O tratamento da paralisia de Bell deve ser iniciado o mais precoce possível após o início da paralisia. Os cuidados oculares para prevenção de ceratite e ulceração de córnea são essenciais, tendo em vista que o paciente tem fechamento incompleto da pálpebra e com frequência lacrimejamento insuficiente. Devem ser prescritas lágrimas artificiais (por exemplo, metilcelulose, hipromelose), a ser aplicadas de hora em hora enquanto o paciente está acordado, além da oclusão palpebral e uso de pomada protetora (por exemplo, pomada com acetato de retinol) durante o sono.
O paciente deve ser orientado a não aplicar fita adesiva diretamente nos cílios, pois isso pode causar abrasão da córnea.1
A eficácia de corticóides no tratamento da paralisia facial periférica foi avaliada em numerosos estudos. Em meta-análise recente, foi observado benefício significativo em termos de redução da proporção de pacientes que apresentam recuperação incompleta, com risco relativo (RR) de 0,71 (IC 95% 0,61 a 0,83) e número necessário para tratar de 11, além da redução da proporção de pacientes que apresentam sincinesia (RR 0,60 IC 95% 0,44 a 0,81).2
O tratamento deve ser iniciado preferencialmente dentro de 3 dias do início dos sintomas, sendo recomendado o uso de prednisona 20mg/kg/dia (máximo 80mg) durante 7 dias.3.
O uso isolado de antivirais não reduz o risco de recuperação incompleta,3 portanto não deve ser recomendado. (grau A) Seu uso associado a corticóides ainda é controverso. Em meta-análise realizada por de Almeida e colaboradores, houve tendência de benefício com o tratamento combinado.4 Entretanto, os estudos são pequenos, heterogêneos, com falhas metodológicas. Em revisão sistemática Cochrane, o tratamento combinado não mostrou reduzir sequela neurológica quando comparado ao uso isolado de corticóides (RR 0,39, 95% CI 0,14 a 1,07).5.
Dessa forma, o uso rotineiro do tratamento combinado também não é recomendado, mas pode ser considerado em pacientes com paralisia grave ou completa (escore House-Brackmann V ou VI), grupo sub-representado nos estudos, principalmente aqueles com risco aumentado para infecção por herpes zoster, mesmo que não apresentem o rash típico.4,6,7.
Diversos estudos avaliam o uso da acupuntura na paralisia facial periférica idiopática. Uma revisão sistemática Cochrane concluiu que a qualidade inadequada dos ensaios clínicos impossibilita concluir se o tratamento é eficaz. Além disso, os estudos não avaliam efeitos adversos relacionados ao tratamento.8 Especialistas recomendam fisioterapia e exercícios mio-funcionais na frente do espelho para prevenir atrofia e melhorar a função muscular,9 porém a hipótese de que a realização exercícios faciais reduz o tempo para a recuperação e as sequelas necessita confirmação por ensaios clínicos randomizados. Não há evidência consistente de benefício significativo ou efeitos adversos.10
de Almeida JR, Al Khabori M, Guyatt GH, Witterick IJ, Lin VY, Nedzelski JM, et al. Combined corticosteroid and antiviral treatment for Bell palsy: a systematic review and meta-analysis. JAMA 2009; 302:985-993. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19724046 Acesso em: 18 mai 2011.
Lockhart P, Daly F, Pitkethly M, Comerford N, Sullivan F. Antiviral treatment for Bell’s palsy (idiopathic facial paralysis). Cochrane Database Syst Rev 2009; 4:CD001869. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19821283 Acesso em: 18 mai 2011.
Quant EC, Jeste SS, Muni RH, Cape AV, Bhussar MK, Peleg AY. The benefits of steroids versus steroids plus antivirals for treatment of Bell’s palsy: a meta-analysis. BMJ 2009; 339: b3354. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19736282 Acesso em 18 mai 2011.
Ru JA, van Benthem PPG, Janssen LM. Is antiviral medication for severe Bell’s palsy still useful. Lancet 2009; 8: 509. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11908448 Acesso em: 18 mai 2011.
Shafshak TS. The treatment of facial plasy from the point of view of physical and reabilitation medicine. Eura Medicophys 2006; 42:7. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3802125/ Acesso em: 18 mai 2011.