O uso de escores como o Canadian Assessment of Tomography for Childhood Head Injury (CATCH) auxiliam o julgamento clínico na tomada de decisão com relação a realização de TC em crianças com TCE leve.
Evitar TC’s desnecessárias é de extrema importância, dada a radiossensibilidade do cérebro de uma criança.
Os autores desse trabalho são os mesmos que desenvolveram o escore CATCH, que objetiva identificar as crianças que sofreram TCE leve e se beneficiariam de realizar TC de crânio. Foi utilizada uma lista simples de verificação com 7 variáveis, sendo que se qualquer uma das 4 primeiras estiverem presentes, a criança apresentaria alto risco para intervenção neurocirúrgica e se qualquer uma das 3 finais estivessem presentes a criança apresentaria risco moderado de lesão cerebral na TC. As 7 variáveis são: escala de coma de Glasgow (ECG) menor que 15 duas horas após a lesão; suspeita de fratura craniana aberta ou afundamento craniano; história de piora da cefaleia; irritabilidade no exame físico; qualquer sinal de fratura de base de crânio; grande hematoma em couro cabeludo e mecanismo perigoso de lesão (acidente automobilístico, queda de mais de 90cm ou 5 ou mais degraus, queda de bicicleta sem capacete). O escore foi desenvolvido originalmente em 3.866 crianças com ECG entre 13 e 15 acompanhada de perda de consciência, amnesia, desorientação vômitos persistentes ou irritabilidade. O estudo atual aplicou esses critérios de forma prospectiva em 4.494 crianças, com 434 perdas no acompanhamento. As crianças tinham idade entre 1 mês e 16 anos, das quais apenas 11% tinham menos de 2 anos e 95 apresentavam pontuação na ECG entre 13 e 14. Os médicos foram orientados a decidir sobre a necessidade do uso de TC apenas a partir do julgamento clínico, sendo solicitado que não utilizassem o CATCH. Em ultima análise, 35% dos pacientes foram submetidos à TC e os demais mantiveram acompanhamento clínico por 2 semanas para determinar o seu desfecho. No geral, 4,9% (n=197) tiveram lesão cerebral na TC e 0,6% (n=23) foram submetidos a uma intervenção neurocirúrgica. A pontuação CATCH identificou corretamente 21 de 23 crianças destas crianças, e 192 de 197 com lesão cerebral na tomografia. Adicionando uma oitava variável (4 ou mais episódios de vômito), agora chamada de CATCH2, identificaram-se todas as 23 crianças que necessitavam de intervenção neurocirúrgica e 196 de 197 com lesão cerebral na TC. No entanto, prejudicou a especificidade, diminuindo de aproximadamente 58% para aproximadamente 47%.
Osmond MH, Klassen TP, Wells GA, et al, for the Pediatric Emergency Research Canada (PERC) Head Injury Study Group. Validation and refinement of a clinical decision rule for the use of computed tomography in children with minor head injury in the emergency department. CMAJ 2018;190(27):E816-E822. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29986857/
Outros estudos:
Quayle KS, Jaffe DM, Kuppermann N, et al. Diagnostic testing for acute head injury in children: When are head computed tomography and skull radiographs indicated? Pediatrics 1997; 99:E11. Disponível em: https://pediatrics.aappublications.org/content/99/5/e11.long
Na perspectiva do SUS e da APS, em especial visando a prevenção quaternária, é importante realizar a escolha e a indicação de exames de forma racional. Esses escores aqui apresentados demonstraram boa capacidade de auxiliar as decisões clínicas sobre a necessidade de realização de TC de crânio nos casos de TCE leve em crianças. No entanto, devido à alta sensibilidade e baixa especificidade dos escores, tais decisões também devem ser orientadas pela probabilidade pré-teste de cada caso (estimada de acordo com a presença ou não de sinais ou determinantes para preocupação com TCE2), devido ao alto risco de falso-positivos.