Quais os tratamentos não medicamentosos para dor crônica?

| 8 julho 2016 | ID: sofs-25188
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH:
Graus da Evidência:

Existem várias modalidades de tratamento não medicamentoso para dor crônica: intervenções comportamentais, psicoterapia, técnicas de relaxamento, acupuntura e auriculoterapia são as principais.
Primeiramente para abordagem adequada da dor crônica é importante ter em mente que a evolução do tratamento para dor depende de respostas individuais da relação do paciente com sua própria dor¹. A dor pode ser, por exemplo, expressão de um conflito interior que de uma forma consciente ou não. A ansiedade relacionada à dor encontra-se ligada a diferentes tipos de temores, como a não compreensão da causa do problema, incapacidade de resolvê-lo, medo de que haja alguma doença muito grave e possibilidade de que o sofrimento possa se perpetuar¹. Algumas pessoas chegam a transformar sua dor no foco principal de suas vidas¹.


Portanto, os processos psicológicos, aspectos culturais, assim como as experiências passadas influenciam na percepção e resposta à dor. Em alguns casos, a mera verbalização assegura o término do processo doloroso e pode propiciar alívio total¹. Em outros, pode ser necessário emprego de uma gama de opções terapêuticas medicamentosas e não medicamentosas para manejo adequado.
As intervenções psicológicas mais importantes baseiam-se nos princípios da teoria da aprendizagem. As intervenções comportamentais visam a alteração de comportamentos óbvios, tais como tomar medicação e recorrer ao sistema de saúde ou de outros aspetos relacionados com atividades da vida profissional, pessoal e de lazer². O objetivo terapêutico dessas intervenções passa pela redução do comportamento passivo de dor e pelo estabelecimento de formas de comportamento mais ativas². Um comportamento passivo frente a dor é patológico e se traduz no evitamento ansioso de qualquer atividade física e social, pelo medo da dor².
Estratégias de modificação cognitivo-emocional, por sua vez, focam na alteração dos processos cognitivos (convicções, atitudes, expectativas, padrões e pensamentos “automáticos”). Trata-se de ensinar ao paciente estratégias de lidar com a sua dor e limitação, munindo-a com um conjunto de novas e apropriadas competências cognitivas. Por exemplo, a pessoa aprende a identificar pensamentos que desencadeiam ou mantêm a dor, a entender as características situacionais e a desenvolver estratégias alternativas para lidar com a dor². As técnicas de relaxamento, por sua vez, são eficazes porque ensinam os pacientes a produzir, intencionalmente, uma resposta de relaxamento, processo psicofisiológico que reduz o estresse e a dor. Os exercícios de relaxamento executados corretamente podem contrariar as respostas fisiológicas de curto prazo e prevenir um circuito de feedback positivo entre a dor e as reações de estresse². A acupuntura é outra opção excelente para tratamento da dor crônica. A OMS apoia o uso de acupuntura para tratamento de dores lombares, pós-operatórias e as reações adversas à radioterapia e à quimioterapia². Em 1997, uma Conferência de Consenso no National Institutes of Health (NIH), nos Estados Unidos, concluiu que a Acupuntura é eficaz no alívio da dor, das náuseas e da osteoartrose. Quanto a auriculoterapia, estudos3 demonstraram que é um tratamento efetivo principalmente para diminuição da ansiedade e estresse o que levou a uma redução da percepção da dor nos pacientes durante o tratamento. e apontam que a acupuntura auricular tem alta taxa de efetividade, taxa e cura, baixa taxa de recorrência da afecção.
Existem ainda outras abordagens terapêuticas: atividade física regular, ioga¹, terapia com calor local, massagem ou fisioterapia que podem ser utilizadas conforme a capacidade física do doente e sob supervisão de profissional habilitado5.
À medida que aprendem progressivamente estas técnicas, os doentes vão tendo mais capacidade de reconhecer a tensão interna, o que também os torna mais conscientes das situações e das fontes pessoais de estresse².
A partir dessa discussão, pode-se pressupor que o tratamento da dor crônica é sempre interdisciplinar. Assim, torna-se fundamental que as equipes responsáveis por tais pacientes elaborarem um projeto terapêutico singular (PTS) para cada caso no intuito de melhor manejar o sintoma da dor. O PTS é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas que resultam da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar, com apoio matricial se necessário6.

Bibliografia Selecionada:

1 IASP. Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos. 2010. Disponível em: http://www.iasp-pain.org/files/Content/ContentFolders/Publications2/FreeBooks/GuidetoPainManagement_Portuguese.pdf [último acesso dia 23 de nov de 2015]

2 BASTOS DF et al. Dor. Rev. SBPH [online]. 2007; 10 (1) 85-96 Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rsbph/v10n1/v10n1a07.pdf

3 KUREBAYASHI   LFS, FREITAS GF, OGUISSO T. Enfermidades tratadas e tratáveis pela acupuntura segundo percepção de enfermeiras. Rev. esc. enferm. USP [online]. 2009; 43(4): 930-936. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43n4/a27v43n4.pdf

4 ZANELATTO AP. Avaliação da acupressão auricular na síndrome do ombro doloroso: estudo de caso. Rev. bras. enferm. [online]. 2013; 66(5): 694- 701. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n5/09.pdf

5 BRASIL. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Dor Crônica. Portaria SAS/MS nº 1.083, de 02 de outubro de 2012. Disponível em : http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2012/prt1083_02_10_2012.html

6 BRASIL. Clínica ampliada, equipe de referência e projeto terapêutico singular. 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2007. 60p.  Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/clinica_ampliada_2ed.pdf