Modificar a alimentação para aumentar a ingestão de ácidos graxos ômega-3, sem (H3) ou com a diminuição na ingestão de ômega-6 (H3-L6), diminuiu o número de horas por dia com dor de cabeça (tanto em geral quanto de intensidade moderada ou severa), o número de dias por mês com dor de cabeça, e o consumo de anti-inflamatórios não esteroides.
Ramsden CE, Zamora D, Faurot KR, et al. Dietary alteration of n-3 and n-6 fatty acids for headache reduction in adults with migraine: randomized controlled trial. BMJ 2021;374:n1448. Disponível em: https://doi.org/10.1136/bmj.n1448
O ensaio clínico parte do princípio que existem mediadores químicos da dor que são derivados de ácidos graxos n-6 (mais conhecidos como ômega-6), enquanto mediadores químicos derivados de ácidos graxos n-3 (ômega-3) protegeriam contra a dor. Por isso, adultos com 5 a 20 dias/mês de enxaqueca (migrânea) com ou sem aura foram alocados aleatoriamente para um de três regimes alimentares. O grupo de controle deveria se alimentar como a média dos estadunidenses, com uma baixa ingestão dos ácidos eicosapentaenoico (EPA) e docosaexaenoico (DHA), e uma alta ingestão do ácido linoleico. O grupo H3 foi orientado a aumentar a ingestão de ácidos graxos n-3 EPA e DHA, o grupo H3-L6 foi orientado a fazer o mesmo e também diminuir o consumo de ácido linoleico, um ácido graxo n-6. Os grupos experimentais não atingiram os alvos de ingestão de ácidos graxos, e não melhoraram tanto quanto esperado no desfecho clínico primário, um índice composto de gravidade da enxaqueca. Mesmo assim, a intervenção diminuiu a frequência e a gravidade da enxaqueca, como medida pelos diários de dor, o que poderia ser considerado ainda melhor. O intervalo de confiança desse efeito foi compatível tanto com a presença quanto com a ausência de benefício clinicamente relevante. Algumas análises ad hoc foram compatíveis com o mecanismo de ação postulado: pessoas com mais DHA e EPA (e seus derivados) e menos ácido linoleico circulantes tiveram menos horas diárias de dor. Além disso, não houve diferença entre os grupos quanto a efeitos adversos.
Existem outras medidas profiláticas com melhor nível de evidência para a profilaxia de enxaqueca. Várias delas consistem em medicamentos disponíveis na atenção primária à saúde no SUS. Por outro lado, esta intervenção poderia ser considerada uma segunda opção, caso o paciente prefira não utilizar medicamentos, ou então não consiga uma resposta satisfatória com os mesmos. Vale a pena destacar que, de acordo com a Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos, o óleo de soja é o mais rico em ácido linoleico.