Qual abordagem não farmacológica a equipe de saúde deve ter com crianças diagnosticadas com TDAH?

| 31 maio 2019 | ID: sofs-41747
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,

A intervenção nesses casos prevê uma atuação que envolva familiares, escola e criança. A multidisciplinariedade é prevista em casos de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), assim o envolvimento de profissionais como psicólogo, médico, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, além da equipe da Unidade Básica, poderá garantir melhores progressos no tratamento do paciente(2).

1. A intervenção com a escola deve ser focada na aproximação dos pais com a criança através da realização de mediações em acordos entre família e escola, como por exemplo:

– Orientar os pais a conversar com a criança sobre o porquê ela sai toda hora da sala, da cadeira (ou qualquer outra queixa que a escola tenha). Entender o que a motiva, e orientá-la a aguardar o momento certo. Caso o motivo seja devido a alguma ansiedade que está sentindo, conversar com ela e a professora juntos, para que a professora possa ajuda-la, seja liberando a criança para ir ao banheiro, ou dando tarefas diferenciadas das outras crianças.(3)

2. A abordagem familiar deve envolver o entendimento das relações familiares, bem como a orientação dos pais ou cuidadores no cuidado com a criança, conforme detalhamento a seguir:

– O entendimento das relações familiares pode ser realizado com a ajuda de duas ferramentas: Genograma e Ecomapa. O Genograma tem como finalidade a representação gráfica da estrutura e o padrão de repetição das relações familiares e dos padrões de doenças, assim como o relacionamento e os conflitos resultantes do adoecer(3). O Ecomapa é um instrumento gráfico complementar ao Genograma e ajuda a avaliar os apoios, os suportes disponíveis, sua utilização pela família, e pode apontar a presença de recursos, sendo o retrato de um determinado momento da vida dos membros da família e, portanto, dinâmico(4).

– Realizar entrevistas individuais é importante para identificar pequenas intervenções que podem ser eficientes num primeiro momento. Essas intervenções podem ser desde explicar a necessidade de fortalecer laços entre a família e a escola, como apontar que é comum que pais ou instituições tenham dificuldades no cuidado de uma criança, já que o sentimento de culpa por parte dos pais costuma ser frequente nesses casos. Escutar os adultos envolvidos no cuidado infantil pode contribuir para o fortalecimento dos laços com a criança e consequentemente na remissão de alguns sintomas do TDAH.

3. A abordagem com a criança deverá ser feita através de conversas com ela sobre:

– Verificar se sabe o porquê a escola ou pais encaminharam para conversar com o profissional de saúde.

– Perguntar sobre os sentimentos dela no que se refere a ir à escola; se ela gosta do que faz lá; se tem amigos e como que brinca. Essas perguntas costumam favorecer o vínculo terapêutico para que ela fale sobre as suas dificuldades.

– Explicar que é necessário que ela faça acordos com os pais e a escola referente ao seu comportamento, e que você irá ajudá-la nisso.

Nas conversas com as crianças é necessário atentar ao tom, para que seja acolhedor e não repressor, para estimular o vínculo pois, é comum que crianças fiquem retraídas com profissionais de saúde.


A avaliação de uma criança diagnosticada com TDAH também deve passar por um fonoaudiólogo(a) para verificar a acuidade auditiva e linguagem, de modo a descartar a possibilidade de problemas auditivos que estejam interferindo na atenção. A abordagem fonoaudiológica também pode englobar exercícios de fonemas e vocabulários que possam aumentar o tempo de atenção e concentração em atividades(4).

A articulação com os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) é outro ponto importante no manejo clínico do caso(5), pois em muitos deles a criança e a família terão que ser acompanhadas com uma frequência maior do que a Unidade Básica de Saúde pode acolher. Acionar o setor da assistência social também poderá ser necessário, quando o caso envolver fragilidade dos laços familiares, visando o fortalecimento da rede de apoio do paciente.

Uma atenção particular deve ser dada às famílias expostas a situações de risco, assim como nos casos de pais ou cuidadores com transtornos mentais. A disfunção do comportamento da criança pode estar relacionada a um caso de violência. Portanto, se houver suspeita ou confirmação de violência é necessário realizar a sua notificação. A notificação é uma medida compulsória, conforme previsto pelo Ministério da Saúde na portaria nº 1271 de julho de 2014 (6).

O atendimento integral de uma criança que apresenta TDAH na Atenção Primária à Saúde será garantido quando a longitudinalidade do atendimento fizer parte do projeto terapêutico. O acompanhamento contínuo do caso contribui para maior facilidade de acesso à rede de atenção psicossocial, bem como para o estabelecimento de um vínculo que irá viabilizar a execução do processo terapêutico previsto.

Bibliografia Selecionada:

1. Semple D, Smyth R. Oxford handbook of psychiatry: hands-on advice for managing psychiatric conditions. 3.ed. Oxford University Press: Oxford. 2013.

2. Desidério RCS, Miyazaki MCOS. Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH): orientações para a família. Psicol. Esc. Educ. 2007;11(1):165-176. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=282321820018

3. Núcleo de Telessaúde Rio Grande do Sul. BVS APS. Atenção Primária a Saúde.  Como lidar com as demandas vindas das escolas, relacionadas a alunos com possível déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). 08 Out 2013, Id. Sof-5539. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/como-lidar-com-as-demandas-vindas-das-escolas-relacionadas-a-alunos-com-possivel-deficit-de-atencao-e-hiperatividade-tdah/

4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção a saúde.  Departamento de Atenção Básica. Caderno de atenção domiciliar. Brasília: Ministério da Saúde, 2013:207p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_atencao_domiciliar_melhor_casa.pdf

5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Saúde da criança : crescimento e desenvolvimento. (Cadernos de Atenção Básica 33). Brasília: Ministério da Saúde, 2012:272p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_33.pdf

6. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.271, de 6 de Junho de 2014. Define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá outras providências. 2014. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt1271_06_06_2014.html