Cada vez mais, os estudos estão mostrando que o uso sob demanda de um esteróide inalado mais um beta-agonista de ação curta (SABA, em inglês) é tão eficaz ou quase tão eficaz quanto o uso diário de um esteróide inalado, com doses cumulativas de esteróides muito mais baixas. O pequeno benefício em termos de semanas com bom controle dos sintomas através do uso diário de esteróides deve ser balanceado em relação ao custo e aos efeitos de longo prazo.
Neste estudo patrocinado pela indústria, a asma leve foi definida em um paciente quando poderia ser controlada por um inalador diário de esteroides de baixa dosagem ou inibidor de leucotrieno, mas não controlada adequadamente por SABAs intermitentes. Neste estudo, 3.849 pacientes de 12 anos ou mais e asma leve foram randomizados para receber 1 de 3 estratégias: (1) inalador de placebo duas vezes ao dia mais inalador de terbutalina 0,4 mg, conforme necessário; (2) inalador de placebo duas vezes ao dia mais budesonida 160 mcg / formoterol 4,5 mcg, conforme necessário; e (3) inalador de budesonida 160 mcg duas vezes ao dia mais terbutalina 0,4 mg, conforme necessário. Os pacientes foram inscritos, após um período de testagem da adesão (run-in) de 2 a 4 semanas apenas com terbutalina conforme a necessidade, e foram acompanhados por um ano. A média de idade dos pacientes foi de 40 anos, 20% tiveram uma exacerbação grave no ano anterior à entrada no estudo, o VEF1 médio pré-tratamento foi de 84%. Foram 87,4% os que concluíram o estudo. Os pacientes usavam um diário para registrar os sintomas. Aqueles no grupo de manutenção com budesonida tiveram uma porcentagem maior de semanas com bom controle comparados aos outros 2 grupos que usaram apenas inaladores conforme necessário (44% vs 34% para grupo budesonida / formoterol, odds ratio -OR- 0,64; 95% IC 0,57 a 0,73). O grupo budesonida / formoterol foi superior ao grupo terbutalina; 34% vs 31%, OR 1,14, 95% IC 1,00 a 1,3, p<0,05). Ao longo de um ano, isso equivale a 5 semanas adicionais de bom controle para pacientes que usam um inalador de esteróide de manutenção em comparação com aqueles que usam budesonida / formoterol conforme necessário. O grupo de manutenção com budesonida apresentou taxas significativamente mais baixas de exacerbações graves do que o grupo budesonida / formoterol (0,09 vs 0,07, Razão de Taxas RT 0,83; IC95% 0,59 a 1,16) e o grupo budesonida / formoterol foi melhor em comparação ao grupo Terbutalina (0.07 vs. 0.20; RT 0,36; IC95% 0,27 a 0,49). Para exacerbações moderadas a graves, as taxas também foram significativamente mais baixas para os regimes contendo budesonida do que apenas para terbutalina conforme necessário (0,14 vs 0,36, RT 0,39 IC95% 0,32 a 0,49, p<0,01), mas não foi superior em comparação ao grupo de manutenção com budesonida (0,14 vs 0,15, RT 0,95 IC95% 0,74 a 1,21, p=0,66). A dose geral de esteróides administrada a pacientes no grupo de budesonida / formoterol conforme a necessidade foi de aproximadamente um quinto daquela em uso de terapia com esteróides de manutenção.
O’Byrne PM, FitzGerald JM, Bateman ED, et al. Combined budesonide-formoterol as needed in mild asthma. N Engl J Med 2018;378(20):1865-1876. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa1715274?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200www.ncbi.nlm.nih.gov
Esse foi um estudo de superioridade, patrocinado pela indústria farmacêutica, o que sempre deve ser olhado com cuidado. Os achados foram com maior foco na comparação com a terbutalina apenas, que foi superior em todas as avaliações, porém não foi superior à terapia de manutenção com corticóide e terbutalina sob demanda. O fato de ter escolhido realizar o período de run-in (onde se procura testar a adesão dos participantes ao(s) tratamento(s) proposto(s)) pode levar a uma subestimativa dos efeitos adversos que seriam vistos em condições reais (efetividade).