Quais os sinais e sintomas para o diagnóstico precoce da artrite reumatoide?

| 6 fevereiro 2023 | ID: sofs-45250
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , ,

Atualmente, a definição da fase inicial da Artrite Reumatoide compreende as primeiras semanas ou meses de sintomas (em geral, menos de 12 meses), destacando-se como período crítico as primeiras 12 semanas de manifestações como a Artrite Reumatoide muito inicial ou muito precoce.  Um grupo de trabalho da Associação Americana de Reumatologia (ACR) e da Liga Europeia Contra o Reumatismo (EULAR) desenvolveu uma abordagem para classificar a fase inicial entre os pacientes com quadro recente, os casos que necessitariam tratamento precoce. Dois requisitos obrigatórios devem ser atendidos. Primeiro, deve haver evidência clínica de sinovite ativa (ou seja, edema) no momento do exame em pelo menos uma articulação. Todas as articulações podem ser avaliadas, exceto aquelas normalmente envolvidas na osteoartrite (interfalangianas distais – IFD, primeiro metatarsofalangeana -1ª MTF e primeira carpometacarpiana – CMTC. Em segundo lugar, é exigido julgamento clínico, pois os critérios só podem ser aplicados quando outras possíveis causas de sinovite (por exemplo, lúpus sistêmicos e gota) forem excluídas. Um sistema de pontuação baseado em medidas que serão usadas na prática clínica é aplicado, e a doença será classificada como Artrite Reumatoide se um total de 6 ou mais pontos (de um valor máximo de 10) for atingido a partir da pontuação obtida em cada um dos quatro diferentes domínios (acometimento articular, sorologia, duração dos sintomas e prova de atividade inflamatória),

Quadro 1: Critérios classificatórios de Artrite Reumatoide ACR-EULAR

Legenda: FR=Fator Reumatoide; ACCP= anticorpo anticitrulina

Fonte: Mota LMH et als., 2013

A artrite reumatoide é uma doença inflamatória sistêmica, crônica e progressiva, que acomete preferencialmente a membrana sinovial das articulações, podendo levar à destruição óssea e cartilaginosa. Registra-se a ocorrência dessa doença em cerca de 0,5%-1% da população mundial adulta, em todos os grupos étnicos, predominando no gênero feminino. Embora haja registro em todas as faixas etárias, a condição ocorre, sobretudo, em pacientes entre a quarta e sexta décadas de vida.

As manifestações clínicas podem ser divididas em articulares e extra articulares. Como é uma doença sistêmica, sintomas gerais como febre, astenia, fadiga, mialgia e perda ponderal podem preceder ou acompanhar o início das manifestações articulares.

São características da artrite reumatoide: acometimento poliarticular: geralmente mais de quatro articulações estão envolvidas; artrite em mãos e punhos: o acometimento dos punhos, das metacarpofalangeanas  e das interfalangeanas proximais  é frequente, desde o início do quadro; artrite simétrica: a artrite costuma ter padrão cumulativo (acomete progressivamente novas articulações, sem deixar de inflamar as anteriormente afetadas); rigidez matinal prolongada, caracterizada por enrijecimento e sensação de inchaço, percebida sobretudo pela manhã. Diferente da breve rigidez observada na osteoartrite (geralmente 5-10 minutos), no caso das doenças inflamatórias a rigidez dura mais de uma hora. Os pacientes tabagistas evoluem mais com manifestações extra articulares (pleurite, pericardite, doença pulmonar intersticial, neuropatia, glomerulonefrite, vasculites) que os não tabagistas.

Dois autoanticorpos são importantes para o diagnóstico e para avaliar o prognóstico e progressão da doença. O fator reumatoide – FR, um autoanticorpo, é encontrado no soro de cerca de 70% dos pacientes e correlaciona-se estatisticamente com pior prognóstico, entretanto não é específico da artrite reumatoide, pois podem ser encontrados em outras doenças autoimunes. Outro é o anticorpo anticitrulina (ACCP) demonstra maior aplicabilidade clínica, pois são detectados muito precocemente na evolução e pode ser usado como indicador de progressão e prognóstico da doença. O ACCP é um marcador com sensibilidade semelhante à do FR, mas com especificidade superior, sobretudo na fase inicial da doença, recomenda-se a sua pesquisa em pacientes com suspeita clínica de artrite reumatoide e FR negativo.

A radiografia convencional é o método de imagem mais utilizado na avaliação de dano estrutural articular na artrite reumatoide . Além de ser uma ferramenta útil para o diagnóstico, é importante no monitoramento da progressão da doença, quando repetida em intervalos regulares. Os achados radiográficos iniciais incluem aumento de partes moles e osteopenia justarticular. As lesões mais características, como redução do espaço articular e erosões ósseas, aparecem mais tardiamente. A ultrassonografia pode contribuir com o diagnóstico de erosões articulares nos pacientes, bem como no seguimento com relação à progressão da doença. A ressonância magnética é o método mais sensível para detectar as alterações em sua fase inicial. Permite avaliar alterações estruturais de partes moles, ossos e cartilagens, além de erosões, nos estágios iniciais da doença, mas o uso da radiografia convencional continua sendo o método de imagem mais empregado na Atenção Primaria para o diagnóstico e seguimento clínico da doença.
A compreensão da fisiopatogenia da artrite reumatoide, de seus métodos diagnósticos sofreram consideráveis avanços nos últimos anos, destacando-se a importância dada ao período inicial da doença, a chamada artite reumatoide inicial. O diagnóstico na fase inicial pode ser difícil já que alterações sorológicas e radiográficas características muitas vezes estão ausentes.

Bibliografia Selecionada:

1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia. TelessaúdeRS (TelessaúdeRS-UFRGS); Rio Grande do Sul . Secretaria da Saúde. Protocolos de Regulação Ambulatorial – Reumatologia Adulto: versão digital 2022. Porto Alegre: 20 jan. 2022:35p. Disponível em: https://www.ufrgs.br/telessauders/documentos/protocolos_resumos/protocolo_ses_reumatologia_20170911_v015_cvc.pdf [Acesso:02/02/2023]

2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias e Inovação em Saúde. Coordenação Geral de Gestão de Tecnologias em Saúde. Coordenação de Gestão de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Artrite Reumatoide. 2020:194p. Disponível em:  https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/relatorios/2020/relatrio_artrite_reumatoide_cp_21_2020.pdf [Acesso:02/02/2023]

3. Mota LMH, Cruz BA, Brenol CV, et als.  Diretrizes para o diagnóstico da artrite reumatoide. Rev Bras Reumatol 2013;53(2):141-157. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0482-50042013000200003 [Acesso:16/01/2023]

4. Villeneuve E, Nam J, Emery P. Critério de classificação da artrite reumatoide ACR-EULAR 2010 (Editorial). Bras J Rheumatol 2010;50(5):481-86. Disponível em:  https://www.scielo.br/j/rbr/a/bRRcHYVVXgG5Y559BBgWmJw/?format=pdf [Acesso em 16/01/2023]