Quando iniciamos a insulinoterapia, é melhor uma dose noturna de NPH, pois há melhora do controle glicêmico por inibir a gliconeogênese hepática?

| 8 agosto 2013 | ID: sofs-5483
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Doses de insulina noturna superiores a 30U (1) e a falta de controle adequado com a insulina noturna (HbA1C > 7%) usada em associação com hipoglicemiante oral (metformina), afastados problemas de adesão ao plano alimentar e à atividade física, podem requerer esquemas mais complexos de insulinização.(1,2) Ocorrência de hipoglicemia também justificam mudanças no horário de administração ou fracionamento.
A insulina NPH (neutral protamine Hagedorn) tem duração de ação intermediária (pico em 6 a 12h e duração usual 16 a 20h) e por esse motivo é utilizada 1 ou 2 vezes por dia (noite/antes do desjejum) para manter níveis basais de insulina. Insulinas de ação curta (por exemplo regular) podem ser utilizadas antes das refeições no manejo da hiperglicemia pós-prandial.
O efeito fisiológico primário da insulina é o aumento da disponibilidade de glicose em tecidos-alvo (principalmente músculos esqueléticos) e a redução da produção hepática de glicose em estados de jejum. (3)
A insulina aplicada à noite inibe a produção hepática de glicose, reduzindo a glicemia de jejum e, consequentemente, o perfil glicêmico das 24 horas. (2)
Ao invés de recomendar algoritmos específicos para o manejo da hiperglicemia, as últimas diretrizes da American Diabetes Association / European Association for the Study of Diabetes são menos prescritivas e mais centradas no paciente, exatamente como espera-se da prática em Atenção Primária à Saúde (APS). As recomendações devem ser adaptadas às necessidades, preferências e tolerâncias individuais do paciente e baseadas em diferenças de idade e curso da doença. Outros fatores que interferem na definição do plano de tratamento individual incluem sintomas específicos, comorbidades, peso, raça/etnia, sexo e estilo de vida. A escassez de bons estudos comparando as diferentes estratégias de tratamento da hiperglicemia motivou a mudança de postura das referidas associações.
Esquemas de insulina com mais de uma aplicação diária requerem auto monitoramento da glicemia capilar e variam de acordo com os tipos de insulina utilizadas. A prescrição de tais tratamentos pode ser realizado no contexto da APS, desde que o profissional tenha capacitação e experiência para tal. De outra forma, o manejo deve ser compartilhado com especialista focal.
Aspectos chave no tratamento da hiperglicemia (3):


O diabetes é uma doença crônica. Seu manejo pode ser otimizado pelo acompanhamento regular pela mesma equipe de saúde (LONGITUDINALIDADE). É através deste acompanhamento que é possível fazer ajustes no tratamento, verificar adesão ao tratamento (medicamentoso e não-medicamentoso) e identificar possíveis complicações. A presença da figura do médico clínico de referência continua sendo fundamental mesmo quando a pessoa é encaminhada ao especialista. O cuidado com as interações medicamentosas, monitoração do tratamento, impacto da doença e suas complicações sobre as atividades cotidianas, atividade profissional e estado psico afetivo devem ser considerados (INTEGRALIDADE/COORDENAÇÃO DO CUIDADO).

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Bibliografia Selecionada:

  1. Ministério da Saúde. Diabetes Mellitus (Cadernos de Atenção Básica n.º 16). Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica, 2006. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad16.pdf Acesso em: 8 ago 2013.
  2. Chazan ACS, Winck K. Diabetes tipo 1 e 2. In: Gusso G, Lopes JMC, eds. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. Porto Alegre: Artmed, 2012.
  3. Inzucchi SE, Bergenstal RM, Buse JB, et al. Management of hyperglycemia in type 2 diabetes: A patient-centered approach. Position statement of the American Diabetes Association (ADA) and the European Association for the Study of Diabetes (EASD). Diabetes Care 2012; DOI:10.2337/dc12-0413. Disponível em: http://care.diabetesjournals.org/content/early/2012/04/17/dc12-0413.full.pdf Acesso em: 8 ago 2013.
  4. Duncan BB, Schmidt MI, Giugliani ERJ. Medicina ambulatorial: condutas em Atenção Primária à Saúde Baseadas em Evidências. Artmed. 3ed. Porto Alegre, 2004. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=4HZQBAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT127&dq=Medicina+ambulatorial:+condutas+em+Aten%C3%A7%C3%A3o+Prim%C3%A1ria+%C3%A0+Sa%C3%BAde+Baseadas+em+Evid%C3%AAncias&ots=mqnByPBwCb&sig=Gypkn31iJiGjTueOAnzbEjqSGFI#v=onepage&q=Medicina%20ambulatorial%3A%20condutas%20em%20Aten%C3%A7%C3%A3o%20Prim%C3%A1ria%20%C3%A0%20Sa%C3%BAde%20Baseadas%20em%20Evid%C3%AAncias&f=false Acesso em: 8 ago 2013.
  5. Starfield, Barbara. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília : UNESCO, Ministério da Saúde, 2002. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_primaria_p1.pdf Acesso em: 8 ago 2013.