Este estudo observacional de grande porte não encontrou associação entre o desenvolvimento de asma, dermatite atópica, alergia alimentar ou rinite alérgica na infância e o uso de antibióticos (penicilina, ampicilina, cefazolina, clindamicina ou vancomicina) durante o parto para prevenção de infecção por estreptococo do grupo B.
Esta coorte retrospectiva cruzou dados de prontuário eletrônico de um hospital com 33 serviços de atenção primária à saúde que integravam a mesma rede de atenção à saúde na Pensilvânia e em Nova Jérsei, nos Estados Unidos. Foram incluídos 14,0 mil partos, dos quais 9,7 mil foram vaginais e 4,3 mil foram cesarianas. A profilaxia contra estreptococo do grupo B foi usada por 20% das mães com parto vaginal e 13% daquelas com cesariana. Crianças nascidas por parto vaginal tiveram um risco 12% maior do desfecho composto (asma, alergia alimentar ou dermatite atópica) caso suas mães tivessem recebido a profilaxia, mas o intervalo de confiança de 95% foi compatível tanto com uma diminuição de até 5% quanto com um aumento de até 32% nesse risco. Da mesma forma, crianças nascidas por cesariana tiveram um risco 7% maior caso suas mães tivessem recebido a profilaxia, com um intervalo de confiança variando desde uma redução de 12% até um aumento de 31%. A mesma análise foi feita separadamente para cada uma das três doenças alérgicas, além de rinite alérgica, com resultados semelhantes. Note-se que as análises não encontraram associação “estatisticamente significativa”, mas o tamanho da amostra não foi calculado de forma a garantir um poder estatístico satisfatório a priori.
Dhudasia MB, Spergel JM, Puopolo KM, et al. Intrapartum group B streptococcal prophylaxis and childhood allergic disorders. Pediatrics. 2021;147(5):e2020012187. Disponível em: https://doi.org/10.1542/peds.2020-012187
Médicos e enfermeiros na atenção primária se deparam frequentemente com crianças (e adultos) com doenças alérgicas como aquelas consideradas nesta pesquisa. Ainda que uma história minuciosa seja frequentemente útil, é importante que médicos e enfermeiros não tratem como fator de risco o uso profilático de antibiótico no parto. Além de ser factualmente errado, como sugere este estudo, isso ainda poderia reforçar qualquer sentimento de culpa que a mãe possa ter, além de não ajudar em nada a estabelecer o diagnóstico ou definir o manejo da doença alérgica presente.