Bloqueio de condução intraventricular é o nome geral dado a um grupo variado de entidades eletrocardiográficas. Todos compartilham o achado comum de algum grau de atraso na ativação ventricular. O reconhecimento destes bloqueios passa pela análise do complexo QRS, assim como pelas alterações de segmento ST-T associadas a eles. Bloqueios de ramo (direito ou esquerdo) e bloqueios fasciculares são exemplos de bloqueios de condução intraventricular. O reconhecimento precoce da etiologia destes distúrbios pode ter importância clínica(1).
Em um estudo sobre a etiologia do Bloqueio de Ramo Esquerdo (BRE) realizado em Porto Alegre (com 264 casos), coronariopatia e hipertensão arterial estavam entre as etiologias mais freqüentes, seguindo-se as valvulopatias e miocardiopatias – resultados semelhantes aos observados na literatura mundial(2). O Bloqueio de Ramo Direito está (quando comparado com o BRE) mais associado com alterações congênitas do sistema de condução (sendo mais comum em jovens do que o BRE), mas também encontra relação com cardiopatia isquêmica e hipertensão arterial(3). O prognóstico de indivíduos com bloqueio de ramo é significativamente determinado pela presença ou ausência de doença cardiovascular associada. Muitos estudos demonstraram um importante aumento da mortalidade entre pacientes com bloqueio de ramo, contudo, tais estudos acompanharam pacientes em ambiente hospitalar, com doença cardiovascular concomitante – predominantemente cardiopatia isquêmica. Em pacientes que sofreram Infarto Agudo do Miocárdio, a presença de bloqueio de ramo é um marcador de pior desfecho(4), assim como o achado de bloqueio de ramo esquerdo em pacientes com insuficiência cardíaca, o qual se constitui um indicador prognóstico desfavorável. Neste subgrupo de pacientes se observou um aumento na mortalidade por qualquer causa, incluindo morte súbita(5).
No contexto de pacientes assintomáticos, sem doença cardíaca aparente, o bloqueio de ramo direito parece ter comportamento mais inocente, sem aumento no risco de doença cardiovascular ou morte(6) – embora não exista consenso entre os estudos pesquisados. Já os pacientes (homens) portadores de bloqueio de ramo esquerdo (mesmo assintomáticos e sem doença cardíaca aparente),têm um risco substancialmente aumentado de morte por doença coronariana, principalmente devido a morte súbita fora do ambiente hospitalar (7). Alguns especialistas caracterizam o bloqueio de ramo esquerdo como um marcador desfavorável para o desenvolvimento de doenças cardíacas(8).
No paciente assintomático, principalmente naquele com bloqueio de ramo esquerdo, a abordagem inicial com exames complementares deve incluir a realização de um Ecocardiograma e um ECG Holter, segundo a opinião de especialistas.(9)