Plaquetopenia é um achado frequente no hemograma, e nem sempre significa presença de alguma doença. Sempre que não houver uma causa conhecida, e as plaquetas estiverem acima de 50.000 células/mm³, deve-se inicialmente confirmar se a plaquetopenia é real repetindo o exame, para excluir erro laboratorial ou agregação in vitro. Alguns indivíduos têm valores ligeiramente abaixo do normal e não necessitam investigação.
Nos casos com plaquetopenia incidental, na ausência de outras citopenias, considerar as causas infecciosas, hiperesplenismo, púrpura trombocitopênica auto-imune ou uso de medicações. Na avaliação laboratorial inicial devem constar esfregaço de sangue periférico, anti-HIV e anti-HCV.
Algumas medicações podem causar plaquetopenia, e devem ser avaliadas. Revisar o uso de anti-inflamatórios (ibuprofeno, naproxeno), antibióticos (sulfas, betalactâmicos), anticonvulsivantes (carbamazepina, fenitoína, ácido valpróico), antipsicóticos (haloperidol) e inibidores da bomba de prótons.
Plaquetopenia transitória ocorre em algumas infecções virais, que se resolve espontaneamente após recuperação da doença, como rubéola, caxumba, parvovírus, Epstein-Barr, dengue e zika. Na hepatite C, a plaquetopenia pode ser persistente. A plaquetopenia por HIV é uma manifestação incomum, porém pode ser a primeira manifestação da doença. A infecção por Helicobacter pylori também está associada à plaquetopenia e deve ser suspeitada num paciente com dispepsia ou outros sintomas de doença péptica.
Álcool pode causar plaquetopenia por toxicidade direta, deficiência nutricional e por hiperesplenismo associado à doença hepática alcóolica. Sempre questionar o consumo de bebidas alcoólicas. Plaquetopenia isolada também pode ser a manifestação inicial de doença hepática com hipertensão portal e hiperesplenismo. Geralmente é leve a moderada e o baço é geralmente palpável. Além da investigação de hepatites virais, solicitar enzimas hepáticas e ecografia abdominal.
Deficiência de nutrientes, como ácido fólico e vitamina B12, tipicamente causam pancitopenia, mas podem cursar com plaquetopenia isolada. Má nutrição, veganismo e após cirurgia bariátrica ou outra doença gastrointestinal podem ser a causa, se não houver suplementação adequada. Nesses casos, solicitar ácido fólico e vitamina B12.
Plaquetopenia também pode ser a primeira manifestação de lúpus, muitos anos antes do aparecimento dos outros sintomas da doença. Na suspeita clínica de lúpus, solicitar FAN.
Raramente a púrpura trombocitopenia pode estar associada a outros distúrbios autoimunes da tireoide, como tireoidite de Hashimoto e Graves. Se o paciente 2 apresentar sintomas de hiper ou hipotireoidismo, solicitar TSH.
Na gravidez pode ocorrer plaquetopenia fisiológica, devido à hemodiluição. Em 5 % das gestações, essa plaquetopenia é moderada, entre 70 e 140 mil. A plaquetopenia gestacional se resolve espontaneamente após o parto. Plaquetopenia grave acompanhada de outros achados (insuficiência renal, hipertensão, anemia hemolítica, síndrome HELLP) durante a gestação devem ser prontamente avaliadas.
Sangramento em paciente com plaquetopenia leve e moderada pode sugerir uma alteração funcional das plaquetas ou uma coagulopatia. Indivíduos com plaquetopenia e outros sintomas precisam de investigação adicional de acordo com os achados clínicos. Outras alterações hematológicas associadas, como anemia, leucopenia, leucocitose, geralmente sugerem um diagnóstico mais grave e devem ser investigadas.
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