Quais os riscos do uso prolongado dos benzodiazepínicos?

| 21 julho 2016 | ID: sofs-25238
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH:
Graus da Evidência:

O uso prolongado dos benzodiazepínicos (BZD), ultrapassando períodos de 4 a 6 semanas1, pode levar dependência, tolerância2,3 e síndrome de abstinência1. No entanto, antes de se considerar a dependência e tolerância, pura e simples, recomenda-se verificar se o BDZ não está sendo utilizado como paliativo de uma situação emocional não resolvida1.
Os efeitos adversos comuns no uso prolongado são os déficits cognitivos (perda de atenção e dificuldade de fixação)1, fraqueza, náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia, dores articulares e torácicas, incontinência urinária, desequilíbrio, pesadelos, taquicardia, alucinações, hostilidade e alteração do comportamento, que tendem a se instalar no curso da utilização desses medicamentos. Observa-se overdose de BZD, entre as tentativas de suicídio, associados ou não a outras substâncias. Há risco aumentado de quedas, problemas respiratório em idosos e dependência em pessoas que tomam vários medicamentos concomitantemente (poliusuários de medicamentos), doenças psiquiátricas e mulheres idosas1. Quando presentes tais efeitos, o medicamento deve ser suspenso4.
Os efeitos adversos dos BDZ têm sido amplamente documentados e sua eficácia está sendo cada vez mais questionada2. Vale a pena esgotar todas as opções terapêuticas tais como: medicamentos antidepressivos1 e práticas integrativas e complementares – terapia cognitiva-comportamental, psicodinâmica5, meditação, práticas corporais, práticas manuais, /balneoterapia6, acupuntura7, fitoterápicos9 e yoga10, resguardando ao máximo o uso dos BDZ1. (nível de evidência B)
A prevenção do uso prolongado, a motivação para a retirada e a inserção de outras práticas de apoio ao usuário são medidas necessárias para evitar uso e prescrição inadequada de longo prazo dos BDZ2. A retirada desta medicação é geralmente benéfica, uma vez que é seguida por melhora psicomotora e o funcionamento cognitivo, particularmente nos idosos. Recomenda-se realizar um processo gradual em até 6 meses, caso contrário, pode tornar-se difícil ao usuário. Esse processo de retirada é viável e benéfico na atenção primária2.


Espera-se das equipes da Estratégia da Saúde da Família (ESF), como primeiro contato, estratégias que proporcionem espaço de orientação, sensibilização, discussão de casos para analisar o componente subjetivo e singularidades associado às queixas e necessidades dos usuários acompanhados tanto por especialista da saúde mental quanto por médico da saúde da família (coordenação do cuidado). A inserção das práticas integrativas e complementares em saúde pode contribuir para o cuidado integral e promoção da saúde, especialmente do autocuidado11,12.

Bibliografia Selecionada:

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde mental. Brasília : Ministério da Saúde, 2013. Disponível em:http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_34.pdf [Acesso em: 4 mai. 2016]
    2 –Janhsen K; Roser P; Hoffmann K. The Problems of long-term treatment with benzodiazepines and related substances prescribing practice, epidemiology, and the treatment of withdrawal. Dtsch Arztebl Int. 2015; 112(1-2): 1–7. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4318457
    3 – Alessi-Severini S et al. Sustained use of benzodiazepines and escalation to high doses in a Canadian population. Psychiatr. Serv. 2016; 2. Disponível em: http://ps.psychiatryonline.org/doi/pdf/10.1176/appi.ps.201500380
    4 – Sweetman SC. Martindale: the complete drug reference. 36rd. London: Pharmaceutical Press, 2009. 2756p.
    5 – Herings RM, Stricker BH, de Boer A, Bakker A, Sturmans F. Benzodiazepines and the risk of falling leading to femur fractures. Dosage more important than elimination half-life. Arch Intern Med. 1995. 11155(16):1801-7. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7654115
    6 – George CF. Perspectives on the management of insomnia in patients with chronic respiratory disorders. Sleep. 2000 Suppl 1:S31-5 discussion S36-8. Review. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10755806
    7 – Lader M; Tylee A; Donoghue J. Withdrawing benzodiazepines in primary care. CNS Drugs. 2009; 23 (1) : 19-34. Disponível em: http://www.healthhb.co.nz/wp-content/uploads/2012/03/Withdrawal-of-benzos-in-primary-care.pdf
    8 – Vicens C et al. Withdrawal from long-term benzodiazepine use: randomised trial in family practice. Br J Gen Pract. 2006;56(533):958-63. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1934057/ 
    9 – Paxling B. et al. Guided internet-delivered cognitive behavior therapy for generalized anxiety disorder: a randomized controlled trial. Cogn Behav Ther. 2011;40(3):159-73. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21770848?dopt=Abstract& [Acesso em 11 mai 2016]
    10 – Sherman KJ et al. Effectiveness of therapeutic massage for generalized anxiety disorder: a randomized controlled trial. Depress Anxiety. 2010 May;27(5):441-50. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20186971?dopt=Abstract& [Acesso em 11 mai 2016]
    11 – Katzman MA et al. A multicomponent yoga-based, breath intervention program as an adjunctive treatment in patients suffering from generalized anxiety disorder with or without comorbidities. Int J Yoga. 2012 Jan;5(1):57-65. Disponível em:  http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22346068?dopt=Abstract&   [Acesso em 11 mai 2016]
    12 – Dubois O et al. Balneotherapy versus paroxetine in the treatment of generalized anxiety disorder. Complement Ther Med. 2010 Feb;18(1):1-7. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20178872?dopt=Abstract& [Acesso em 11 mai 2016]
    13 – Faustino, TT, Almeida, RBA, Andreatini, RA. Plantas medicinais no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada: uma revisão dos estudos clínicos controlados. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. 2010, vol.32, n.4, pp.429-436. Disponível em:http://www.scielo.br/pdf/rbp/v32n4/a17v32n4.pdf [Acesso em 11 mai 2016]
    14 – Arvidsdotter, T et al. Effects of an integrative treatment, therapeutic acupuncture and conventional treatment in alleviating psychological distress in primary care patients–a pragmatic randomized controlled trial. BMC Complement Altern Med. 2013 Nov 7;13:308. Disponível em:  http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24200100?dopt=Abstract& [Acesso em 11 mai 2016]