Qual tratamento das lesões que acometem o manguito rotador?

| 23 dezembro 2022 | ID: sofs-45229
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH:

Tratamento conservador é indicado nas tendinopatias, roturas parciais e nas roturas totais completas em pacientes com baixa demanda funcional ou sem condições clínicas para cirurgia. No caso do insucesso deve-se indicar o tratamento cirúrgico.
Tratamento conservador
1)Retirar os fatores de risco causadores da rotura (evitar esforço com o membro superior elevado): Substituição de atividades que utilizem o membro superior acima de 90°, suspensão das atividades repetitivas, uso de gelo (fase aguda) e calor (após a fase aguda) e métodos fisioterapêuticos de calor (ultrassom, laser, ondas curtas, etc.) são indicados. A acupuntura pode auxiliar no alívio imediato da dor, mas o retorno do quadro álgico se dá tão logo seja descontinuada, caso não seja acompanhada de outros métodos de reequilíbrio muscular
2)Analgesia e medidas anti-inflamatórias: uso de analgésicos simples ou opioides; utilização de anti-inflamatório não esteroide; uso de anti-inflamatórios por via sistêmica (intramuscular); fisioterapia; e acupuntura
3)Restabelecimento da amplitude de movimentos articulares (exercícios ativos e passivos). Alongamento capsular. Sabe-se que a retração capsular, mesmo em pequenas proporções, produz aumento do impacto entre o tubérculo maior e o acrômio anterior, pela alteração das forças que elevam o membro superior. O retorno da mobilidade passiva e ativa completa, com elevação de 180°, rotação externa de 90° e rotação interna ao nível de T8, determina, per se, alívio dos sintomas dolorosos
4) Fortalecimento do Manguito Rotador (MR) para restaurar o mecanismo depressor da cabeça do úmero (exercícios isométricos, isotônicos e de coordenação motora). Reforço muscular: Exercícios isométricos e de contra resistência de músculos que estão localizados abaixo do centro de rotação da articulação estão indicados após a obtenção de articulação indolor e com mobilidade articular completa. Esse grupo de músculos é formado por rotadores internos e externos e pela musculatura ao redor da escápula (serrátil anterior, romboides, levantador da escápula e grande dorsal). A biomecânica demonstra que o reforço desses grupos musculares possibilita que a cabeça do úmero se afaste dinamicamente do acrômio, aliviando o fenômeno de compressão. Um dos exercícios mais importantes para tal objetivo é o popular “serrote”, em que o paciente imita o ato de serrar, com peso de 2 a 4 kg na mão. Esse movimento faz com que a musculatura escapular trabalhe com melhor tonicidade, permitindo completa rotação da escápula no momento da elevação do membro superior, o que possibilita que o acrômio também se incline, diminuindo a maior parte do impacto com o tubérculo maior. O deltoide e todo o manguito rotador devem, também, secundariamente, ser reforçados. O tratamento conservador deve ser mantido por um período de no mínimo 3 meses, podendo ser prolongado na dependência da melhora clínica.
Tratamento cirúrgico O tratamento cirúrgico é indicado nas lesões parciais (não-transfixantes) nos casos de insucesso do tratamento conservador, bem conduzido e por um período suficiente (geralmente de três a seis meses).  O tratamento cirúrgico como primeira indicação para lesões completas (transfixantes), do supraespinal ou do subescapular, ou ainda aqueles com uma ruptura crônica, mas com disfunção recente do ombro, em indivíduos até 60 anos. As lesões maciças podem ser definidas de duas maneiras: aquelas que têm o diâmetro maior que 5cm ou aquelas com rupturas completas de dois ou mais tendões.  As lesões maciças não significam, necessariamente, irreparabilidade também tem como primeira opção o tratamento cirúrgico.        

O MR é constituído pelos músculos subescapular, supraespinhal, infraespinhal, redondo menor e pela convergência dos seus tendões. Tem como função auxiliar na mobilidade e proporcionar estabilidade dinâmica ao ombro, através da centralização da cabeça do úmero durante o movimento e da compressão da cabeça do úmero na glenoide.

As lesões constituem uma causa frequente de dor no ombro em pessoas de todas as idades. Essa condição patológica representa um espectro de doenças, que varia de uma tendinite aguda reversível até uma lesão maciça envolvendo todos os seus componentes. Em estudo (Radins et als, 2021) se observou correlação estatisticamente significativa entre o envelhecimento e o surgimento dos diferentes tipos de lesão do manguito. As rupturas parciais foram mais comumente encontradas do que as rupturas totais.

