As medidas preventivas mais eficazes contra a gripe são limpeza das mãos e comportamentos que auxiliem o bom funcionamento do sistema imunológico, algo que está atrelado a bom sono, harmonia da energia mental, alimentação equilibrada e atividade física regular, entre outras práticas saudáveis.1 Os indivíduos infectados devem ser orientados sobre medidas gerais para evitar a propagação da doença, como cobrir nariz e boca ao espirrar ou tossir, além de evitar aglomerações e ambientes pouco ventilados.2
No tratamento, a maioria dos casos se beneficiará apenas de alívio sintomático e repouso relativo, haja vista serem autolimitados os casos de gripe. Um pequeno percentual de indivíduos, que pode desenvolver síndrome respiratória aguda grave em decorrência do vírus da gripe, demandará medidas terapêuticas intensivas, ou seja, suporte clínico hospitalar. Medicamentos antivirais como o oseltamivir (Tamiflu®) e a vacina contra a gripe têm pouca ou nenhuma utilidade na prevenção e no tratamento dessa doença.1,3,4,5,6
Se a gripe ocorrer, é preciso lembrar que, na maioria dos casos, ela é uma doença autolimitada, da qual nos curamos em poucos dias. Caso aconteçam sintomas muito desconfortáveis, ou simplesmente se a pessoa acometida tem dúvidas sobre sua situação, uma consulta médica será útil para que o profissional de saúde investigue a presença de um quadro clínico de síndrome respiratória aguda grave,2 situação sabidamente rara.3,4,5
Para o tratamento da gripe comum, as melhores medidas são simples: repouso relativo, aumento da ingestão hídrica, incluindo chás quentes, além de medicamentos para alívio sintomático, especialmente soluções fisiológicas nasais e comprimidos analgésicos,2 estes sempre utilizados com parcimônia e pelo menor período necessário. É sensato evitar os “combos antigripais” vendidos de forma livre e imprudente nas farmácias, pois habitualmente eles são associações de substâncias cujos efeitos sintomáticos são efêmeros, às vezes não comprovados, e não desprovidos de riscos e custos.7
Além disso, é importante haver clareza de que a gripe provocada pelo vírus influenza (em seus diversos subtipos, incluso o H1N1) pode provocar mortes, mas eventos fatais ocorrem em pequeno percentual, pouco maior que 1% dos casos. Óbitos por essa doença, portanto, são eventos raros.3,4,5 Apesar desta constatação, não é incomum as pessoas temerem excessivamente a gripe, embaladas por informações sem embasamento científico consistente e divulgadas amplamente nos meios de comunicação.
No Brasil, o Ministério da Saúde publicou um fluxograma8 recomendando uma abordagem questionável para casos suspeitos de gripe. Por exemplo, recomenda-se que, durante um quadro clínico compatível com síndrome gripal aguda, independente da presença de sinais de gravidade e do status vacinal, a prescrição de oseltamivir seja feita a todas as pessoas com fatores de risco. Também é recomendada sua prescrição em casos com sinais de piora do quadro clínico.
Nesse mesmo fluxograma8, tem-se a seguinte definição de síndrome gripal aguda: na ausência de outro diagnóstico específico, deve ser considerada para o paciente que se apresenta com febre, de início súbito, mesmo que referida, acompanhada de tosse ou dor de garganta, e dor muscular, dor de cabeça ou dor nas articulações (basta um destes três últimos sintomas). Em crianças com menos de 2 anos de idade recomenda-se considerar síndrome gripal aguda, também na ausência de outro diagnóstico específico, naquelas que se apresentam com febre de início súbito, mesmo que referida, e os seguintes sintomas respiratórios: tosse, coriza e obstrução nasal.
Entretanto, os benefícios do oseltamivir (e também sobre seu semelhante denominado zanamivir) parecem ser poucos. Em estudos de profilaxia comprovou-se que esse medicamento reduz a proporção de influenza sintomática. Em estudos de tratamento o oseltamivir mostrou-se capaz de reduzir, não mais que modestamente, o tempo necessário para obtenção do alívio dos sintomas gripais.3,4 Ressalta-se, no entanto, que tal alívio, além de modesto, pode custar ao paciente outros sintomas, a saber, nauseas e vômitos, bem como aumentar o risco de dores de cabeça e síndromes psiquiátricas e renais, potencias efeitos adversos da medicação em pauta.3,6
Além disso, a evidência de que o oseltamivir tenha efeitos clinicamente significativos sobre complicações da gripe e sobre a transmissão viral é limitada. Em adição ao fator raridade no tocante às complicações relacionadas ao vírus da gripe, algo que torna difícil estuda-las, salienta-se que há problemas nos desenhos metodológicos dos estudos com a referida medicação. Deste modo, o balanço entre os eventuais benefícios e os danos deveria ser considerado para que se utilize o oseltamivir, seja para tratamento, profilaxia ou estocagem.3,4
Uma revisão conduzida pela Cochrane e pelo British Medical Journal (BMJ) recomenda que sejam revistas as orientações sobre o uso de ambos os inibidores da neuraminidase (oseltamivir e zanamivir), na prevenção ou no tratamento da gripe, levando em conta a evidência de pequeno benefício e maior risco de danos pelo uso dessas drogas.4
Em relação à vacina contra a gripe, a imunidade proporcionada por ela é tão pobre que não dura sequer um ano; essa vacina pode ser considerada uma imitação ruim da imunidade natural.1 Um artigo do BMJ, publicado em 2013, intitulado “Influenza: marketing vaccine by marketing disease”5 (traduzindo: propaganda de vacina pela propaganda da doença) já alertava sobre a promoção inadvertida de vacinas contra a gripe, mostrando que o alarde sobre às vezes excessivo sobre o vírus Influenza não é uma particularidade do Brasil:
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