Para diagnóstico diferencial de lesões suspeitas de sífilis o dentista poderá encaminhar o paciente para realizar o teste rápido para sífilis na própria unidade de saúde(2). E como seguimento protocolar, podem ser solicitados exames laboratoriais para HIV, hepatites B e C e o exame Venereal Disease Research Laboratory (VDRL), confirmatório para sífilis(2). A análise do exame clínico associado com exame físico e ensaios sorológicos, normalmente permite o diagnóstico da doença(2,3).
As manifestações orais da sífilis ocorrem especialmente no estágio secundário da doença, nesse estágio a doença é altamente contagiosa e seu diagnóstico diferencial é desafiador e amplo. O aspecto clínico das lesões pode ser bastante heterogêneo e até mimetizar algumas lesões orais e inclui úlceras traumáticas, infecções herpéticas, tuberculose, líquen plano, eritema multiforme e carcinoma de células escamosas(1,2,3).
O dentista tem um papel importante no diagnóstico da sífilis, pois a cavidade bucal representa um dos sítios extragenitais mais comuns de inoculação da bactéria Treponema pallidum(1). Ele deve conhecer as manifestações mais comuns de sífilis na mucosa oral, para auxiliar no diagnóstico e tratamento da doença(2).
As manifestações orais da sífilis podem se apresentar como placas cinzentas, úlceras com bordas irregulares e esbranquiçadas, placas mucosas, nódulos, manchas e erosão(2,3). Pode-se notar a presença de condilomas lata, ulcerações em forma de caracol, máculas papulares vermelhas e pápulas fendidas(1,2,3). As características diversas das lesões orais da sífilis podem aumentar a complexidade do seu diagnóstico. Portanto, é fundamental que o profissional conheça os possíveis diagnósticos diferenciais(2,3).
O tratamento é feito com antibiótico, e o de primeira escolha é a penicilina G benzatina. A abordagem terapêutica deve ser individualizada para um melhor prognóstico e o paciente deve ser acompanhado por toda equipe da unidade de saúde, a fim de avaliar a efetividade do tratamento(2,3).
Os pacientes também devem ser instruídos quanto a práticas sexuais seguras, o risco de reinfecção quando os parceiros sexuais não são tratados para a doença, e o risco de adquirir HIV e outras ISTs(2,4).
Em geral, os homens são mais afetados pela sífilis do que as mulheres e este perfil pode ser explicado pelo maior risco da doença em homens que fazem sexo com homens. Os pacientes geralmente são adultos em sua terceira a sexta décadas de vida, e a idade média dos homens é maior que a das mulheres. Uma forte associação entre sífilis e infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) pode ser observado(4).
Os dois principais fatores de risco para IST são práticas sexuais sem uso de preservativos e idade mais baixa. Em relação à sífilis, por exemplo, as notificações no Brasil vêm apresentando tendência de aumento na população mais jovem, de 13 a 29 anos. Por esse motivo, foram incluídas no rastreamento anual as pessoas de até 30 anos de idade com vida sexualmente ativa. Caso a pessoa de 30 anos ou mais pertença a algum outro subgrupo populacional, deve-se optar pelo que for mais representativo(4).
O quadro abaixo apresenta um resumo das principais alterações bucais da sífilis.
Quadro 1 – Resumo das principais manifestações orais da sífilis, de acordo com estágios e localizações das lesões.
Fonte: Santos et al., 2019(1)
1. Santos ES, Sá JO, Lamarck R. Manifestações orais da sífilis: revisão sistematizada de literatura. Arch Health Invest. 2019;8(8):413-416. Disponível em: https://www.archhealthinvestigation.com.br/ArcHI/article/view/3330/pdf_1
2. Souza BC. Manifestações clínicas orais da sífilis. RFO, Passo Fundo. 2017;22(1):82-85. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2017/08/848727/artigo14.pdf
3. Batista, APM, Souto ACS, Borba BS, Silva FMS, Ribeiro RCL. Sífilis com manifestações orais: importância do cirurgião-dentista no diagnóstico e condução do tratamento. Ciência Atual. Rio de Janeiro. 2019;14(2):32-38. Disponível em: http://www.cnad.edu.br/revista-ciencia-atual/index.php/cafsj/article/view/377/pdf
4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Brasília-DF. 2020:248p. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2015/protocolo-clinico-e-diretrizes-terapeuticas-para-atencao-integral-pessoas-com-infeccoes