Lesão do MR em pacientes com tendões previamente saudáveis ocorre especialmente por ação traumática, sendo essa a principal causa de lesão em pacientes jovens. Lesões não traumáticas, decorrentes da degeneração de longa data e do uso exorbitante, são causas frequentes em idosos.

A dor é o principal sintoma e se localiza na região ântero-lateral do ombro e face lateral do braço e sua intensidade é variável. A maioria dos pacientes se queixa de dor noturna e dificuldade ou incapacidade de deitar-se sobre o lado afetado, sendo este um aspecto muito característico. O tempo de evolução dos sintomas e suas características, o tipo de ocupação profissional ou de prática esportiva, a história de um ou mais eventos traumáticos e tratamentos prévios (fisioterapia, infiltrações etc.), a dominância, a idade e o sexo são informações valiosas.

No exame físico são pesquisadas assimetrias das cinturas escapulares, atrofias das fossas supra e infraespinais, cicatrizes e deformidades da coluna cervicotorácica. A mensuração das amplitudes ativas e passivas dos ombros é imprescindível para a diferenciação com outras lesões (capsulite adesiva, artrose glenoumeral, …). A presença de crepitações à rotação passiva do ombro, muitas vezes dolorosa, é também bastante sugestiva e característica. Algumas manobras permitem avaliar componentes específicos do manguito rotador como a de Neer para verificar a irritação do manguito rotador, teste de Jobe para sinalizar lesões específicas no supraespinhoso.

As radiografias simples do ombro, embora não permitam a visualização das lesões, podem mostrar sinais indiretos importantes. A ultrassonografia é um método barato, não invasivo e eficaz. Tem a desvantagem de não permitir a avaliação quantitativa fidedigna do manguito rotador remanescente e de ser operador-dependente. A ressonância magnética é considerada como método mais acurado, podendo acurar o grau de degeneração gordurosa que é um fator prognóstico importante.

Os riscos e benefícios do tratamento cirúrgico e não-cirúrgico devem ser considerados e discutidos com o paciente. O tratamento conservador oferece a vantagem de evitar a cirurgia e as suas complicações inerentes (infecção, lesões nervosas e do deltoide). Suas desvantagens: possibilidade de recorrência dos sintomas e, mais importante, o agravamento da lesão e alterações degenerativas crônicas (atrofia, degeneração gordurosa e retração dos tendões) que poderiam complicar um eventual tratamento cirúrgico futuro e influenciar negativamente na qualidade de seu resultado. O tratamento cirúrgico oferece a possibilidade de alívio da dor e, possivelmente, a prevenção de alterações crônicas, mas a primeira escolha é o tratamento conservador.
Em oito revisões sistemáticas Cochrane que avaliaram tratamentos conservadores e cirúrgicos para disfunções do manguito rotador sugeriram que exercícios de fortalecimento com ou sem técnicas associadas de terapia manual e uso de recursos eletrotérmicos ou fototerapêuticos foram as intervenções com maior poder de tratamento para indivíduos com essa condição, a médio e longo prazo. Essas abordagens tinham maior poder terapêutico do que os procedimentos cirúrgicos, que antes eram considerados o tratamento padrão para muitos pacientes.É fundamental na lesão do manguito o ganho de mobilidade e do alongamento, e posteriormente fortalecimento muscular (mesmo com rotura), pois o não restabelecimento irá com o tempo somente piorar os sintomas.

Bibliografia Selecionada:

1. Radins RB, Klueger PA, Kock KS. Prevalência de lesões de manguito rotador em laudos de ressonância magnética de ombro em uma clínica ortopédica do sul de Santa Catarina. Revista da AMRIGS, 2021;65(3):1-6. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2022/05/1370032/ao-23511.pdf [Acesso: 05/12/2022]

2. Franco ESB, Puga MES, Imoto AM, et als. What do Cochrane Systematic Reviews say about conservative and surgical therapeutic interventions for treating rotator cuff disease? Synthesis of evidence. São Paulo Med. J, 2019;137(6):543-549. Disponível em: https://www.scielo.br/j/spmj/a/LsfMKgxwjQ5LW4KQ7fCZzJb/?format=pdf&lang=en [Acesso: 05/12/2022]

3. Maeda EY, Helfenstein Jr. M, Ascencio JEB, Feldman D. O ombro em uma linha de produção: estudo clínico e ultrassonográfico. Rev. Bras. Reumatol, 2009;9(4):375-386. Disponível:  https://www.scielo.br/j/rbr/a/XxYVhB5QxbYgm93LHrSjGhD/?lang=pt [Acesso: 05/12/2022]