Em média, utilizar a mamografia digital aumentou em 10% a detecção do câncer de mama (+0,5 cânceres por 1000 exames; intervalo de confiança [IC] de 95%, +0,2 a +0,8). Esse aumento na detecção foi maior (25%) para o câncer ductal in situ (+0,2 por 1000; IC 95% +0,1 a +0,3), e menor ou ausente (4%) para câncer invasivo (+0,2 por 1000; IC95% -0,1 a +0,5). Além disso, não houve diferença entre os tipos de mamografia com relação ao câncer de intervalo, que é quando se diagnostica um câncer depois de um exame normal antes de quando seria realizado o próximo. A mamografia digital aumentou em 12% a necessidade de chamar as pacientes de volta para repetir o exame (+6,9 por 1000; IC 95%, +3,5 a +10,4) e em 10% a taxa de falsos positivos (+6,3 por 1000; IC 95%, 3,2 a 9,4), média
Esta revisão sistemática incluiu principalmente estudos observacionais retrospectivos, mas também incluiu estudos prospectivos pareados (quando a mesma paciente fazia ambos os exames) e randomizados. Ao todo, foram 24 estudos, com um total de 16,6 milhões de exames e 87,2 mil cânceres detectados. Houve grande heterogeneidade entre os estudos, mesmo nas análises de subgrupo. Isso significa que o efeito varia entre os contextos, e não estão claras as características contextuais que resultariam nessa variação. A diferença da mamografia digital parece ser maior em pacientes mais jovens e/ou com mamas mais densas; também parece ser maior no primeiro exame (em comparação aos subsequentes). Infelizmente, os autores da revisão não informaram o intervalo de confiança para a diferença entre esses subgrupos
Farber R, Houssami N, Wortley S, et al. Impact of full-field digital mammography versus film-screen mammography in population screening: a meta-analysis. J Natl Cancer Inst 2021;113(1):16-26. Disponível em: https://doi.org/10.1093/jnci/djaa080
O Brasil vive hoje uma gradual transição entre a mamografia baseada em filme e a radiografia digital, tanto no Sistema Único de Saúde quanto fora dele. Como os autores da revisão sistemática discutem, a transição tem sido feita principalmente por questões práticas, como a possibilidade de armazenar uma cópia do exame e transmitir através da Internet. O aumento em 10% no número de cânceres detectados, assim como o aumento em 10% no número de exames falsos-positivos, tem implicação para o planejamento de serviços de referência, mas é pequeno o suficiente para não ser percebido pelas equipes da estratégia Saúde da Família. A falta de efeito sobre o câncer de intervalo sugere que a mamografia digital não ajude no diagnóstico precoce do câncer de mama (em comparação à mamografia baseada em filme); em vez disso estaria encontrando lesões que não evoluiriam antes do próximo exame de rotina. Em suma, não parece haver justificativa clínica para gestores darem preferência a clínicas radiológicas que realizem mamografia baseada em filme.