Qual é a efetividade e aceitabilidade dos antidepressivos para o tratamento da dependência de cocaína?

| 3 dezembro 2007 | ID: sofs-40
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

Os transtornos pelo uso de substâncias psicoativas são problemas de interesse na APS. Dados do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao uso de Drogas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NEPAD/UERJ) e Escola Paulista de Medicina (1998) são condizentes com informações estadunidenses, dando conta de que entre o início da adição e a procura por atendimento médico há uma demora aproximada de 8 anos. Para diminuir este tempo, atenuar os efeitos do uso e abuso de drogas, deve haver um esforço intersetorial incluindo as equipes de APS (tratamento medicamentoso, psicoterapia, internação,etc) em ações que contribuirão para diminuição do impacto causado pelas drogas na medida em que estudos de boa qualidade evidenciem medidas preventivas e tratamentos efetivos.


Resumo e comentário por Adolfo Oscar Gigglberger Bareiro em 24 de Novembro de 2007.

Resposta baseada em evidência
Não há dados que apoiem a eficácia dos antidepressivos para a dependência de cocaína. Estudaram-se populações muito heterogêneas nos ensaios clínicos detectados nesta Revisão Sistemática. Além disso, determinadas condições como comorbidades, rede de apoio psicossocial e métodos de recrutamento podem dificultar a interpretação das comparações feitas nas diversas amostras. Não parece que os medicamentos estudados tenham um impacto significativo sem que haja uma mudança de conduta do próprio paciente em relação à droga. É provável que se obtenham melhores resultados em populações mais motivadas.
Sumário das Evidência
Foram incluídos 18 estudos, nos quais participaram 1177 pacientes dependentes de cocaína, com idade entre 20 e 60 anos, sendo a maioria de origem afro-americana, duração de 40 dias a 6 meses, atendidos ambulatorialmente.
A Desipramina foi o antidepressivo mais estudado (12 estudos), a Fluoxetina foi estudado em 2 ensaios, a Ritanserina, Gepirona, Bupropriona e Imipramina nos 4 restantes. Não se obtiveram resultados significativos. Parece que os resultados da Desipramina versus placebo foram melhores (RR = 0,82, IC 95%: 0,6-1,13) quando comparados com os resultados de outros fármacos – nível D de evidência segundo o Projeto Diretrizes da AMB. Quanto a aceitabilidade do tratamento, uma porcentagem maior finalizou o estudo com Fluoxetina (RR = 0,53, IC 95%: 0,32-0,88), porém este resultado precisa ser replicado – nível de evidência C. Não se acharam resultados estatisticamente significativos quando analisados resultados contínuos: percentagem de dias de abstinência (Desipramina), dias por semana de uso da cocaína e desejo imperioso de utilizar a droga (Fluoxetina) – nível C de evidência segundo o Projeto Diretrizes da AMB. Quanto a efeitos colaterais, somente 2 ensaios informaram dados relevantes, embora sem significância estatística, sugerindo que os pacientes com Desipramina poderiam ter maiores probabilidades de apresentar ao menos um efeito colateral (RR = 1,65; IC 95: 0,98-1,79) se a amostra fosse maior, nível D de evidência segundo o Projeto Diretrizes.

 

 

Bibliografia Selecionada:

  1. Arndt IO, Dorozynsky L, Woody GE, McLellan AT, O’Brien CP. Desipramine treatment of cocaine dependence in methadone-maintained patients. Arch Gen Psychiatry. 1992 Nov;49(11):888-93.
  2. Arndt IO, McLellan AT, Dorozynsky L, Woody GE, O’Brien CP. Desipramine treatment for cocaine dependence. Role of antisocial personality disorder. J Nerv Ment Dis. 1994 Mar;182(3):151-6.
  3. Batki SL, Washburn AM, Delucchi K, Jones RT. A controlled trial of fluoxetine in crack cocaine dependence. Drug Alcohol Depend. 1996 Jun;41(2):137-42. Disponível em: http://ac.els-cdn.com/0376871696012331/1-s2.0-0376871696012331-main.pdf?_tid=b4cc628a-bd2a-11e4-b78f-00000aacb360&acdnat=1424895364_8e1d53f7d04663a2a7c6ca4a7ee83608
  4. Campbell JL, Thomas HM, Gabrielli W, Liskow BI, Powell BJ. Impact of desipramine or carbamazepine on patient retention in outpatient cocaine treatment: preliminary findings. J Addict Dis. 1994;13(4):191-9.
  5. Carroll KM, Nich C, Rounsaville BJ. Differential symptom reduction in depressed cocaine abusers treated with psychotherapy and pharmacotherapy. J Nerv Ment Dis. 1995 Apr;183(4):251-9.
  6. Nunes EV, McGrath PJ, Quitkin FM, Ocepek-Welikson K, Stewart JW, Koenig T, Wager S, Klein DF. Imipramine treatment of cocaine abuse: possible boundaries of efficacy. Drug Alcohol Depend. 1995 Oct;39(3):185-95. Disponível em: http://ac.els-cdn.com/0376871695011616/1-s2.0-0376871695011616-main.pdf?_tid=048b1668-bd2b-11e4-a57b-00000aacb360&acdnat=1424895498_749d1f074c74951e5c7843e9a77dcaad
  7. Silva de Lima Maurício, Farrell Michael, Lima Reisser Anelise ARL, Soares Bernardo. Antidepressants for cocaine dependence. Cochrane Database of Systematic. Disponível em: The Cochrane Library, Issue 2, Art. No. CD002950.