Quais orientações devem ser dadas aos pacientes anticoagulados?

| 8 agosto 2013 | ID: sofs-5485
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,

O alcance da faixa terapêutica do INR depende da titulação da dose total semanal (DTS) da varfarina. Esquemas/tabelas de manejo estão disponíveis em livros-texto de Atenção Primária à Saúde como o Medicina Ambulatorial (1) e Tratado de Medicina de Família e Comunidade (2). De maneira geral, ajustes de 15% na dose semanal da varfarina, promovem alteração de 1,0 no INR. Por consequência ajustes de 10% na DTS provavelmente modificarão o INR em 0,7 a 0,8. A resposta individual a varfarina é muito variável. Cada pessoa deve ter um plano terapêutico individual. O tratamento pode ser iniciado com doses de 5 a 10 mg diárias.
O INR deve ser dosado diariamente até que o alvo seja atingido e mantido por 2 dias consecutivos. A partir daí, deve-se dosá-lo 2 vezes por semana, durante 1 a 2 semanas. Se o alvo for mantido, as dosagens podem ser espaçadas para até 4 semanas.
Nos casos de primeiro episódio de trombose venosa profunda (TVP) há indicação de anticoagulação oral no período de 6 meses, com INR alvo de 2,0-3,0, para prevenção de recorrência. O número necessário tratar (NNT) para evitar 1 desfecho é 4,5.
O manejo inicial da TVP envolve a anticoagulação com heparina em ambiente hospitalar. A varfarina deve ser iniciada concomitantemente para manutenção da anticoagulação pós alta. A heparina só poderá ser suspensa após duas medidas consecutivas com o INR na faixa terapêutica, com no mínimo quatro dias de sobreposição.”    ”Não ter um médico regular é tido como um dos fatores associados à má adesão ao tratamento anticoagulante, logo, a relação médico-pessoa longitudinal, integral e o vínculo entre o profissional e a pessoa são essenciais para o sucesso do tratamento. É importante que as pessoas sejam orientadas sobre as peculiaridades do tratamento e que sejam mantidas “portas abertas” para acessibilidade ao médico durante o tratamento.
As doenças tromboembólicas, ou condições com potencial para causá-las, são frequentemente diagnosticadas na prática da Atenção Primária à Saúde (APS). Muitos pacientes que são hospitalizados por eventos tromboembólicos necessitam acompanhamento da terapia anticoagulante a longo prazo, eventualmente ad eternum. Entre esses eventos, destacam-se a tromboembolia venosa (trombose venosa profunda e/ou tromboembolismo pulmonar), a fibrilação atrial, as próteses cardíacas, a cardiopatia isquêmica, a doença cerebrovascular e a vasculopatia arterial periférica.
Prescrever a dose de anticoagulante que atinja supressão suficiente da trombose e que diminua, ao máximo, o risco de sangramento pode ser um desafio, mesmo assim, a maior parte dos pacientes anticoagulados podem ser manejados na própria APS. Com manejo cuidadoso e monitorização adequada, presume-se que seja possível obter resultados semelhantes àqueles obtidos em grandes ensaios clínicos. Por outro lado, o acompanhamento não-ideal (p.ex., repetir dosagem do INR somente a cada 4 a 6 meses) pode levar à perda do benefício da terapêutica anticoagulante, fazendo com que os riscos de sangramento suplantem os potenciais benefícios.


DOSE-RESPOSTA: Além de fatores genéticos pouco conhecidos, a resposta individual à varfarina é influenciada por vários fármacos, variações no conteúdo de vitamina K da dieta e diversas comorbidades. Alguns medicamentos fitoterápicos e vitaminas também podem modificar seu efeito. É importante lembrar que nenhuma dessas condições ou fármacos contra-indicam o uso da varfarina, mas uma monitorização mais frequente é recomendada. Da mesma forma, o consumo de alimentos ricos em vitamina K não deve ser proibido, pois são saudáveis; entretanto, deve-se orientar o paciente a usá-los em quantidade constante. Com relação à interação medicamentosa, pode não haver efeito de classe, já que alguns medicamentos, mesmo de classe farmacológica semelhante a fármacos que têm comprovada interação, não apresentam evidência de interação com a varfarina.

COMPLICAÇÕES: a hemorragia é a complicação mais comum. Aproximadamente 10% dos pacientes têm um episódio de sangramento por ano de anticoagulação. Desses, de 2,5 a 3% têm sangramento maior e 1%, hemorragia intracraniana, frequentemente fatal ou deixando sequelas. A intensidade da anticoagulação é provavelmente o fator de risco mais importante para sangramento intracerebral, com o risco aumentando dramaticamente quando o INR for maior que 4,0. Para o paciente individual, o risco cumulativo de sangramento é diretamente relacionado ao tempo de anticoagulação, sendo a maior frequência nos primeiros meses de uso.
A necrose cutânea é uma situação rara, mas séria. É causada por trombose extensa de vênulas e capilares da gordura subcutânea. Quando essa condição é suspeitada, a varfarina deve ser suspensa e iniciada a administração de heparina.
Outras complicações descritas incluem alopecia, diarréia, náuseas, anorexia, leucopenia, hepatoxicidade e purple/blue toe syndrome.

ORIENTAÇÕES À PESSOA EM USO DE ANTICOAGULANTE ORAL

Bibliografia Selecionada:

  1. Amon LC, Gazzana MB. Manejo Ambulatorial do Paciente Anticoagulado. In: Duncan BB, Schmidt MI, Giugliani ERJ. Medicina ambulatorial: condutas em Atenção Primária à Saúde Baseadas em Evidências. 3ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=4HZQBAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT127&dq=Medicina+ambulatorial:+condutas+em+Aten%C3%A7%C3%A3o+Prim%C3%A1ria+%C3%A0+Sa%C3%BAde+Baseadas+em+Evid%C3%AAncias.&ots=mqnByPCDBg&sig=YzyJ9ZXZRLjB-bL3DLulVHlcq0k#v=onepage&q=Medicina%20ambulatorial%3A%20condutas%20em%20Aten%C3%A7%C3%A3o%20Prim%C3%A1ria%20%C3%A0%20Sa%C3%BAde%20Baseadas%20em%20Evid%C3%AAncias.&f=false Acesso em: 8 ago 2013.
  2. Ribeiro MTAM, Fiuza TM, Barros HM, Montenegro R. Doenças do sistema venoso. In: Gusso G, Lopes JMC. Tratado de Medicina de Família e Comunidade: princípios, formação e prática. Porto Alegre: Artmed, 2012.
  3. Simon C, Everitt H, van Dorp F. Oxford Handbook of General Practice. 3ª ed. New York: Oxford University Press, 2010. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=E_-BAwAAQBAJ&pg=PA531&dq=simon+C,+Everitt+H,+van+Dorp+F.+Oxford+Handbook+of+General+Practice&hl=pt-BR&sa=X&ei=MNrsVITsBsqmNsChgdAO&ved=0CCUQ6AEwAQ#v=onepage&q=simon%20C%2C%20Everitt%20H%2C%20van%20Dorp%20F.%20Oxford%20Handbook%20of%20General%20Practice&f=false Acesso em: 8 ago 2013.
  4. Starfield, Barbara. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO, Ministério da Saúde, 2002.