O equilíbrio entre benefícios e danos é igualmente ponderado, por isso não devemos mais recomendar aspirina para a maioria de nossos pacientes para prevenção primária. A European Society of Cardiology, o American College of Cardiology e a American Heart Association concordam e não recomendam mais aspirina para prevenção primária. Talvez estejamos tendo melhores resultados com rastreamento do câncer e prevenção de eventos cardiovasculares por meio do uso de estatinas e anti-hipertensivos, ocasionando um menor papel preventivo para aspirina.
(Nível de Evidência = 1a)
Aspirina é recomendada como prevenção primária pela Força Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF), principalmente com base em estudos que recrutaram pacientes nas décadas de 1980 e 1990. Esses estudos concluíram que havia mais benefícios do que riscos: principalmente uma redução na mortalidade cardiovascular, eventos cardiovasculares e câncer colorretal. Hoje, no entanto, como temos lidado melhor com outros fatores de risco, como tabagismo, hipertensão e dislipidemia, e realizado triagem rotineira de câncer colorretal, esse benefício persiste? Os pesquisadores realizaram uma meta-análise de 4 grandes estudos de aspirina para prevenção primária que recrutou pacientes após 2005, e os comparou com meta-análises de dados de pacientes individuais que recrutaram pacientes antes de 2000. Nos estudos mais recentes, não houve diferença na redução na morte por câncer (risco relativo [RR] 1,11; IC 95% 0,92 – 1,34) ou incidência de câncer (RR 1,06; 0,99 – 1,14). Também não houve redução significativa no infarto do miocárdio não fatal (RR 0,90; 0,76 – 1,06) ou mortalidade cardiovascular (RR 0,92; 0,81 – 1,06). No geral, para cada 1200 pessoas que tomam aspirina em vez de placebo por 5 anos, haverá menos 4 eventos cardíacos maiores e 3 menos AVCs isquêmicos, mas haverá mais 3 hemorragias intracranianas e mais 8 eventos hemorrágicos maiores.
Moriarty F, Ebell MH. A comparison of contemporary versus older studies of aspirin for primary prevention. Fam Pract2020;37(3):290-296. Disponível em: https://academic.oup.com/fampra/article/37/3/290/5637484?login=false
Comentários: a avaliação do potencial dano causado por uma medida preventiva deve estar no topo das prioridades no momento de definir sua implementação, seja no nível individual ou coletivo. Os estudos têm evoluído muito no sentido de detectar os danos causados, evidenciando de forma cada vez mais clara, o risco de hemorragias maiores, o que contrapõem-se frontalmente as recomendações das décadas recentes.