Quais são as causas e manifestações clínicas das infecções oculares?

| 8 fevereiro 2024 | ID: sofs-45566
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH:

As infecções oculares têm como agentes etiológicos vírus, bactérias, fungos e parasitas.  Apresentam-se com diferentes manifestações clínicas, dependendo do tecido ou da estrutura ocular comprometida. As principais manifestações clínicas estão apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1. Agentes Etiológicos e Manifestações Clínicas

Conjuntivites virais causam aproximadamente 80% dos casos de conjuntivite infecciosa aguda em adultos, mas menos de 20% em crianças. Os adenovírus são responsáveis por 65 a 90% dos casos e o tratamento é de suporte. A conjuntivite bacteriana é potencialmente mais grave ocorrendo principalmente em crianças. A principal causa de cegueira é decorrente da infecção pela bactéria Chlamydia trachomatis tracoma.
 
Ceratites se manifestam clinicamente como um processo inflamatório e úlceras de córnea, que podem ser causadas por infecções virais – mais comum o herpes simples e herpes zoster, e infecções microbianas (bacterianas, fúngicas ou parasitárias).  A ceratite microbiana é quinta principal causa de cegueira em todo o mundo.
 
Endoftalmite pode ter causa endógena que é resultante da bacteremia ou fungemia ou   exógena decorrente a contaminação após cirurgia ocular, injeções intravítreas, trauma penetrante ou ceratite.
Uveíte infeciosa é uma importante causa de cegueira em todo o mundo. Mais de 50% dos casos de uveíte posterior são devidos a infecção. A toxoplasmose é o agente etiológico mais frequente.
                                   

As infecções oculares são uma causa importante de perda de visão em todo o mundo. Pacientes com essas infecções são comumente atendidos por prestadores de cuidados primários. Estes atendimentos são muito importantes para reconhecer e tratar precocemente evitando a complicação do quadro clínico, prevenindo também novos casos na comunidade.

A conjuntivite infecciosa ocorre na membrana translúcida que cobre a parte visível da esclera e reveste as pálpebras. Com base em dados de junho de 2022, a OMS estima que 125 milhões de pessoas vivem em áreas endêmicas com Chlamydia trachomatis com maior risco de cegueira. A infecção se espalha através do contato pessoal (através das mãos, roupas, roupas de cama ou superfícies duras) e por moscas que estiveram em contato com secreção dos olhos ou nariz de uma pessoa infectada. Na evolução clínica dos casos de tracoma, após infecções repetidas, o interior da pálpebra pode ficar com cicatrizes tão graves que faz com que os cílios esfreguem contra o globo ocular (triquíase tracomatosa), resultando em dor constante e intolerância à luz. Se não for tratada, esta condição leva à formação de opacidades irreversíveis, com consequente deficiência visual ou cegueira. A OMS recomenda a eliminação do tracoma através de uma estratégia que inclua a administração em massa de azitromicina em regiões onde a infecção é endêmica. No Brasil, dados levantados pelo Ministério da Saúde no período de 2008 a 2019, registrados no Sistema de informação de Agravos de Notificação-Sinan, revelam que 5.719.967 pessoas foram examinadas e identificados 191.048 casos de tracoma. O percentual médio de positividade de tracoma entre os examinados no país, neste período, foi de 3,3%, com variações médias entre 1,4 e 4,9%.

As ceratites infecciosas podem ser causadas por infecções virais e infecções microbianas (bacterianas, fúngicas ou parasitárias). O herpes zoster oftálmico pode complicar aproximadamente em 8% dos casos. Os fatores de risco das ceratites incluem uso de lentes de contato, trauma ocular, doença subjacente da córnea e doença da superfície ocular (por exemplo, olho seco grave).  As bactérias causam aproximadamente 90% dos casos de ceratite, mais comumente Pseudomonas aeruginosa, S. aureus ou estreptococos. Outros patógenos incluem fungos, principalmente fusarium e aspergillus, e acanthamoeba.

Uveíte refere-se à inflamação da úvea (composta pela íris, corpo ciliar e coróide), mas a inflamação também pode envolver estruturas adjacentes (por exemplo, humor vítreo e retina).  A uveíte é dividida em categorias com base no local anatômico de maior inflamação.  A uveíte anterior é mais comum, mas a posterior e a panuveíte são geralmente mais ameaçadoras para a visão. A maioria dos casos de uveíte é idiopática ou imunomediada, mas a causa infecciosa está presente em 10 a 20% dos casos nos países desenvolvidos e em 30 a 50% nos países em desenvolvimento.

As medidas preventivas incluem práticas de controle de infecção para prevenir a propagação da conjuntivite viral, cuidados com lentes de contato para prevenir ceratite microbiana, uso de óculos de segurança para prevenir lesões oculares e infecções relacionadas, antibióticos profiláticos para prevenir endoftalmite após trauma ocular penetrante e vacinação contra herpes zoster, para prevenir o herpes zoster oftálmico.

Bibliografia Selecionada:

1. Kase C, Boppre YT, Rocchetti TT, et als. Ceratite microbiana em São Paulo, Brasil: uma revisão de 10 anos dos resultados de laboratório, características epidemiológicas e fatores de risco. Arq Bras Oftalmol. 2024; 87(6):e2022-00660. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5935/0004-2749.2022-0060 [Acesso:24/01/2024]

2. Durand ML, Barshak MB, Sobrin L. Eye Infections. N Engl J Med. 2023 Dec 21;389(25):2363-2375. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra2216081 [Acesso:24/01/2024]

3. Organización Mundial de la Salud (OMS). Tracoma.2022. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/trachoma [Acesso:24/01/2024]

4. Brasil. Ministério da Saúde – Tracoma – Situação epidemiológica. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/t/tracoma/situacao-epidemiologica [Acesso:24/01/2024]