Quando solicitar Eletrocardiograma na avaliação médica para a prática de exercício físico?

| 3 dezembro 2015 | ID: sofs-21753
Solicitante:
CIAP2: ,
DeCS/MeSH: , ,
Graus da Evidência:

Tanto para adultos quanto para crianças e adolescentes, o ponto mais importante de cada avaliação médica com a finalidade em questão é fundamentá-la em anamnese detalhada e exame clínico minucioso (Recomendação Classe I), a partir dos quais o médico deve optar se o Eletrocardiograma (ECG) e outros exames complementares serão úteis ou não na busca por problemas que poderiam se tornar mais perigosos à saúde dos indivíduos que se submetem aos exercícios físicos.

ECG na avaliação para a prática de exercícios físicos em indivíduos saudáveis
– Crianças e adolescentes não participantes de treinamento organizado e competitivo — Facultativo
– Crianças e adolescentes (5 a 18 anos) em início de treinamento organizado e competitivo — Recomendado (Evidência grau A)
– Homens < 45 anos e mulheres < 55 anos do grupo esportista — Facultativo
– Homens > 44 anos e mulheres > 54 anos do grupo esportista — Recomendado
– Indivíduos do grupo atleta — Recomendado

O ECG pode ser útil para o rastreamento de problemas cardiovasculares. Para decidir sobre sua solicitação, é importante, a priori, saber se o indivíduo avaliado faz ou fará parte de grupo esportista ou de grupo atleta. No grupo esportista se incluem adultos que praticam atividades físicas e esportivas regularmente, de moderada a alta intensidade, competindo eventualmente, porém sem vínculo esportivo profissional. O grupo atleta é composto por indivíduos que praticam tais atividades com muita frequência, competindo sistematicamente, com vínculo profissional com o esporte1.


Entre crianças e adolescentes, em termos de intensidade e gastos energéticos dos exercícios, é muito difícil diferenciar entre atletas e não atletas, em virtude de ser bastante variável a prática de atividade física das pessoas nessa faixa etária; muitas vezes elas se engajam em esportes recreativos que podem atingir intensidade moderada a alta. Assim, entende-se que não cabe diferenciar crianças e adolescentes entre esportistas ou atletas1.

A indicação do eletrocardiograma para indivíduos jovens, sem histórico de doença cardiovascular e assintomáticos do grupo esportista, sem achados no exame físico, é controversa. Também não há uma definição clara acerca da indicação desse exame para crianças e adolescentes nessa condição clínica. Portanto, a requisição do eletrocardiograma para esses grupos seria facultativa. Exceção se faz às crianças e adolescentes de 5 a 18 anos em início de treinamento organizado e competitivo em escolas esportivas, academias e clubes, casos em que o eletrocardiograma deve ser solicitado (Recomendação Classe I, Nível de evidência A)1.

Dentro do grupo esportista, para os indivíduos em idade de maior risco cardiovascular (mulheres acima de 54 anos e homens acima de 44 anos), mesmo se assintomáticos e/ou sem doença cardiovascular previamente conhecida, o eletrocardiograma de repouso é mandatório; some-se a esse risco a ampla disponibilidade e o baixo custo do método1.

O eletrocardiograma deve ser solicitado para todos os indivíduos pertencentes ao grupo atleta, pois é sabido que a prática esportiva promove alterações morfofuncionais no coração, relacionadas a tempo e intensidade do treinamento. Tais alterações, por exemplo, sobrecarga ventricular e alguns distúrbios do ritmo e da condução atrioventricular, são demonstráveis ao eletrocardiograma de repouso. Ao se analisar o exame de um atleta, o principal objetivo é distinguir alterações fisiológicas e patológicas no ECG; estas aumentam o risco de morte súbita no esporte, enquanto aquelas não devem causar alarme1,2.

Embora seja importante que indivíduos adultos se submetam a uma avaliação médica antes da participação em um programa de exercícios com atividades moderadas e vigorosas, a medicina não deve impedir a adoção de um estilo de vida mais ativo pelos indivíduos em geral, considerando seus inúmeros benefícios à saúde. Especificamente para a população com idade entre 15 a 69 anos, antes de se começar um programa de baixa a moderada atividade física, a aplicação do Questionário de Prontidão para a Atividade Física (PAR-Q) é uma ferramenta simples e bem validada para verificar se há necessidade de uma avaliação mais extensa por profissional médico3.

Bibliografia Selecionada:

1. Ghorayeb N, Costa RVC, Castro I, Daher DJ, Oliveira Filho JA, Oliveira MAB et al. Diretriz em Cardiologia do Esporte e do Exercício da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Arq Bras Cardiol. 2013;100(1Supl.2):1-41.

2. Mezzani A, Agostoni P, Cohen-Solal A, Corrà U, Jegier A, Kouidri E, et al. Standards for the use of cardiopulmonary exercise testing for the functional evaluation of cardiac patients: a report from the Exercise Physiology Section of the European Association for Cardiovascular Prevention and Rehabilitation. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 2009;16(3):249-67.

3. Pinto MEB, Demarzo MMP. Orientação à atividade física. In: Gusso G, Lopes JMC (Org.). Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princípios, Formação e Prática. Porto Alegre: Artmed; 2012.p. 564-579.