Qual o produto mais indicado para desbridamento em áreas de necrose em úlceras de pressão?

| 22 março 2022 | ID: sofs-44774
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , ,

Existem no mercado vários produtos disponíveis para realização de desbridamento em úlceras de pressão com necrose. A seleção do produto baseia-se no estado da ferida: baixo exsudato (hidrogel + hidrocoloide); nível médio de exsudato (hidrofibra + hidrocoloide) e alta quantidade de exsudato (hidrofibra + espuma)(1-4). Deve-se considerar também o tipo de tecido no leito da ferida, profundidade, condição da pele ao redor do leito da ferida e dor, além de atender as funções de remover desbridamento autolítico, regular a umidade, favorecer a angiogênese, aumentar a granulação, proteger terminações nervosas (diminui a dor), facilitar a reepitelização (sem machucar ou macerar a borda), proporcionar barreira bacteriana, ser impermeável à água e impermeável ao vapor (permite que a pele respire) e facilitar a remoção, sem prejudicar os tecidos novos(5). O mercado apresenta vários produtos para os curativos citados. Importante notar que cada produto não é usado de forma única, mas sempre acompanhado de uma cobertura secundária(1-5):

·       Hidrogel – gel transparente e incolor composto por água e carboximetilcelulose com ou sem alginato de cálcio e sódio. Possibilita um ambiente úmido que promove o desbridamento autolítico, absorve o exsudato, estimula a cicatrização e hemóstese. Indicado para lesões com pouca exsudação ou seca. Aplicação: limpar a lesão com soro fisiológico 0,9% morno ou temperatura ambiente, utilizando o método de irrigação em jato; aplicar fina camada do gel sobre a ferida ou introduzir na cavidade assepticamente; ocluir a ferida com cobertura secundária estéril. A troca deve ser feita a cada 24 horas quando utilizado com gaze como cobertura secundária; até 72 horas se a cobertura secundária for hidrocolóide ou hidrofibra. Recomenda-se umedecer levemente a gaze quando esta for utilizada como cobertura secundária.

·       Hidrogel com Polihexametileno Biguanida PHMB (PHMB Gel 0,2%) – com propriedades hidratantes e antimicrobianas, é usado para reidratar tecidos, criando um ambiente úmido, facilitando o desbridamento autolítico e controlando da carga bacteriana. Requer um curativo secundário e deve-se observar proteção nos bordos da ferida, evitando a maceração. Não dever ser utilizado em conjunto com sabonetes, pomadas, óleos ou enzimas. Aplicação: limpar a lesão com soro fisiológico 0,9% morno ou temperatura ambiente, utilizando o método de irrigação em jato; aplicar fina camada do gel sobre a ferida ou introduzir na cavidade assepticamente; ocluir a ferida com cobertura secundária (rayon, gaze umedecida, espumas, hidrofibras, alginatos, hidrocolóides). Deve ser trocado entre 48 a 72h.

·       Hidrofibra (aquacel; aquacel extra; exufiber/durafiber): placa ou fita de carboximetilcelulose de sódio que se converte em gel quando ativado por umidade e estimula o desbridamento autolítico. Realiza desbridamento osmótico autolítico ao manter o meio úmido, induz hemostasia, possui alta capacidade de absorção de exsudato e protege o tecido vitalizado de traumas por não serem aderentes ao tecido epidérmico.  No mercado há hidrofibra sem e com prata. Deve-se verificar alergia à prata para esses últimos. É indicado para absorção de moderada a alta exsudação do leito da ferida. Aplicação: limpar a lesão com soro fisiológico 0,9% morno ou temperatura ambiente, utilizando o método de irrigação em jato; secar a pele ao redor, modelar a hidrofibra no interior da ferida, deixando uma margem de 1 centímetro a mais, se necessário recortar a placa antes de aplicá-la; ocluir com curativo secundário (gazes ou chumaço). A hidrofibra pode permanecer na ferida por até 7 dias. Como não são aderentes, requerem curativos secundários para mantê-los no lugar, que deve ser trocado quando saturado ou em até 24 horas.

