Entre as mulheres com histórico de dor vulvar na penetração de pelo menos 3 meses, a Gabapentina melhorou as pontuações do Índice de Função Sexual Feminina (FSFI) na conclusão de 6 semanas de tratamento em comparação com as pontuações basais. Dos 6 domínios do índice, aqueles com alterações estatisticamente significativas no escore médio foram desejo sexual, excitação e satisfação (mas não orgasmo, lubrificação ou dor). Na análise de subgrupos de mulheres com dor apenas no contato, o benefício foi observado principalmente em mulheres com maior pontuação inicial na gravidade da dor nos músculos pélvicos.
A vulvodínia é uma condição de dor crônica que afeta a função sexual feminina em todos os domínios, medida pela FSFI (faixa = 2 a 36, onde escores mais altos significam melhor qualidade de vida). O subconjunto de vulvodínia mais bem caracterizado e mais comum é a vulvodínia provocada (VP) localizada no vestíbulo (imediatamente anterior ao anel himenal). A VP ocorre apenas no contato, como na colocação de um tampão ou na relação sexual. Os autores realizaram um ensaio clínico randomizado cruzado (cross-over) controlado de Gabapentina versus placebo entre mulheres (N = 89) com histórico de vulvodínia e VP, conforme medido pela aplicação de força digital padronizada. A dor foi mensurada usando uma escala numérica de 11 pontos – 0 (nenhum) a 10 (pior) – na linha de base e na conclusão de cada fase do tratamento. As mulheres foram alocadas para receber Gabapentina e placebo em duas fases de 6 semanas, com sequenciamento randomizado. A análise foi por intenção de tratar, com 66 mulheres completando o tratamento. O tratamento foi titulado para a dose máxima tolerada durante as primeiras 4 semanas de cada fase até um máximo de 3600 mg de Gabapentina (média de 2476 ± 866 mg). A pontuação da FSFI na conclusão da fase de Gabapentina versus a fase placebo do estudo foi 1,3 pontos melhor (IC95% 0,4-2,2; P = 0,008). Houve melhorias significativas em três domínios individuais da FSFI (desejo sexual, excitação e satisfação), mas não nos outros três (orgasmo, lubrificação ou dor). A dor com a avaliação padronizada da força digital na conclusão da fase de tratamento ativo foi estatisticamente melhorada após a fase placebo entre as mulheres com uma avaliação inicial da VP de pelo menos 5 (diferença média de 1,6; 0,3 – 2,8), mas não entre as mulheres com escores de 4 ou menos. Os efeitos colaterais (não graves) da Gabapentina foram mais frequentes do que com o placebo, embora nenhum tenha atingido significância estatística. Os escores finais da FSFI não se aproximaram dos escores de pacientes controles saudáveis não tratados.
Bachmann GA, Brown CS, Phillips NA, et al, for the Gabapentin Study Group. Effect of gabapentin on sexual function in vulvodynia: a randomized, placebo-controlled trial. Am J Obstet Gynecol 2019; 220: 89e1-89e8. Disponível em: https://www.ajog.org/article/S0002-9378(18)30905-0/fulltext
Embora estatisticamente significativo, o significado clínico é mínimo, sendo a opção pelo tratamento um assunto a ser discutido individualmente.