A Gardnerella vaginalis é uma bactéria que habita a região íntima feminina. Normalmente se encontra em concentrações muito baixas, não produzindo qualquer tipo de problema ou sintoma. Quando as concentrações de Gardnerella sp. aumentam, devido a fatores que possam interferir no sistema imunológico e microbiota genital (higienização incorreta, múltiplos parceiros sexuais ou lavagem genital frequente), probabilidade da mulher desenvolver uma infecção vaginal conhecida como vaginose bacteriana ou vaginite por Gardnerella sp é muito maior. Os sintomas incluem cheiro fétido, corrimento amarelado ou acinzentado, coceira ou sensação de queimação na vagina e dor durante contato íntimo, mas pode ser tratada facilmente com antibióticos(1-4). A primeira opção de tratamento recomendado inclui: Metronidazol 250mg, 2 comprimidos VO, 2x/dia, por 7 dias OU Metronidazol gel vaginal 100mg/g, um aplicador cheio via vaginal, à noite ao deitar-se, por 5 dias. A segunda opção é Clindamicina 300mg, VO, 2x/dia, por 7 dias(2).
Para a vaginose recorrente, recomenda-se Metronidazol 250mg, 2 comprimidos VO, 2x/dia, por 10-14 dias OU Metronidazol gel vaginal 100mg/g, um aplicador cheio, via vaginal, 1x/ dia, por 10 dias, seguido de tratamento supressivo com óvulo de ácido bórico intravaginal de 600mg ao dia por 21 dias e metronidazol gel vaginal 100mg/g, 2x/semana, por 4-6 meses(2). O tratamento das parcerias sexuais não está recomendado, mas quando indicado, deve ser realizado de forma preferencialmente presencial, com a devida orientação, solicitação de exames de outras IST (sífilis, HIV, hepatites B e C) e identificação, captação e tratamento de outas parcerias sexuais, buscando a cadeia de transmissão(1,2).
Durante o tratamento, deve-se suspender as relações sexuais e manter o tratamento durante a menstruação(1,2). Durante o tratamento com metronidazol, evitar a ingestão de álcool (efeito antabuse, devido à interação de derivados imidazólicos com álcool, caracterizado por mal-estar, náuseas, tonturas e “gosto metálico na boca”)(2).
Os principais benefícios do tratamento para mulheres não grávidas são alívio dos sintomas e dos sinais vaginais de infecção por Gardnerella vaginalis ou vaginose bacteriana. Outros benefícios potenciais do tratamento incluem a redução do risco de adquirir C. trachomatis, N. gonorrhoeae, T. vaginalis, M. genitalium, HIV, HPV e HSV-2(1).
O uso de antissépticos, pré-bióticos e pró-bióticos e a reposição de lactobacilos vem sendo estudada, mas há ainda longo caminho a percorrer(1,2).
As recomendações enfatizam a necessidade das mulheres com vaginose bacteriana serem testadas para HIV e outras DSTs(1,2,4).
Quanto às gestantes, tratamento é recomendado para todas as gestantes sintomáticas, a fim de reduzir a possibilidade de desfechos adversos da gravidez, como ruptura prematura de membranas, parto prematuro e endometriose pós-parto. O tratamento em gestantes e lactantes deve ser feito somente por via vaginal. O tratamento oral e o uso de triazóis está contraindicado(2,3).
A vaginose bacteriana ocorre com maior frequência entre as mulheres com HIV e devem receber o mesmo regime de tratamento que aquelas que não têm HIV(1,2,4).
1. Workowski KA, Bachmann LH, Chan PA, Johnston CM, Muzny CA, Park I, Reno H, Zenilman JM, Bolan GA. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines, 2021. MMWR Recomm Rep. 2021 Jul 23;70(4):1–187. Disponível em: https://www.cdc.gov/std/treatment-guidelines/STI-Guidelines-2021.pdf
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Brasília – DF. 2020:248p. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2015/protocolo-clinico-e-diretrizes-terapeuticas-para-atencao-integral-pessoas-com-infeccoes
3. Carvalho NSD, Eleutério Júnior J, Travassos AG, Santana LB, Miranda AE. Protocolo Brasileiro para Infecções Sexualmente Transmissíveis 2020: infecções que causam corrimento vaginal. Epidemiol. Serv. Saúde 2021; 30(Esp. 1):e2020593. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ress/a/X9WkLLZRBbcW3mFwbRYBHXD/
4. Paladine HL, Desai UA. Vaginitis: diagnosis and treatment. Am Fam Physician. 2018;97(5): 321-329. Disponível em: https://www.aafp.org/afp/2018/0301/p321.html