O que caracteriza uma gestação de alto risco?

| 24 outubro 2018 | ID: sofs-40577
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,

Gestação de alto risco é “aquela na qual a vida ou a saúde da mãe e/ou do feto e/ou do recém-nascido têm maiores chances de serem atingidas que as da média da população considerada”(1). Embora os esforços dos cientistas para criar um sistema de pontuação e tabelas para discriminar as gestantes de alto risco das de baixo risco não tenham gerado nenhuma classificação capaz de predizer problemas de maneira acurada, existem fatores de risco conhecidos mais comuns na população em geral que devem ser identificados nas gestantes, pois podem alertar a equipe de saúde no sentido de uma vigilância maior com relação ao eventual surgimento de fator complicador.(1)


Como exemplo, estudos mostram que níveis elevados de pressão arterial, mesmo abaixo de 140/90 mmHg durante a gravidez, estão associados a maior risco de complicações maternas e infantis(2). Em uma meta-análise foram avaliadas associações entre a pré-hipertensão (pressão arterial 120-139 / 80-89 mmHg) durante a gestação e o risco de crianças pequenas para a idade gestacional (PIG), bem como o impacto da pré-hipertensão no peso ao nascer(2).
Os resultados mostraram que a pressão arterial na faixa de 120-139 / 80-89 mmHg durante a gestação, considerada pré-hipertensão, particularmente no final da gestação, foi associada a um aumento de 59% no risco de ter um nascimento PIG(2). Um segundo estudo sinaliza que a maior incidência de mortalidade e morbidade por gravidez de alto risco está diretamente relacionada ao conhecimento inadequado(3).
Neste contexto, o aconselhamento realizado pelos profissionais da saúde são de fundamental importância(3). Em uma Revisão Sistemática duas ações clínicas se destacaram: em primeiro lugar, fornecer informações escritas antes ou durante a consulta parece ter um efeito positivo, enquanto nenhum efeito foi detectado quando o material escrito foi fornecido após a consulta(3).
Em segundo lugar, as escolhas dos pais sobre o tratamento pareciam ser influenciadas por aspectos relacionados à espiritualidade e / ou preferências preexistentes, e não pelo nível de detalhes ou pela ordem com que as informações eram fornecidas(3). Portanto, a exploração das crenças dos pais é crucial para reduzir os riscos de equívocos e garantir a escolha de acordo com os valores pessoais(3).
Complemento
O pré-natal de alto risco abrange cerca de 10% das gestações que apresentam critérios de risco, tais como cardiopatias, pneumopatias graves, nefropatias graves, endocrinopatias, doenças hematológicas, HAS, doenças neurológicas, psiquiátricas, autoimunes, alterações genéticas maternas, antecedente de trombose venosa profunda / embolia pulmonar, ginecopatias, portadoras de doenças infecciosas, Hanseníase, Tuberculose, uso de drogas lícitas e ilícitas, patologias clínicas que necessitem acompanhamento especializado e fatores relacionados a vida reprodutiva prévia e fatores relacionados a gestação atual(4,5). Os fatores de risco gestacionais podem ser prontamente identificados no decorrer da assistência pré-natal desde que os profissionais de saúde estejam atentos a todas as etapas da anamnese, exame físico geral e exame gineco-obstétrico e podem ainda ser identificados por ocasião da visita domiciliar, razão pela qual é importante a coesão da equipe(1).
Na maioria dos casos a presença de um ou mais desses fatores não significa a necessidade imediata de recursos propedêuticos com tecnologia mais avançada do que os comumente oferecidos na assistência pré-natal de baixo risco, embora indiquem uma maior atenção da equipe de saúde a essas gestantes(1). Pode significar apenas uma frequência maior de consultas e visitas domiciliares, sendo o intervalo definido de acordo com o fator de risco identificado e a condição da gestante no momento(1).

Atributos da APS
Acesso – Agilizar o acesso a consulta obstétrica nestes casos é um importante atributo da atenção básica.
Longitudinalidade – Toda gestante durante o acompanhamento de pré-natal deverá ter garantido o agendamento de pelo menos uma Visita de Vinculação Obstétrica ao seu hospital de referência. O componente pré-natal apresenta as seguintes ações:
1. Realização de pré-natal na Unidade Básica de Saúde (UBS) com captação precoce da gestante e qualificação da atenção;
2. Acolhimento às intercorrências na gestação com avaliação e classificação de risco e vulnerabilidade;
3. Acesso ao pré-natal de alto risco em tempo oportuno;
4. Realização dos exames de pré-natal de risco habitual e de alto risco e acesso aos resultados em tempo oportuno;
5. Vinculação da gestante desde o pré-natal ao local em que será realizado o parto;
6. Qualificação do sistema e da gestão da informação;
7. Implementação de estratégias de comunicação social e programas educativos relacionados à saúde sexual e à saúde reprodutiva;
8. Prevenção, diagnóstico e tratamento das DST/HIV/Aids, sífilis e hepatites virais.
Coordenação do cuidado – Uma vez encaminhada para acompanhamento em um serviço especializado em pré-natal de alto risco é importante que a gestante seja orientada a não perder o vínculo com a equipe de atenção básica ou Saúde da Família que iniciou o acompanhamento. Por sua vez esta equipe deve ser mantida informada a respeito da evolução da gravidez e tratamentos administrados à gestante por meio de contra referência e de busca ativa das gestantes em seu território de atuação, por meio da visita domiciliar.

Bibliografia Selecionada:

1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico [internet]. 5ed. Brasília;  2012:302p. [acesso em 25 abr 2018]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_gestacao_alto_risco.pdf
2. Cao C, Cai W, Niu X, Fu J, Ni J, Lei Q, Niu J, Zhou X, Li Y. Prehypertension during pregnancy and risk of small for gestational age: a systematic review and meta-analysis. J Matern Fetal Neonatal Med. 2018 Sep 3:1-8. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/14767058.2018.1519015?journalCode=ijmf20
3. Pedrini L, Prefumo F, Frusca T, Ghilardi A. Counselling about the Risk of Preterm Delivery: A Systematic Review. Biomed Res Int. 2017:7320583. Disponível em: https://www.hindawi.com/journals/bmri/2017/7320583/
4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco [internet]. (Cadernos de Atenção Básica, nr. 32). Brasília; 2012:318p. [acesso em 25 abr 2018]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf
5. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolos da Atenção Básica: Saúde das Mulheres.  Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa. [internet]. Brasília; 2016:230p. [acesso em 25 abr 2018]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/protocolo_saude_mulher.pdf