Entre os hábitos de vida, a alimentação ocupa um papel de destaque no tratamento e na prevenção da hipertensão arterial sistêmica. Uma alimentação inadequada está associada de forma indireta a um maior risco de desenvolvimento de problemas no coração, podendo também predispor a outros fatores de risco como obesidade e dislipidemia (aumento do colesterol e/ou dos triglicerídeos). Várias modificações dietéticas demonstram benefícios sobre a pressão arterial, como a redução da ingestão de sal e álcool e a redução do peso (1,2).
Padrões de alimentação estão mudando rapidamente na grande maioria dos países e, em particular, naqueles economicamente emergentes. As principais mudanças envolvem a substituição de alimentos in natura (que são os alimentos obtidos diretamente de plantas ou de animais) ou minimamente processados de origem vegetal (arroz, feijão, mandioca, batata, legumes e verduras) e preparações culinárias à base desses alimentos por produtos industrializados prontos para consumo. Essas transformações, observadas com grande intensidade no Brasil, determinam, entre outras consequências, o desequilíbrio na oferta de nutrientes e a ingestão excessiva de calorias (3).
Uma alimentação saudável é aquela que reúne os seguintes atributos: é acessível e não é cara, valoriza a variedade, as preparações alimentares usadas tradicionalmente, é harmônica em quantidade e qualidade, naturalmente colorida e segura sanitariamente (4). De forma geral, todas as pessoas se beneficiam de orientações nutricionais que possam melhorar sua qualidade de vida, e de certa maneira, prevenir doenças.
É conhecido de todos os males do excesso de sal na alimentação. A restrição de sal na dieta é uma medida recomendada não apenas para hipertensos, mas para a população de modo geral, visto que estudos apontam que o brasileiro, assim como boa parte da população mundial, consome o dobro da quantidade máxima de sal recomendada. Na maioria dos países, a principal fonte de sódio são os alimentos industrializados e condimentos a base de sal colocados na comida (2).
Algumas orientações nutricionais bastante práticas podem ser fornecidas ao paciente hipertenso ou com pressão arterial limítrofe (em risco para desenvolver hipertensão). São elas (2,3,5):
1. Procurar usar o mínimo de sal no preparo dos alimentos. Recomenda-se para indivíduos hipertensos 4 g de sal por dia (o equivalente a uma colher de chá), considerando todas as refeições (Grau de recomendação B).
2. Para não exagerar no consumo de sal, evitar deixar o saleiro na mesa. A comida já contém o sal necessário!
3. Ler sempre o rótulo dos alimentos industrializados antes de comprá-los, atentando para a quantidade de sódio presente (limite diário: 2.000 mg de sódio).
4. No preparo das refeições, procurar usar temperos naturais como alho, cebola, limão, cebolinha, salsinha, açafrão, coentro, orégano, manjericão, coentro, cominho, páprica, sálvia, entre outros. O uso desses temperos naturais realça o gosto dos alimentos e ajudam a reduzir o uso de sal.
Evitar o uso de temperos prontos, como caldos de carnes e de legumes, pois estes contêm muito sódio. Atenção também para o aditivo glutamato monossódico, utilizado em alguns condimentos e nas sopas industrializadas, pois esses alimentos, em geral, também são ricos em sódio, e devem ser evitados.
5. Alimentos industrializados, como macarrão instantâneo (o popular “miojo”), embutidos (salsicha, salame, presunto, linguiça e hambúrguer), enlatados/em conserva (milho, palmito, ervilha, azeitona etc.), molhos (ketchup, mostarda, maionese etc.) e carnes salgadas (bacalhau, charque, carne seca e defumados) devem ser evitados, porque são ricos em gordura e sal.
Se consumidos, o ideal é que seja em pequenas quantidades, como ingredientes de preparações culinárias ou como parte de refeições baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados.
6. Diminuir o consumo de gordura. Usar óleo vegetal com moderação e dar preferência a alimentos cozidos, assados e/ou grelhados.
Óleos vegetais (como os de soja, milho, girassol ou oliva) e gorduras (como a manteiga e a gordura de coco) são produtos alimentícios que contêm elevada quantidade de calorias, além de serem ricos em gorduras saturadas. Quando utilizados com moderação e apropriadamente combinados com alimentos in natura ou minimamente processados, permitem a criação de preparações culinárias variadas, saborosas e ainda nutricionalmente balanceadas.
7. Procurar evitar a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas e o uso de cigarros, pois eles contribuem para a elevação da pressão arterial.
O fumo é um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças do coração, e no caso de pacientes hipertensos, o cigarro aumenta a resistência às medicações anti-hipertensivas, fazendo com que elas funcionem menos que o esperado.
O hábito de fumar está relacionado com várias doenças: 30% de todos os casos de câncer (boca e cavidade oral, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, intestino, reto, fígado e vias biliares, rins, bexiga, colo de útero, vulva), 90% dos casos de câncer de pulmão, 75% dos casos de bronquite crônica e enfisema pulmonar, 25% dos casos de doenças cardíacas e cerebrovasculares (infartos e acidentes vasculares cerebrais).
