Anticonvulsivantes e inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina são as melhores escolhas iniciais para dor crônica causada por neuropatia diabética ou neuralgia pós-herpética

| 03 out 2021 | ID: poems-44243

Área Temática:

Questão Clinica:

Quais tratamentos para a dor neuropática crônica (neuropatia diabética, neuralgia pós-herpética, neuralgia do trigêmeo) podem proporcionar uma melhora clinicamente significativa?
Resposta Baseada em Evidência:

Esta revisão sistemática encontrou evidência de moderada certeza de que anticonvulsivantes e inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN) tenham um benefício clinicamente relevante para pacientes com dor neuropática. Nenhum ensaio clínico incluído na revisão tinha pacientes com neuralgia do trigêmeo, de forma que as evidências se aplicam mais diretamente à neuropatia periférica e à neuralgia pós-herpética.

Alertas:

Contexto:

Os autores buscaram em três bases de dados (MEDLINE, EMBASE e Cochrane Library) ensaios clínicos avaliando o efeito de oito grupos de intervenção: exercício físico, acupuntura, IRSN, antidepressivos tricíclicos, rubefacientes tópicos, opioides, anticonvulsivantes, e lidocaína tópica. Nenhum dos ensaios clínicos incluídos avaliou o efeito de exercício físico ou lidocaína tópica, e evidência foi de muito baixa certeza para efeito clinicamente relevante de acupuntura e tricíclicos.

Os IRSN (duloxetina e (des)venlafaxina) parecem aumentar em 45% a probabilidade de melhora clinicamente significativa (intervalo de confiança [IC] de 95%, 33% a 59%), resultando em um benefício para uma em cada 7 pessoas tratadas (NNT). Por outro lado, a probabilidade de abandonar o tratamento por efeito adverso é 148% maior (IC 95%, 78% a 245%), resultando em um abandono adicional a cada 13 pessoas tratadas (NNH).

Rubefacientes tiveram evidência de baixa certeza para benefício clinicamente relevante, sem diferenças aparentes entre aplicação infrequente de adesivos de alta potência e a aplicação mais frequente de cremes ou adesivos de baixa potência. Os rubefacientes foram uma das intervenções com maior aumento (231%) no risco de abandono do tratamento, ao mesmo tempo em que tiveram um dos melhores NNH (25), sugerindo que os participantes desses ensaios clínicos tivessem uma taxa de abandono no grupo placebo bem menor do que nos ensaios clínicos que avaliaram outras intervenções.

Opioides também tiveram evidência de baixa certeza para benefício clinicamente relevante, e parecem aumentar o risco de abandono do tratamento por efeitos adversos (diferença de 148%, NNH de 12).

Anticonvulsivantes parecem aumentar em 54% (IC 95%, 45% a 63%) a probabilidade de benefício clinicamente relativo, com um NNT de 7. Os medicamentos estudados parecem ter eficácia semelhante, com diferenças importantes na segurança. Gabapentina parece ser o medicamento que menos aumenta o risco de abandono por efeitos adversos (um aumento de 47% com um IC 95% de 13% a 91%; NNH 22), seguida por pregabalina, topiramato e oxcarbazepina.

Referencia

Falk J, Thomas B, Kirkwood J, et al. PEER systematic review of randomized controlled trials: Management of chronic neuropathic pain in primary care. Can Fam Physician 2021;67(5):e130-e140.Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8115961/

Comentários:

A dor neuropática pode trazer um grave prejuízo à qualidade de vida e funcionamento das pessoas acometidas. As três doenças incluídas na revisão são razoavelmente comuns, e costumam ser diagnosticadas na atenção primária sem maiores dificuldades. No entanto, o tratamento se mantém desafiador, pois nenhuma das opções mais razoáveis está disponível na atenção primária do SUS. Gabapentina e topiramato fazem parte do componente especializado da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais, de forma que sua distribuição é feita pelas secretarias estaduais de saúde, seguindo protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas estabelecidas pelo Ministério da Saúde. A não ser que esses protocolos aceitem a prescrição para dor crônica por médicos de família e comunidade e/ou médicos da atenção primária em geral, a opção fica sendo pedir ao paciente para comprar ou encaminhá-lo ao serviço de referência que houver.

Data de acesso:

Endereço:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8115961/

Número, Data e Autoria:

Leonardo Fontenelli, setembro 2021