Analisar novamente a densidade mineral óssea (BMD) após 3 anos não adiciona informações prognósticas relevantes, tendo em vista que o risco de fratura pouco se altera após 3 anos da análise da densidade mineral óssea e, portanto, não influencia na decisão clínica sobre a necessidade de tratamento; e que não é necessário nova análise da densidade mineral óssea após o início do tratamento com bifosfonato.
Esta é uma extensão de um estudo de coorte – Women’s Health Initiative – estadunidense que apresenta análises de 7.419 mulheres, com idades entre 50 e 79 anos (idade média de 66,1 anos), acompanhadas em média por 12 anos após a realização de uma densidade mineral óssea basal, repetida em 3 anos, que não receberam suplementação de cálcio e vitamina D, bifosfonatos ou terapias hormonais antes da repetição da BMD. O desfecho primário fratura foi obtido dos relatos das mulheres e consulta a seus registros clínicos (que segundo os autores tem boa acurácia nessa coorte especificamente). Durante o acompanhamento, 1,9% das mulheres tiveram fratura de quadril e 9,9% tiveram fratura osteoporótica relevante (quadril, coluna, membro superior ou ombro). Em comparação com a BMD basal, mudança nos níveis de BMD ao longo de 3 anos ou a combinação da BMD basal e mudança de seus níveis em 3 anos não foram superiores em predizer fratura de quadril, coluna, membro superior ou ombro, mesmo após controle por idade, raça/cor, nível de atividade física, passado de queda, IMC e uso de hormonioterapia. BMD basal baixa (<1DP) foi o fator mais associado a risco de fratura no período de acompanhamento e deve ser o parâmetro a guiar as decisões clínicas. O ponto forte desse estudo foi ter um desenho prospectivo de longa duração e ter alta proporção de mulheres pós-menopáusicas abaixo de 65 anos (~44%). Além disso, a coorte é financiada pelo governo estadunidense, embora os autores do artigo declarem conflitos de interesse.
Crandall CJ, Larson J, Wright NC, et al. Serial bone density measurement and incident fracture risk discrimination in postmenopausal women. JAMA Intern Med 2020;180(9):1232-1240. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamainternalmedicine/fullarticle/2768888
Este é um tema que divide opiniões e especialidades médicas. A indicação e periodicidade de rastreamento de osteoporose em mulheres na pós-menopausa varia substancialmente entre as organizações e especialidades médicas. A US Preventive Services Task Force (USPSTF) estadunidense, em protocolo de 2018, recomenda o rastreamento em mulheres com mais de 65 anos ou naquelas com idade inferior a 65 anos com fatores de risco (medido por exemplo com a ferramenta FRAX), e não define uma periodicidade devido a fragilidade das evidências. A American Academy of Family Physicians, com manifestação de 2018, não recomenda o rastreamento em mulheres abaixo de 65 anos sem fatores de risco e também não se manifesta claramente sobre a periodicidade. O Tratado de Medicina de Família e Comunidade – considera aqui como um proxy da manifestação desta especialidade – vai na linha da USPSTF, deixando apenas mais aberta a possibilidade de repetição da BMD a cada 5 anos a depender das características da paciente. Enfim, como se vê, os materiais amplamente disponíveis até o momento, principalmente por não estarem atualizadas com as evidências mais recentes, não são categóricas sobre a periodicidade da realização da BMD em mulheres pós-menopáusicas. Essa coorte, a nosso ver, tem o potencial de mudar as principais recomendações clínicas às quais os Médicos de Família e Comunidade do Brasil tem acesso.