BVS Atenção Primária em Saúde
Traduzindo o conhecimento científico para a prática do cuidado à saúde
Traduzindo o conhecimento científico para a prática do cuidado à saúde
Evidências estatisticamente significativas de qualidade moderada apontam que intervenções psicológicas e intervenções de autogerenciamento beneficiam pessoas com epilepsia, adultos e adolescentes, mas não crianças, em termos de QVRS, bem-estar emocional e redução da fadiga.
A maioria dos estudos incluídos nesta revisão investigou intervenções psicológicas, como intervenções cognitivas, comportamentais e de mindfulness (11 estudos). Alguns enfocaram educação (7 estudos), autogerenciamento (3 estudos) e adesão à farmacoterapia (um estudo). Poucas intervenções se concentraram na QVRS em crianças e adolescentes.
Para os grupos de intervenção com ‘tratamentos psicológicos’, incluíram-se uma ampla gama de técnicas projetadas para melhorar a QVRS, frequência e gravidade das crises e comorbidades psiquiátricas, em comparação ao tratamento usual, ou a um grupo controle ativo (intervenção educacional, terapia de suporte, yoga aconselhamento, farmacoterapia com IRSS e suporte social), ou ainda pacientes em listas de espera adotados como controles. Vários estudos abrangiam tratamentos complexos e realizados no âmbito da atenção terciária.
Os grupos participantes incluíram pessoas com diagnósticos de epilepsia comparáveis, mas com gravidade e comorbidades psiquiátricas e somáticas diferentes. Os contextos culturais, étnicos e socioeconômicos eram diversos. Havia também diferenças relevantes quanto aos métodos de tratamento declarados, aos objetivos, estratégias e fundamentos teóricos. Por fim, psicólogos com vários níveis de experiência foram responsáveis pelos tratamentos.
Há dificuldades em se realizar análises de psicoterapia com adequado cegamento dos participantes, bem como randomização adequada para avaliar desfechos. Adicionalmente os autores apontam que a análise em estudos futuros deverá ser realizada com Intention to Treat [intenção de tratar], já que os artigos inclusos não foram feitos com este cuidado.
Enquanto o foco da neurologia concentra-se na redução ou controle de crises convulsivas e minimização de efeitos colaterais medicamentosos, profissionais da saúde mental e comportamental (notadamente psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais) atuam para otimizar a qualidade de vida de paciente com epilepsia, sendo a psicoterapia um de seus instrumentos.
A medida de qualidade de vida adotada nesta Revisão Sistemática foi a Qualidade de Vida relacionada à Saúde (QVRS), aferida através de vários instrumentos, gerais e específicos para epilepsia. O foco desta revisão foi a melhora da QVRS, frequência e gravidade das crises, e comorbidades psiquiátricas para adultos e crianças com epilepsia, em comparação a pessoas em lista de espera, tratamento usual, ou grupo controle ativo.
Intervenções psicológicas e intervenções de autogerenciamento melhoraram a qualidade de vida, o bem-estar emocional e reduziram a fadiga em adultos e adolescentes com epilepsia, mas houve uma lacuna crítica de estudos randomizados de tratamentos psicológicos para população pediátrica, particularmente quanto à medida específica da QVRS para epilepsia.
Michaelis R et al. Psychological treatments for people with epilepsy. Cochrane Reviews, 2017, Issue 10. Art. No.: CD012081.DOI: 10.1002/14651858. CD012081.pub2. Disponível em: http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD012081.pub2/full
Outros estudos:
Minayo, Maria Cecília de Souza, Hartz, Zulmira Maria de Araújo, & Buss, Paulo Marchiori. (2000). Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciência & Saúde Coletiva, 5(1), 7-18. Disponível em: https://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232000000100002
A Revisão incluiu 24 Ensaios Randomizados Controlados, totalizando 2439 participantes.