Tanto a amantadina quanto a rimantadina são eficazes no tratamento e na prevenção de influenza A e, em menor grau, nas “infecções tipo influenza” (sem confirmação laboratorial do tipo viral, mas com diagnóstico clínico de influenza). Efeitos adversos envolvendo o SNC e o número de abandono do uso na prevenção foram maiores com amantadina. Não houve diminuição do período de transmissão nem no número de infecções assintomáticas. O efeito profilático com a amantadina não foi influenciado pelo estado vacinal prévio. As drogas estudadas devem ser utilizadas somente em último caso e em situação de emergência.
A importância dessa revisão sistemática (1) para o trabalho em Atenção Primária (APS) é demonstrar que, para o tratamento, essas duas drogas só devem ser utilizadas em caso de inefetividade dos medicamentos sintomáticos (mais baratos e amplamente disponíveis na APS) em situações de sofrimento muito intenso. Evidencia também que seu uso profilático, especialmente diante dos riscos epidêmicos que preocupam a população mundial, devem ser acompanhados da orientação de usarem-se medidas de proteção contra a transmissão. A redução de incidência da gripe não é acompanhada por redução da presença virótica em vias aéreas, o que poderia amplia a disseminação da doença se apenas fossem prescritas as medicações.
Sumário das evidências A amantadina preveniu 25% dos casos de doença “tipo influenza” (diagnóstico clínico) e 61% dos casos de influenza A (comprovados laboratorialmente) (95% IC 13-36% e 35-76%, respectivamente). A amantadina reduziu a duração da febre em 1 dia (95% IC 0,7-1,2) e a rimantadina também (95% IC 0,76-1,71). Não houve alteração na presença de vírus na secreção nasal nos casos sintomáticos com uso das duas drogas versus placebo . Não houve diferenças quanto ao estado vacinal prévio (RR 0,45; IC 95% 0,28-0,74 e RR 0,10; 95% IC 0,03-0,34). Os estudos envolvendo a rimantadina contra placebo foram menos numerosos e menores sendo o efeito com esta droga somente evidenciado na profilaxia após tratamento estatístico não explicitado na revisão, o que sugere que a rimantadina provavelmente é menos eficaz, embora seja mais segura na profilaxia (ver quadro abaixo). Comparando-se a amantadina com a rimantadina, não houve diferença na eficácia (RR 0,88; 95% IC 0,57-1,35).
Quanto aos efeitos adversos, a amantadina apresentou, comparada com placebo para profilaxia, mais efeitos gastrointestinais (principalmente náusea, OR 2,56; 95% IC 1,37-4,79), insônia e alucinações (OR 2,54; 95% IC 1,5-4,3) e abandono do estudo devido a efeitos adversos (2,54; 95% IC 1,60- 4,06). A rimantadina também apresentou mais efeitos colaterais do que o placebo (OR 1,96; 95% IC 1,19-3,22). Entretanto, não há relato de sintomas adversos relacionados ao SNC e os abandonos foram semelhantes nos dois grupos, nos estudos que avaliaram tratamento. A comparação direta entre as duas drogas confirmou um maior número de eventos adversos no SNC e abandonos com amantadina (OR 3,11; 95% IC 1,67-5,78 e OR 2,49; 95% IC 1,26-4,93, respectivamente). Não houve aumento de efeitos adversos da amantadina nos estudos de tratamento, mas são poucos estudos. O mesmo ocorreu para a rimantadina versus placebo e versus amantadina.
Os efeitos da amantandina oral ou inalada na disseminação do vírus influenza não foram significantes (RR 0,93; 95% IC 0,71-1,21). O uso de medicação sintomática obteve o mesmo resultado que a amantadina em redução dos dias de febre (WMD 0,25, 95% CI -0,37 a 0,87) em dois estudos.
Amantadina oral versus placebo (profilaxia)
Desfecho
No. de estudos
No. de participantes
Método Estatístico
Resultado
01 Casos influenza
11
4645
Relative Risk (Random) 95% CI
0.39 [0.24, 0.65]
02 Infecções como influenza (ILI cases)
15
17496
Relative Risk (Random) 95% CI
0.75 [0.64, 0.87]
Rimantadine oral versus placebo (profilaxia)
Desfecho
No. de estudos
No. de participantes
Método Estatístico
Resultado
01 Casos influenza
3
688
Relative Risk (Random) 95% CI
0.28 [0.08, 1.08]
02 ILI cases
3
688
Relative Risk (Random) 95% CI
0.65 [0.35, 1.20]
Oral amantadine versus oral rimantadine (profilaxia)
Desfecho
No. de estudos
No. de participantes
Método Estatístico
Resultado
01 Influenza
2
455
Relative Risk (Random) 95% CI
0.89 [0.48, 1.65]
02 ILI cases
2
455
Relative Risk (Random) 95% CI
0.88 [0.57, 1.35]
Oral amantadine versus placebo (tratamento)
Desfecho
No. de estudos
No. de participantes
Método Estatístico
Resultado
01 Duração da febre (37 graus celsius ou mais) em dias
10
542
Weighted Mean Difference(diferença ponderada das médias) (Random) 95% CI
-0.99 [-1.26, -0.71]
Oral rimantadine versus placebo (treatment)
Desfecho
No. de estudos
No. de participantes
Método Estatístico
Resultado
01 Duração da febre (37 graus celsius ou mais) em dias
3
82
Weighted Mean Difference (Random) 95% CI
-1.24 [-1.71, -0.76]
02 Casos com febre em 48 horas
4
122
Relative Risk (Random) 95% CI
0.16 [0.05, 0.53]
Oral amantadine versus oral rimantadine (treatment)
Desfecho
No. de estudos
No. de participantes
Método Estatístico
Resultado
01 Duração da febre (37 graus celsius ou mais) em dias
1
40
Weighted Mean Difference (Random) 95% CI
0.20 [-0.56, 0.96]
Bibliografia Selecionada:
Jefferson Tom, Demicheli Vittorio, Di Pietrantonj Carlo, Rivetti Daniela. Amantadine and rimantadine for influenza A in adults. The Cochrane Library, Issue 2, Art. No. CD001169. Disponível em: http://cochrane.bvsalud.org/doc.php?db=reviews&id=CD001169&lib=COC Acesso em: 10/mar/2015.