Quais os cuidados e orientações que devem ser dispensados aos pacientes idosos e acamados com infecções urinárias de repetição?

| 18 abril 2022 | ID: sofs-44845
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , ,

Alguns cuidados e orientações podem ser dispensados aos pacientes idosos e acamados que apresentam infecção urinária de repetição, dentre as quais(1,2,3):

·       Orientar o paciente a beber bastante líquido (média de 2 litros por dia), caso não haja nenhuma contraindicação;

·       Instruir o paciente a evitar reter a urina e estimular a micção espontânea através da emissão de som de água corrente; aplicação de bolsa com água morna sobre a região supra púbica; realização de pressão supra púbica delicada; oferta de comadres e papagaios;

·       Manter o paciente sempre com uma higiene pessoal adequada;

·       Evitar o uso de fraldas o máximo possível e realizar frequentes trocas nos casos de sua utilização;

·       Lavar a região perianal após as evacuações, caso não seja possível fazer limpeza adequadamente;

·       Evitar o uso indiscriminado de antibióticos sem indicação médica;

·       Evitar o uso de absorventes internos, caso as pacientes ainda estejam menstruando;

·       Ter preferência ao banho de chuveiro, sempre que possível;

·       Evitar sondas e mantê-las somente o tempo necessário; se possível, escolher a intermitente (conhecida como sondagem de alívio);

·       Ter cuidado com técnicas de sondagem, caso seja necessário sondar paciente;

·       Manter controle de doenças como diabetes pode ajudar no controle de Infecção do trato urinário (ITU) de repetição;

·       Manter uma alimentação nutritiva, para fortalecer a imunidade.


Infecção do trato urinário, sintomática ou assintomática (bacteriana), é a infecção mais frequente, independentemente do sexo, acometendo aproximadamente 20% das mulheres e 10% dos homens idosos. Esta prevalência praticamente duplica após os 80 anos, podendo alcançar cerca de 50% das pessoas idosas debilitadas ou hospitalizadas(2).

Fatores de risco para ITU incluem sondas, hipertrofia prostática benigna e prostatite em homens; vaginite atrófica, enfraquecimento do assoalho pélvico e deficiência de estrogênio em mulheres; diabetes, bexiga neurogênica, demência, imobilidade, imunodeficiência relacionada à idade; desidratação, comprometimento funcional e contaminação fecal(2-6).

 

A pessoa que está com ITU pode apresentar os seguintes sintomas: disúria com ardência e queimação; urgência para urinar; frequência miccional aumentada (vai várias vezes ao banheiro); urina em pequena quantidade; sensação de não esvaziamento da bexiga; febre; incontinência urinária (perda involuntária de urina); dor supra púbica e hematúria(2,3). A pessoa idosa pode apresentar outros sintomas que não são observados com frequência em jovens como: mal-estar indefinido; falta de apetite; fraqueza; calafrios; confusão mental (delirium)(2).

 

O diagnóstico da ITU é feito pela história clínica, exame físico e por exames laboratoriais que são solicitados pelo médico, dentre eles: exame de urina, que pode demonstrar pus, sangue ou aglomerados de bactérias; urocultura, para identificar patógeno e terapia direta; exames de imagem, que algumas vezes são necessários para complementar a avaliação médica como, por exemplo, a ultrassonografia (ecografia), a tomografia computadorizada e a ressonância magnética. Esses exames são bastante específicos e utilizados em poucos casos. Como as pessoas idosas podem apresentar sintomas pouco característicos, a urocultura pode ter grande importância nestes pacientes(2).

 

As bactérias que causam ITU no idoso são em geral mais resistentes que na população mais jovem, porque a maior frequência desses processos requer repetidos ciclos de antibióticos que originaram a seleção de agentes(5,6).Dessa forma, recomendam-se(5,6):

·  Na bacteriúria assintomática, o tratamento não dever ser com antibióticos, pois existe o risco desnecessário de seleção de bactérias mais resistentes, da interação e reação alérgica às drogas, além dos custos do tratamento;

·  Evitar tratamentos empíricos em idosos;

·  Nas cistites não complicadas das mulheres idosas, o tratamento geral e adequado pode ser feito com antibioticoterapia por três dias; tratamento mais prolongado, 7 a 10 dias, também é indicado já que na população idosa os índices de recorrência são superiores;

·  Nas cistites dos idosos do sexo masculino, a duração do tratamento deve necessariamente ser mais longa, de 7 a 14 dias;

·   Na profilaxia e prevenção de infecção urinária de repetição em idosos: hidratação e estímulo a micções frequentes, pesquisa e tratamento de fatores contribuintes (HBP, disfunções miccionais, entre outros), tratamento tópico com estrógeno vaginal em mulheres em ou pós menopausa e profilaxia medicamentosa com antibióticos em baixas doses por períodos de três a seis meses.

 

Atributos da APS: Paciente acamado que apresenta ITU de repetição em sua grande maioria requer cuidados multidisciplinares (agente comunitário de saúde, enfermeira, médico, técnico em enfermagem, fisioterapeutas e outros), e nesse caso a equipe de saúde da atenção primária deve estar presente para coordenar seu cuidado de forma integrada para garantir e organizar as intervenções evitando a fragmentação da assistência.

Bibliografia Selecionada:

1. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Gerência de Vigilância e Monitoramento em Serviços de Saúde (GVIMS).  Gerência Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde (GGTES). Medidas de Prevenção de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde. Série Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde [internet]. [acesso em 10 jan 2022].  2013:92p. Disponível em: https://segurancadopaciente.com.br/wp-content/uploads/2015/09/ebook-anvisa-04-medidas-de-prevencao-de-de-infeccao-relacionada-a-assistencia-a-saude.pdf

 

2. Born T. Cuidar Melhor e Evitar a Violência: Manual do Cuidador da Pessoa Idosa – Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos. [acesso em 10 jan 2022]. 2008:330p. Disponível em: http://www.observatorionacionaldoidoso.fiocruz.br/biblioteca/_manual/12.pdf

 

3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Caderno de atenção domiciliar. Vol. 2. Brasília – DF. [acesso em 10 jan 2022]. 2013:207p. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/cad_vol2.pdf

 

4. DynaMed [Internet]. Ipswich (MA): EBSCO Information Services. 1995 -. Record No. T904740, Recurrent Cystitis in Women. [acesso em 10 jan 2022]. 2019. Disponível em:  https://www.dynamed.com/topics/dmp~AN~T904740

 

5. Rodrigues TM, Grieco AS, Simões FA, Castilho LN. Infecção urinária. [acesso em 10 jan 2022].  RBM rev. bras. Med. 2010;67(1/2):100-109. Disponível em: https://www.aeciherj.org.br/publicacoes/Informativos-CCIH/Infeccao-urinaria_Conduta.pdf

 

6. Richards MJ. Causes of infection in long-term care facilities: An overview. [acesso em 10 jan 2022]. UpToDate. Feb, 2020. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/causes-of-infection-in-long-term-care-facilities-an-overview?source=search_result&search=causes+of+infection+in+long+term+care+facilities+an&selectedTitle=1%7E150