O trabalho docente não expõe o professor a agentes mecânicos, físicos e químicos que possam causar alterações odontológicas de forma direta. Estudos apontam que os principais agravos relacionados ao trabalho dos professores são transtornos psíquicos, como estresse, depressão, ansiedade, exaustão, Bournout; doenças do aparelho respiratório (laringite, dor de garganta, tosse, alterações da voz); e doenças do aparelho osteomuscular , como dores nas pernas, dor nas costas, e lesão por esforço repetitivo (LER)1,2.
Embora os professores não sofram de problemas de saúde bucal decorrentes diretamente do seu trabalho, dois agravos podem ser decorrentes de transtornos psicológicos e uso de medicamentos: a xerostomia e o bruxismo.
A xerostomia, ou sensação de boca seca, resulta de certas doenças ou pode ser efeito secundário de alguns medicamentos. Até o presente, a xerostomia tem sido relacionada com a ingestão de mais de 500 medicamentos. As drogas implicadas com mais frequência são os antidepressivos tricíclicos, os anti-histamínicos, os benzodiazepínicos, os atropínicos e os betabloqueadores3.
Já o bruxismo é uma forma involuntária e inconsciente, caracterizada pelo ato de ranger, apertamento maxilo-mandibular ou movimento de deslizamento dos dentes, tendo manifestação no período diurno, chamado bruxismo cêntrico e durante o sono, chamado bruxismo excêntrico. Vários fatores etiológicos predispõem uma pessoa ao desenvolvimento do bruxismo, sendo além dos fatores locais e hereditários, os psicológicos, a ansiedade, o estresse e as situações emocionais4.
A Odontologia do Trabalho tem como atributos a identificação, avaliação e vigilância dos fatores ambientais (relacionando-se com o local de trabalho), que possam constituir risco à saúde bucal em qualquer das fases do processo de produção. É a parte da atenção à saúde que trata de promover, preservar e recuperar a saúde bucal do trabalhador, consequente dos agravos, afecções ou doenças do exercício profissional, e que tem manifestações bucais. Sua ação deve ser voltada para a prevenção de todos os agravos laborais, ou seja, objetiva a prevenção de doenças decorrentes da atuação profissional e dos acidentes de trabalho 5,6.
As exposições ocupacionais que podem desencadear alterações bucais podem ser classificadas em agentes mecânicos, físicos e químicos 5,6.
As condições de trabalho, ou seja, as circunstâncias sob as quais os docentes mobilizam as suas capacidades físicas, cognitivas e afetivas para atingir os objetivos da produção escolar podem gerar esforço excessivo de suas funções psicofisiológicas.O professor é um trabalhador que, muitas vezes, se submete a longas jornadas de trabalho, cotidianamente vivencia desavenças entre os alunos, apartadas e conciliadas por ele, seus intervalos para descanso e alimentação costumam ser curtos, os salários que recebe, geralmente, não condizem com a quantidade de horas que se dedica ao trabalho. Muitas vezes pode ser vítima de violência dos alunos e/ou de outras pessoas. Essa gama de situações pode levá-lo a adoecimentos e a diversificados eventos acidentários2.
Desta forma, sugere-se que o tema Saúde do Trabalhador com foco nos professores seja trabalhado de forma multiprofissional, em especial com médico e profissionais do NASF: psicólogo, fonoaudiólogo e fisioterapeuta, abordando os principais problemas de saúde que acometem esta classe. No caso da saúde bucal, podem ser realizadas consultas odontológicas convencionais e orientação de higiene e de dieta com redução do uso de açúcar. Sugere-se que a anamnese do paciente contemple a pesquisa de medicamentos em uso e questione a ocorrência de problemas como estresse, ansiedade ou depressão relacionados ao trabalho, e posteriormente seja realizado exame clínico para possível diagnóstico de xerostomia ou bruxismo.