A meningite viral é a forma mais comum e mais leve da doença e frequentemente acomete crianças pequenas e bebês, especialmente no primeiro ano de vida. A melhora costuma ser espontânea, em algumas semanas, sem necessidade de tratamento específico. Por outro lado, a bacteriana é muito grave e deve ser tratada como uma emergência médica. Se não tratada, pode danificar seriamente o cérebro e causar infecção generalizada, levando à morte. O tratamento é realizado com antibióticos por via venosa e monitoramento hospitalar(1,3).
As complicações/gravidade incluem convulsões, presentes em 20% das crianças com meningite meningocócica. Nos casos de meningococcemia, o estado de coma pode sobrevir em algumas horas, com elevadas taxas de letalidade, geralmente acima de 40%, sendo a grande maioria dos óbitos nas primeiras 48 horas do início dos sintomas(1,3).
As sequelas podem variar de gravidade de pessoa para pessoa, e podem ser temporárias ou permanentes. Em geral, quanto mais grave a infecção, maior a chance de complicações. Perda da audição e visão, problemas com memória, concentração, coordenação motora, equilíbrio, aprendizado e fala, epilepsia e paralisia cerebral são possíveis complicações da meningite(4).
Os sintomas são os mesmos tanto para a bacteriana quanto a viral: febre, dor de cabeça e rigidez de nuca. Outros sintomas também podem ocorrer: mal-estar, náusea, vômito, fotofobia (aumento da sensibilidade à luz), status mental alterado (confusão). Com o passar do tempo, sintomas mais graves como convulsões, delírio, tremores e coma podem aparecer. Em recém-nascidos e bebês, esses sintomas podem ser ausentes ou difíceis de serem percebidos. O bebê pode ficar irritado, vomitar, alimentar-se mal ou parecer letárgico ou não responder a estímulos e/ou apresentar fontanela (moleira) tensa ou elevadas e reflexos anormais(3).
A meningite é uma inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, causada, principalmente, por bactérias e vírus. Como a diferenciação entre os tipos de meningite só pode ser feita por exames – quimiocitológico do líquor; bacterioscopia direta; cultura; aglutinação pelo látex e Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real (qPCR) – adicionado à gravidade da meningite bacteriana e o seu potencial de gerar surtos ou óbitos, a notificação deve ser compulsória. Todos os casos suspeitos ou confirmados devem ser notificados às autoridades competentes, por profissionais da área de assistência, vigilância e laboratórios públicos e privados, e registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio do preenchimento da Ficha de Investigação de Meningite(1-3).
As bactérias causadoras da meningite compreendem Neisseria meningitidis (meningococo), Streptococcus pneumoniae (pneumococo) Haemophilus influenza, Mycobacterium tuberculosis, Streptococcus sp., especialmente os do grupo B, Listeria monocytogenes, Escherichia coli, Treponema pallidum, entre outras. A maioria das bactérias que causam meningite bacteriana são transmitidas de uma pessoa para outra por meio das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Outras bactérias, como a Listeria monocytogenes e a Escherichia coli são transmitidas por meio dos alimentos. É importante saber que algumas pessoas podem transportar essas bactérias sem estarem doentes. Essas pessoas são chamadas de “portadoras”. O período de incubação dura em média de 3 a 4 dias, podendo variar de 2 a 10 dias. O período de transmissibilidade persiste até que a bactéria desapareça da nasofaringe. Em geral, a bactéria é eliminada da nasofaringe após 24 horas de antibioticoterapia adequada(1,3).
A meningite causada pela N. meningitidis inclui a meningite meningocócica, a que ocorre com mais frequência, e a meningococcemia, a que apresenta a forma mais grave (septicemia, hipotensão, diarreia, dor abdominal, dor em membros inferiores, mialgia, rebaixamento do sensório, entre outros). As crianças, os adolescentes e adultos jovens sofrem o risco com maior incidência em lactentes, no primeiro ano de vida. A meningite pneumocócica (causada pela bactéria S. pneumoniae) tem os idosos e indivíduos portadores de quadros crônicos ou de doenças imunossupressoras com maior risco de adoecimento. As taxas de incidência de portadores são maiores entre adolescentes e adultos jovens, mas o grupo etário de maior risco são as crianças menores de 5 anos, principalmente as menores de 1 ano. Após a colonização da nasofaringe, a doença meningocócica invasiva pode se desenvolver(1,3).
As meningites virais são causadas por diversos vírus: Enterovírus, Herpes simplex, Varicela zoster, Epstein-Barr, Citomegalovírus, Arbovírus (Dengue, Zika, Chikungunya, Febre Amarela, Febre do Nilo Ocidental), Sarampo, Caxumba, Rubéola, Adenovírus, dentre outros. Podem ser transmitidas de diversas maneiras, dependendo do vírus causador da doença: a contaminação da Enterovírus é fecal-oral, contato próximo (tocar ou apertar as mãos) com a pessoa infectada ou com objetos ou superfícies que contenham o vírus e depois tocar nos olhos, nariz ou boca antes de lavar as mãos, beber água ou comer alimentos crus que contenham o vírus. Já os arbovírus são transmitidos por meio de picada de mosquitos contaminados. O período de incubação do Enterovírus é de 7 a 14 dias, podendo variar de 2 a 35 dias, e o de transmissibilidade varia de 10 a 15 dias. Os sintomas clássicos são os frequentes: febre, cefaleia, vômitos, rigidez da nuca, convulsões e/ou manchas vermelhas no corpo(1,3).
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde [internet]. Meningite. Publicado em 20 nov 2020, atualizado 29 dez 2021. [acesso em 31 jan 2022]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/m/meningite
2. Brasil. Ministério da Saúde [internet]. Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria nº. 264, de 17 de fevereiro de 2020. Altera a Portaria de Consolidação nº 4/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para incluir a doença de Chagas crônica, na Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional. [acesso em 31 jan 2022]. Diário Oficial da União 19 fev 2020, Edição: 35, Seção: 1, Página: 97. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-264-de-17-de-fevereiro-de-2020-244043656
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde: volume 1. 1ª ed. atual. [internet]. [acesso em 31 jan 2022]. Brasília – DF. 2017:250p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_volume_1.pdf
4. Lucas MJ, Brouwer MC, van de Beek D. Neurological sequelae of bacterial meningitis. J Infect. 2016 Jul;73(1):18-27. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0163-4453(16)30036-6