASE e nas citações dos estudos recuperados.
A maioria dos estudos foi realizada na Europa (20). Os demais foram realizados nos EEUU, Ásia e Austrália. No geral, supondo achados isolados (um descoberta para cada pessoa), 16,9% dos pacientes que tiveram uma ressonância magnética do cérebro e do corpo tiveram algum resultado positivo, e 3,9% dos indivíduos tinham achados potencialmente graves. A RM apenas abdominal resultou em achados em 6,4% dos indivíduos, com 1,9% apresentando achados potencialmente graves. A imagem do tórax descobriu algo 4,3% das vezes, apesar de apenas 1,3% das pessoas terem descobertas potencialmente graves. A ressonância magnética do cérebro resultou em resultados positivos em 3,1%; 1,4% dos indivíduos tinham achados potencialmente graves.
Para cada tipo de imagem, aproximadamente metade dos achados potencialmente graves eram suspeitos de malignidade, o que, embora a priori soe como adequado para diagnóstico precoce, pode significar sobrediagnóstico e risco de sobretratamento, visto que muitos desses tumores podem não levar a danos ou mesmo regredir espontaneamente. O sobrediagnóstico, e o consequente sobretratamento, são riscos dos programas de rastreio, e devem ser analisados em termos da relação entre benefícios e riscos. Um efeito negativo na qualidade de vida como resultado do diagnóstico, incluindo sobrediagnóstico, reduziria substancialmente a relação custo-benefício de quaisquer métodos de triagem (DeFrank et al, 2015).