Cada 5 mmHg a menos de pressão arterial sistólica reduz cerca de 10% o risco cardiovascular, tanto em pessoas com quanto em pessoas sem doença cardiovascular. Essa redução relativa não parece variar conforme a pressão arterial sistólica na linha de base.
Esta foi uma meta-análise de dados de participantes individuais, incluindo 344,7 mil participantes de 48 ensaios clínicos de grande porte, com um tempo mediano de seguimento de 4,15 anos. Foram considerados eventos cardiovasculares: infarto agudo do miocárdio (fatal ou não) ou nova doença cardíaca coronariana, acidente vascular encefálico (fatal ou não) ou internação ou morte por insuficiência cardíaca. A diminuição do risco cardiovascular parece ser proporcional à diminuição da pressão arterial (para cada 5 mmHg a menos: razão de hazards [HR] 0,90; intervalo de confiança [IC] 95%, 0,88–0,92), sem diferença conforme a história de doença cardiovascular na linha de base. A homogeneidade do efeito relativo se manteve para a redução do risco de doença arterial coronariana (HR 0,92; IC 95%, 0,89–0,95), derrame (HR 0,97; IC 95%, 0,84–0,91) e morte cardiovascular (HR 0,95; IC 95%, 0,82–0,99), mas parece haver maior redução do risco de insuficiência cardíaca entre pessoas sem doença cardiovascular (HR 0,83; IC 95%, 0,77–0,89) do que entre aquelas com doença cardiovascular (HR 0,89; IC 95%, 0,83–0,95). Também não parece haver diferença de efeito conforme o nível basal de pressão arterial sistólica, numa análise em sete níveis, de < 120 mmHg até ≥ 170 mmHg.
Rahimi K, Bidel Z, Nazarzadeh M, et al, for the Blood Pressure Lowering Treatment Trialists’ Collaboration. Pharmacological blood pressure lowering for primary and secondary prevention of cardiovascular disease across different levels of blood pressure: an individual participant-level data meta-analysis. Lancet 2021;397(10285):1625-1636. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(21)00590-0/fulltext
Esse estudo sugere que praticamente qualquer adulto teria seu risco cardiovascular reduzido se utilizasse anti-hipertensivos como nesses grandes ensaios clínicos. Como os próprios autores discutem, isso não significa que todas as pessoas devam utilizar anti-hipertensivos. A redução absoluta do risco vai depender do risco basal, que poderia ser utilizado para decidir pela prescrição ou não de anti-hipertensivos. Além disso, como os autores sugerem, a dose da medicação deveria ser escolhida em função da redução desejada, não em função de atingimento de metas pressóricas absolutas. Enquanto as diretrizes clínicas não são revistas em função deste estudo, médicos na atenção primária à saúde poderiam discutir com seus pacientes a perspectiva de guiar as decisões terapêuticas por essa nova forma.