Quem tem alergia à proteína do leite de vaca pode tomar a mesma enzima que o intolerante à lactose?

| 31 maio 2016 | ID: sofs-23656
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , , ,
Graus da Evidência:

Não, pois a alergia à proteína do leite de vaca é diferente da intolerância à lactose e o seu tratamento também. A lactose é o que se conhece popularmente como o “açúcar do leite”. Ela é constituída pela união de uma molécula de glicose e uma molécula de galactose. A atividade enzimática da lactase quebra esta ligação, liberando a glicose e a galactose para absorção pelas células intestinais. A enzima lactase é adicionada ao leite e a produtos lácteos, ou administrada oralmente com as refeições, com o objetivo de prevenir os sintomas da intolerância à lactose em pessoas que apresentam deficiência da mesma. Esta enzima é disponível comercialmente na forma líquida e em cápsulas e tabletes, sendo a necessidade de uso e a respectiva dose, variáveis de acordo com o grau de intolerância à lactose e à quantidade de leite e/ou derivados ingeridos.


Complementação

A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é uma reação do sistema de defesa do organismo às proteínas do leite (caseína, alfa-lactoalbumina, beta-lactoglobulina). Já a intolerância à lactose é decorrente da dificuldade do organismo em digerir a lactose, devido à diminuição ou ausência de lactase, enzima que a digere.

APVL
Mais comum em crianças, especialmente em bebês (1).
Manifestações clínicas: Um ou mais dos seguintes sintomas: digestivos (vômitos, cólicas, diarreia, dor abdominal, prisão de ventre, presença de sangue nas fezes, refluxo, etc.), na pele (urticária, dermatite atópica de moderada a grave), respiratórios (asma, chiado no peito e rinite), reação anafilática, baixo ganho de peso e crescimento. Podem ocorrer em minutos, horas ou dias após a ingestão de leite de vaca ou derivados, de forma persistente ou repetitiva (2).
Tratamento: O único tratamento comprovadamente eficaz é a dieta isenta das proteínas do leite, pois ao deixar de consumir o alimento que causa a alergia o sistema de defesa da criança não irá produzir as células e anticorpos responsáveis pela reação alérgica, possibilitando a remissão dos sintomas e o desenvolvimento futuro da tolerância ao leite (1,2).

Intolerância à lactose
É mais comum em adultos e idosos (1). Também pode ser uma consequência, às vezes temporária, em casos de diarreia prolongada ou doenças inflamatórias intestinais.
Manifestações clínicas: Apenas intestinais: Diarreia, cólicas, gases, distensão abdominal (barriga estufada). Podem ocorrer em minutos ou horas após a ingestão do leite de vaca, ou de derivados do leite.
Tratamento: Inicialmente se recomenda evitar temporariamente leite e produtos lácteos da dieta para se obter remissão dos sintomas, reintroduzindo gradualmente de acordo com o limiar sintomático de cada indivíduo. Nesta fase, algumas medidas não farmacológicas podem auxiliar na elevação deste limiar e contribuir para adaptação à lactose, como por exemplo, a sua ingestão junto com outros alimentos, o seu fracionamento ao longo do dia e o consumo de produtos lácteos fermentados (3).
Caso estas medidas não funcionem para reduzir os sintomas de intolerância à lactose, medidas farmacológicas podem ser adotadas. Os preparados comerciais de lactase, quando adicionados a alimentos que contenham lactose ou ingeridos com refeições com lactose, são capazes de reduzir os sintomas em muitos indivíduos intolerantes à lactose (2,3). Entretanto, estes produtos não são capazes de hidrolisar completamente toda a lactose da dieta, e possuem resultados variáveis em cada paciente (3).

SOF Relacionadas:

1- Quais as orientações de enfermagem que podemos oferecer a uma mãe nos casos de intolerância a lactose e galactosemia?

2- Qual a diferença entre intolerância a lactose e alergia a leite?

Bibliografia Selecionada:

  1. Segunda Opinião Formativa (SOF). Qual a diferença entre intolerância a lactose e alergia a leite? 2016. Disponível em: <http://aps.bvs.br/aps/qual-a-diferenca-entre-intolerancia-a-lactose-e-alergia-a-leite/>. Acesso em: 13 maio 2016.
  2. GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti. Tratado de medicina da família e comunidade: princípios, formação e prática – Porto Alegre : Artmed, 2012. Disponível em: <http://goo.gl/1TDSCR>. Acesso em: 13 maio 2016.
  3. MATTAR, Rejane; MAZO, Daniel Ferraz de Campos. Intolerância à lactose: mudança de paradigmas com a biologia molecular. Rev Assoc Med Bras,  2010; 56(2): 230-236. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ramb/v56n2/a25v56n2.pdf>. Acesso em: 13 maio 2016.