Qual o tratamento para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) na APS?

| 15 setembro 2023 | ID: sofs-45449
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,

O tratamento medicamentoso se baseia no uso de broncodilatadores por via inalatória, os quais proporcionam alívio sintomático, minimiza a perda da função pulmonar, o risco de agudizações e a evolução da DPOC. Em 2023, a Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease apresentou uma nova classificação para embasar o tratamento (Figura 1).
Figura 1. Tratamento farmacológico inicial.

*O uso de equipamento inalatório único é mais efetivo do que múltiplos inaladores.
Legendas: mMRC: Escala modificada de dispneia. LAMA: Broncodilatadores antagonistas muscarínicos de longa ação. LABA: Broncodilatadores beta agonistas de longa ação. ICS: corticosteroides inalados.  eos: Eosinófilos.
FONTE: Augusti A, 2023  

Grupo A: Paciente Grau 0 ou 1, de acordo com a Escala Modificada de Dispneia (mMRC; Quadro 1), pouco sintomático tratar em monoterapia com LAMA, broncodilatadores anticolinérgicos de longa duração, como o aclidínio , o glicopirrónio , o tiotrópio  e o umeclidínio. Os efeitos adversos mais frequentes com os LAMA são xerostomia, uropatia obstrutiva e glaucoma de ângulo fechado.
Grupo B: Paciente GRAU 2 ou +, na escala mMRC,, com doença moderada ou grave e sintomas persistentes, devem ser tratados, para tratamento de manutenção com LABA (β2-agonistas de longa duração de ação), como salmeterol, formoterol, vilanterol, olodaterol, em associação com os LAMA, com objetivo de  melhorar o controle dos sintomas, favorecer a adesão ao tratamento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A Associação de LAMA e LABA num único veículo farmacêutico facilita o tratamento e atualmente é recomendada por ser mais efetiva do que a monoterapia, com efeitos colaterais similares. Os efeitos colaterais dos LABA são ansiedade, tremor, palpitações e hipocaliemia.
Grupo E:  Paciente GRAU 2 ou +, na escala mMRC, com asma associada, eosinofilia acima de 300 eosinófilos por mm cúbico no sangue periférico e pacientes com exacerbações frequentes e/ou graves, apesar do tratamento com LAMA+LABA, considerar associação dos broncodilatadores com o corticoide inalado (ICS). Não é recomendado a associação com corticoide com o nível de eosinófilos abaixo de 100 eosinófilos por mm cúbico, pois o uso desta associação, apresenta risco acrescido de pneumonia. Está documentado um maior benefício na utilização de ICS nos ex-fumantes.
Quadro 1. Escala Modificada de Dispneia – Medical Research Council (mMRC)

O tratamento não medicamentoso se inicia com a identificação e a redução da exposição a fatores de risco, avaliação do estado nutricional e da função musculoesquelética e orientação para atividades físicas.

A espirometria é necessária para estabelecer um diagnóstico clínico correto de DPOC, evita diagnósticos errôneos, auxilia na avaliação da gravidade da limitação do fluxo aéreo e estabelece o tratamento adequado de acordo com a classificação da Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease, A, B e E e escala modificada de dispneia mMR: Graus 1 a 4.

A orientação para interrupção do tabagismo é essencial, pois este causa destruição do tecido pulmonar (enfisema) e obstrução das pequenas vias aéreas com inflamação e muco (bronquite crônica), levando a sintomas cardinais da DPOC, ou seja, falta de ar e tosse. Todos os indivíduos que fumam devem ser identificados e incentivados a deixar de fumar. Também, evitar permanecer em ambientes com poluição do ar e outros fatores precipitantes. A vacinação contra a gripe e outras doenças respiratórias podem reduzir o risco de exacerbações graves: vacina contra o sarscov2, anti-influenza e vacina pneumocócica polivalente.

A avaliação do estado nutricional e da função músculo- esquelética é necessária para melhora da tolerância ao exercício e do estado geral de saúde desses pacientes, atualmente há evidências que a atividade física pode resultar nestas melhoras. A atividade física deve ser tanto o exercício aeróbio quanto o treino de força. O exercício aeróbio é recomendado e deve ser iniciado independentemente do estágio da DPOC em que o paciente se encontra.  O treino de força objetiva melhorar a fraqueza muscular que contribui para a intolerância ao exercício em portadores de doença pulmonar crônica, o exercício de força é uma opção racional no processo de reabilitação pulmonar.
Na Atenção Primária à Saúde (APS) é importante o diagnóstico precoce e a utilização concomitante do tratamento medicamentoso e o não medicamentoso, para impedir ou retardar a evolução clínica do DPOC.

Bibliografia Selecionada:

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