8. Consumir diariamente pelo menos três porções de frutas e hortaliças (uma porção = 1 laranja média, 1 maçã média ou 1 fatia média de abacaxi). Dar preferência a alimentos integrais como pães, cereais e massas (em relação aos pães e massas de “farinha branca”), pois são ricos em fibras, vitaminas e minerais.
9. Procurar fazer atividade física.
A atividade física auxilia no controle dos níveis de pressão arterial, glicemia e na manutenção do peso corporal. Deve ser praticada, idealmente, por 30 minutos diários.
10. Manter o seu peso saudável, pois seu excesso contribui para o desenvolvimento da hipertensão arterial.
A diminuição de 5% – 10% do peso corporal inicial já é suficiente para reduzir a pressão arterial (Grau de Recomendação A).
A incorporação e a consolidação dos novos hábitos alimentares no dia a dia não ocorrem rapidamente e, mesmo após a obtenção da meta final pactuada, é importante que esse aspecto do tratamento seja observado durante o processo de acompanhamento clínico da pessoa portadora de hipertensão arterial sistêmica, ao longo do tempo, pela equipe de Saúde (5).
ATRIBUTOS APS
Pessoas com excesso de peso, alimentação inadequada (rica em gorduras, excesso de sal, baixo consumo de frutas, verduras e legumes), que consomem muito sal e bebida alcoólica, fumantes, que não praticam atividade física regularmente, diabéticas e que têm familiares hipertensos têm maior risco para o desenvolvimento de hipertensão arterial sistêmica (4).
A educação nutricional deve desenvolver-se rumo a estratégias mais saudáveis de viver, auxiliando esses indivíduos na superação de mitos e crenças, no desenvolvimento de atitudes ativas à saúde, e na mudança de padrões comportamentais nocivos construídos ao longo do tempo. A participação da família nas mudanças da rotina diária do núcleo familiar, sobretudo em relação à alimentação, tem papel de fundamental importância para viabilizar a adesão ao tratamento não medicamentoso da hipertensão arterial sistêmica (6).
O Agente Comunitário de Saúde pode atuar tanto junto aqueles sem diagnóstico de hipertensão, mas com fatores de risco, como aos pacientes já hipertensos:
1ª) Junto às pessoas que não têm o diagnóstico de hipertensão, mas possuem os fatores de risco (4,7):
• Estimular a adoção de hábitos alimentares saudáveis, com baixo teor de sal, baseados em frutas, verduras, derivados de leite desnatado;
• Orientar a redução do consumo de bebidas alcoólicas ou seu abandono;
• Estimular a realização de atividades físicas regulares a serem iniciadas de forma gradativa;
• Verificar regularmente a pressão arterial;
• Orientar para o agendamento de consulta na UBS.
2ª) Em relação às pessoas, com diagnóstico de hipertensão (4,7):
• Identificar os hipertensos de sua área de atuação e preencher a ficha B-HA do SIAB (Sistema de Informação de Atenção Básica);
• Verificar o comparecimento às consultas agendadas na UBS;
• Realizar busca ativa dos faltosos;
• Perguntar, sempre, à pessoa com hipertensão e que tenha medicamentos prescritos se está os tomando com regularidade. Se houver dificuldades nesse processo, informar à equipe quais são e planejar ações de enfrentamento;
• Estimular o desenvolvimento de hábitos de vida saudável: se está cumprindo as orientações de dieta, atividade física, controle de peso, se reduziu ou parou de fumar e de consumir bebidas alcoólicas;
• Estimular a adoção de hábitos alimentares saudáveis, com baixo teor de sal, baseados em frutas, verduras, derivados de leite desnatado;
• Orientar a redução do consumo de bebidas alcoólicas ou seu abandono;
• Orientar sobre a importância da adesão ao tratamento e seguir as orientações da equipe de saúde;
• Estimular a realização de atividades físicas regulares;
• Fazer acompanhamento da pressão arterial conforme orientação da equipe de saúde.
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. (Cadernos de Atenção Básica, n. 37). Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_37.pdf
2. Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de Hipertensão / Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol 2010; 95(1 supl.1): 1-51. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2010/Diretriz_hipertensao_associados.pdf
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. 156 p. : il. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira.pdf
4. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia prático do agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/guia_acs.pdf
5. BRASIL. Ministério da Saúde. Estratégia para o cuidado da pessoa com doença crônica. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. (Cadernos de Atenção Básica, n. 35). Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_35.pdf
6. Equipe Telessaúde Rio Grande do Sul. Segunda Opinião Formativa: Quais orientações o Agente Comunitário de Saúde deve repassar aos pacientes com HAS?. 2009. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/quais-orientacoes-o-agente-comunitario-de-saude-deve-repassar-aos-pacientes-com-has/
7. Ribeiro Amanda Gomes, Cotta Rosângela Minardi Mitre, Silva Luciana Saraiva da, Ribeiro Sônia Machado Rocha, Dias Cristina Maria Ganns Chaves, Mitre Sandra Minardi et al . Hipertensão arterial e orientação domiciliar: o papel estratégico da saúde da família. Rev. Nutr. [Internet]. 2012 Apr [cited 2015 May 31] ; 25( 2 ): 271-282. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732012000200009&lng=en.