·       Papaína Creme ou Gel 10%: indicado para lesões com necrose seca ou húmida com baixo exsudato. Dissocia as moléculas de proteína (desbridamento químico), age como anti-inflamatório, bactericida e bacteriostático, acelerando o processo cicatricial.  Aplicação: aplicar topicamente sobre o ferimento 1 a 3 vezes ao dia e sempre que o curativo secundário estiver saturado ou no máximo a cada 24h. Manter o produto sempre na geladeira.

·       Membranas de Biocelulose (Membracel):  placa usadas como curativo para redução da dor. É indicado para escoriações, lacerações e queimaduras de 1º grau. É auto aderente ao leito da ferida e permite a drenagem de baixa exsudação. Necessita de curativo secundário.

·       Espumas com ou sem silicone (Mepilex; Mepilex Transfer; Mepilex Border; Mepilex Lite; Allevyn; Aquacel Foam; Biatan Foam; Cutimed Sorbact): são curativos de espuma de poliuretano hidrofílico, multicamadas, absorventes que minimizam traumas, dor e reduz a maceração; superfícies semipermeáveis que permitem a passagem e retenção do exsudado no curativo. Algumas marcas possuem camada de silicone, que não aderem ao leito da ferida. São usadas em feridas com vários níveis de exsudato, do moderado ao intenso, pois permitem absorção de grandes quantidades de secreção, e em feridas traumáticas e dolorosas. Também podem ser usadas como curativo primário em feridas superficiais que exsudam. As espumas se adaptam aos contornos do corpo.

·       Creme reestruturante (Hycos MG500): à base de bioativos naturais. Limpeza as feridas e estimulam a granulação. Necessita de curativo secundário e deve ser aplicado diariamente. Indicado para Úlceras vasculogênicas, úlceras por pressão, queimaduras, pé diabético.


As recomendações gerais para os curativo das lesões devem ser mantidas durante todo o tratamento: manter um leito limpo úmido é o objetivo, pois isso promove a granulação, cicatrização e fechamento; avaliar a ferida a cada troca de curativo para verificar a resposta ao tratamento e escolha do curativo em uso; seguir as recomendações do fabricante, especialmente relacionadas à frequência de trocas de curativos; considerar o excesso de colonização e reavalie a seleção do curativo, se a ferida não cicatrizar em duas semanas(5).

O cuidado com a pele ao redor da lesão é extremamente importante para evitar maceração, aplicando protetor cutâneo na área circundante à ferida para protegê-la e mantendo a pele seca para facilitar a aplicação de curativos. Quando usar o protetor cutâneo, em forma de spray ou creme, deve-se proteger o leito da ferida, para que o protetor não fique sobre o tecido a ser tratado, mas somente na área em risco de maceração(5).

Bibliografia Selecionada:

1. Mervis JS, MD, Phillips TJ. Pressure ulcers: Prevention and management. J Am Acad Dermatol. 2019;81(4):893-902. Disponível em: https://www.jaad.org/article/S0190-9622(19)30091-X/fulltext

 

2. Prefeitura Municipal de Campinas. [internet]. Manual de Curativos. [acesso em 25 jan 2022]. 2021:32p. Disponível em: https://saude.campinas.sp.gov.br/saude/enfermagem/Manual_Curativos.pdf

 

3. United Kingdom. National Health Service. City Healthcare Partnership CIC (CHCP). Wound Management Formulary. [acesso em 25 jan 2022]. 2019:21p. Disponível em: https://www.hey.nhs.uk/wp/wp-content/uploads/2016/03/chcpWoundManagementFormulary.pdf

 

4. Weller CD, Team V, Sussman G. First-Line Interactive Wound Dressing Update: A Comprehensive Review of the Evidence. Front Pharmacol. 2020 Feb 28;11:155. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fphar.2020.00155/full

 

5. Prefeitura do Município de São Paulo. Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Manual de Padronização de Curativos. São Paulo. Janeiro/2021:61p. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2021/04/1152129/manual_protocoloferidasmarco2021_digital_.pdf