Em média, mais de 50% das mulheres que param de usar algum método contraceptivo e tentam engravidar conseguirão em 6 meses, sendo que 77% estarão grávidas em um ano. O retorno à fertilidade (produzindo descendentes vivos) é mais lento com contraceptivos injetáveis (5 a 8 ciclos menstruais) e mais rápido com contraceptivos intrauterinos ou implantáveis (2 ciclos). O tempo total de uso de contraceptivos não se associou a uma menor probabilidade de engravidar.
O artigo analisou dados coletados virtualmente de 3 coortes prospectivas, 2 da Dinamarca e 1 dos Estados Unidos, totalizando 17.954 mulheres que haviam parado de usar contraceptivos nos últimos 6 meses, que não estavam grávidas (mas estavam tentando engravidar) e que não estavam recebendo tratamento de fertilidade ou tinham usado como último método contraceptivo esterilização, contraceptivo de emergência ou ducha. O último método contraceptivo mais comumente relatado foram contraceptivos orais (37,5%), métodos de barreira (30,6%), métodos naturais (15,4%) e métodos reversíveis de ação prolongada (13,3%). As mulheres foram acompanhadas por 12 meses e, durante esse tempo, 56% das mulheres conceberam em 6 meses e 77% conceberam em 12 meses. O uso de contraceptivos injetáveis teve a menor taxa de fecundidade dentre os métodos contraceptivos analisados (razão de 0,65 em comparação aos métodos de barreira; IC 95% 0,47 – 0,89). As usuárias de dispositivos intrauterinos hormonais tiveram uma taxa de fecundidade aproximadamente 20% maior do que as mulheres que usaram dispositivos intrauterinos de cobre ou métodos de barreira. Os contraceptivos injetáveis tiveram o maior atraso no retorno da fertilidade normal (5 a 8 ciclos menstruais), seguidos pelos adesivos (patch) anticoncepcionais (4 ciclos), pelos contraceptivos hormonais orais (3 ciclos) e pelos contraceptivos intrauterinos ou de implante (2 ciclos). O tempo total de uso dos contraceptivos hormonais não se associou a uma mudança na fecundidade.
Yland JJ, Bresnick KA, Hatch EE, et al. Pregravid contraceptive use and fecundability: prospective cohort study. BMJ 2020;371:m3966. Disponível em: https://www.bmj.com/content/371/bmj.m3966
Comentários
Esse artigo é importante pois, como afirmam os autores, tínhamos disponíveis apenas estudos epidemiológicos pequenos e inconsistentes que analisavam os efeitos do uso de métodos contraceptivos reversíveis de longa duração (em geral, concentrados nos contraceptivos hormonais orais) no retorno à fertilidade. Dessa forma, essa robusta coorte municia os clínicos em geral com informações de qualidade para a adequada orientação das mulheres que estão escolhendo seu método contraceptivo ou que estão planejando engravidar e por isso interrompem seu uso. Tendo isso em vista, três informações são particularmente importantes para essas mulheres e seus parceiros: aproximadamente um quarto das mulheres não terão engravidado mesmo após um ano da interrupção do contraceptivo; os dispositivos intrauterinos, em comparação com os demais, possuem um bom efeito no retorno à fertilidade; e o tempo de uso do contraceptivo hormonal não tem influência na capacidade da mulher engravidar após sua interrupção. Com isso, mitos são desfeitos e uma decisão melhor informada poderá ser realizada pela mulher.