As alterações de amplitude ou duração da onda P sugerem sobrecarga atrial, enquanto a ausência de onda P com o ritmo irregular pode significar presença de fibrilação atrial (1). No entanto a ativação atrial é avaliada pela análise da onda P que é a deflexão habitualmente arredondada, de baixa amplitude e positiva em quase todas as derivações. Em V1, a onda P tende a ser difásica, como uma porção inicial positiva e outra final negativa, e em aVR a onda P normal é sempre negativa (1). A onda P dura até 0,10 s e tem a magnitude de 0,25 mV, o que equivale a dos milímetros e meio de largura e de altura (1).
A revisão das diretrizes de eletrocardiografia deve-se ao surgimento de avanços no entendimento de diversas entidades, com repercussões importantes no traçado eletrocardiográfico. O eletrocardiograma (ECG) é um exame simples, e não invasivo. Permite uma ideia da condição cardíaca do indivíduo e pode eventualmente identificar situações de risco de morte súbita (2).
Na Sobrecarga Atrial Esquerda (SAE) há aumento da duração da onda P igual ou superior a 120 ms, associado ao aparecimento de entalhe (onda Pmitrale) na derivação D2, com intervalo entre os componentes atriais direito e esquerdo de 40 ms e onda P com componente negativo aumentado (final lento e profundo) na derivação V1. A área da fase negativa de pelo menos 0,04 mm/s, ou igual ou superior a 1 mm2, constitui o índice de Morris, que apresenta melhor sensibilidade que a duração isolada (1,2). Pode ser encontrada em cardiopatia hipertensiva e doenças valvares (especialmente estenose mitral) pericardite constritiva, etc (1).
Na Sobrecarga Atrial Direita (SAD), a onda P apresenta-se apiculada com amplitude acima de 0,25 mV ou 2,5 mm. Na derivação V1, apresenta porção inicial positiva > 0,15 mV ou 1,5 mm. São sinais acessórios e indiretos de SAD: Peñaloza-Tranchesi (complexo QRS de baixa voltagem em V1 e que aumenta de amplitude significativamente em V2) e Sodi-Pallares (complexos QR, Qr, qR ou qRS em V1) (1,2). Raramente isolada, frequentemente é associada à SVD. Pode estar presente em pacientes com cardiopatia congênita e cor pulmonale crônico (1).
Em relação as condições clínicas que alteram o eletrocardiograma, há uma miscelânea de condições em que o ECG apresenta alterações peculiares, não só nas cardiopatias, como também em doenças sistêmicas, em distúrbios metabólicos e na ação de medicamentos (2).
A principal indicação da eletrocardiografia ambulatorial é relacionar sintomas transitório não explicados (síncope, pré-sincope, tontura ou palpitação) com a presença de arritmia cardíaca (Recomendação AHA Classe I- procedimento útil e efetivo). Outros sintomas como dispnéia, dor torácica ou fadiga, também podem estar relacionados com arritmias (recomendação da AHA Classe IIb- utilidade menos comprovada). Entretanto, se o paciente permanecer assintomático, o teste pode não acrescentar informação diagnóstica (1).
A solicitação de exame complementar sem uma boa indicação clínica reduz de forma expressiva o valor preditivo positivo do exame. No entanto, a solicitação de ECG em pacientes jovens, assintomáticos e com baixo risco de cardiopatia está associada a riscos maiores do que benefícios, como por exemplo, resultado falso-positivo, investigação adicional desnecessária e ansiedade (1,3).
Atributos
Como qualquer método diagnóstico, a interpretação do ECG depende da probabilidade prévia da condição a ser diagnosticada e da acuidade dos critérios usados para o diagnóstico. Ou seja, quanto maior for a suspeita prévia quanto à presença de uma condição clínica e quanto mais típicos forem os achados eletrocardiográficos, mais provável que eles indiquem a presença da condição suspeitada (1). O encontro clínico da equipe no contexto da Atenção Primária, caracterizado pela longitudinalidade e integralidade, tem outras funções de grande importância para o Sistema único de Saúde e usuários (4).
1. Duncan, BB et al. Eletrocardiograma: interpretação, principais alterações e uso na prática ambulatorial. In:Duncan, BB et al. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013 Cap 194: 1903-1925
2. Pastore CA, Pinho JA, Pinho C, Samesima N, Pereira Filho HG, Kruse JCL et al . III Diretrizes da sociedade brasileira de cardiologia sobre análise e emissão de laudos eletrocardiográficos. Arq. Bras. Cardiol. [Internet]. 2016 Apr [cited 2017 Nov 08] ; 106( 4 Suppl 1 ): 1-23. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2016003000001&lng=en. http://dx.doi.org/10.5935/abc.20160054
3. Núcleo de Telessaúde Rio Grande do Sul. Qual a importância de arritmia sinusal em eletrocardiograma de paciente assintomático? Necessita de tratamento? Segunda Opinião Formativa, 04 dez 2014. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/qual-a-importancia-de-arritmia-sinusal-em-eletrocardiograma-de-paciente-assintomatico-necessita-de-tratamento/
4. Gusso G, Lopes JMC. Tratado de medicina de família e comunidade. Principios, formação e prática. Porto Alegre: Artmed, 2012.