Qual relação entre doença periodontal e doenças cardiovasculares? Qual a importância do tratamento periodontal em cardiopatas?

| 25 agosto 2010 | ID: sofs-5084
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

As doenças cardiovasculares (DCV) e periodontais (DP) têm em comum uma base genética de suscetibilidade e importantes componentes comportamentais, como os hábitos relacionados à dieta, higiene e prática de tabagismo, dentre outros. Ambas aumentam com o progredir da idade, ocorrem com maior freqüência em pessoas com baixo nível socioeconômico e cultural, no gênero masculino, em diabéticos, em indivíduos com quadros de estresse psíquico e com importante predisposição genética. (1). Vários estudos têm demonstrado associação entre DCV e DP. Estudos realizados nas últimas décadas mostram que portadores de DP grave apresentam risco de morbidade e mortalidade maior para DCV quando comparados com portadores da forma leve de DP, mesmo em presença de outros fatores. Observaram também que pessoas com idade inferior a cinqüenta anos e DP grave possuem probabilidade de desenvolver DCV no futuro (1). Em uma revisão da literatura VETTORE (2004) conclui que a DP parece estar associada com um aumento de 19% no risco de DCV futuras (2).
Existem 4 linhas de investigação que tentam elucidar a relação entre DP e DCV (3):

  1. A primeira acredita que há uma ação direta dos microorganismos periodontais. O principal fator responsável pela maioria dos casos de DCV é a Aterosclerose. Trata-se de uma doença vascular progressiva caracterizada por um espessamento da camada subíntima de artérias musculares de médio calibre e grandes artérias elásticas. Vários agentes patógenos periodontais foram detectados em placas de ateroma, tais como Porphyromonas gengivalis, Prevotella intermedia, Tannerella forsythensis e o Actinobacillus actinomycetemcomitans.
  2. São muitos os investigadores que apóiam a hipótese de serem os fenômenos imunológicos a estabelecerem a ponte entre as infecções periodontais e a ocorrência de fenômenos trombo-embólicos. Quando há uma infecção crônica na cavidade oral, constantemente são lançados produtos bacterianos na circulação, como as endotoxinas. Estas estimulam o sistema imune liberar uma série de citocinas inflamatórias que por sua vez vão influenciar a formação de ateromas.
  3. Uma das teorias sugere que existe um mecanismo genético comum que estabelece a ligação entre a periodontite e a aterosclerose.
  4. Alguns autores acreditam que a periodontite possa induzir uma hiperlipidemia, favorecendo o aumento dos níveis de triglicerídeos séricos, colesterol total e LDL.

O tratamento periodontal de pacientes cardiopatas é de fundamental importância. De acordo com a Academia Americana de Periodontia (4) o tratamento periodontal pode prevenir o começo e progressão de arteriosclerose, sendo que há uma forte e consistente associação entre DP e DCV. Apesar de trabalhos sugerirem uma relação entre as DP e as patologias cardiovasculares, estes estudos não são satisfatórios para afirmar a existência de uma relação de causa/efeito entre as duas. Apesar de estar bem documentada a associação estatística entre as duas patologias, não está ainda determinado, com exatidão, o mecanismo biológico que as relaciona. (3)Importante também destacar a associação entre a DP e o Diabetes mellitus (DM), sendo que o distúrbio metabólico é um importante fator de risco para a ocorrência de doença cardíaca. De acordo com a Organização Mundial da Saúde a DP é considerada a sexta complicação crônica do DM. Estudos têm demonstrado que pacientes com DM tipo 1 com pobre controle metabólico têm doença periodontal mais extensa e grave do que os pacientes que mantêm um controle rigoroso da sua glicemia. Poucos estudos têm sido realizados em pacientes com DM tipo 2, mas tem sido demonstrado que esses pacientes têm três vezes mais probabilidade de desenvolver doença periodontal que as pessoas sem DM (5, 6). Ainda mais, tem sido demonstrado que as infecções dentárias, como a DP, em pacientes com DM podem agravar problemas com o controle metabólico. Há evidências de que o controle das infecções periodontais no paciente com diabetes mal controlado pode ajudar a restabelecer valores normais da glicemia (6).


Bibliografia Selecionada:

  1. BARILLI, Ana Lúcia Azevedo et al . Doenças periodontais em pacientes com doença isquêmica coronariana aterosclerótica, em Hospital Universitário. Arq. Bras. Cardiol.,  São Paulo ,  v. 87, n. 6, Dec.  2006 .  Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2006001900003&lng=en&nrm=iso Acesso em 25 ago 2010.
  2. Vettore M. Periodontal disease and cardiovascular disease. Evidence-Based Dentistry. 2004;5(3):69. Disponível em: http://www.nature.com/ebd/journal/v5/n3/pdf/6400272a.pdf Acesso em: 25 ago 2010.
  3. Almeida RF, et al. Associação entre doença periodontal e patologias sistêmicas. Rev Port Clin Geral. 2006;22:379-90. Disponível em: http://www.amil.com.br/amilportal/upload/noticias/artigos/Associacao_entre_DP_e_Patologias_Sistemicas.pdf Acesso em 25 ago 2010.
  4. American Academy of Periodontology. Associatios between periodontal disease and risk for atherosclerosis, cardiovascular disease, ando stroke. A systematic review. Consensus Report. 2003;8(1). Disponível em: http://www.joponline.org/doi/pdf/10.1902/annals.2003.8.1.38
  5. Alves C, brandão M, Andion J, Menezes R, Carvalho F. Atendimento odontológico do paciente com diabetes melito: recomendações para a prática clínica. Rev Ci Med Bio. 2006;5(2):97-110. Disponível em: http://www.portalseer.ufba.br/index.php/cmbio/article/view/4116/3002  Acesso em 25 ago 2010.
  6. Vernillo AT. Dental considerations for the treatment of patients with diabetes mellitus. JADA. 2003;134:24-33. Disponível em: http://jada.ada.org/content/134/suppl_1/24S.full.pdf+html Acesso em 25 ago 2010.