Quais exames são necessários na investigação pós Acidente Vascular Cerebral? É necessário encaminhar todos os pacientes para seguimento posterior com neurologista?

| 4 fevereiro 2015 | ID: sofs-18465
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH:

Grande parte dos exames a serem realizados após a ocorrência de um  Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico ou hemorrágico já são realizados durante o atendimento do evento agudo no serviço de emergência, tais como: TC de crânio; RNM cranioencefálica; glicemia; eletrólitos séricos; ureia sérica e creatinina; enzimas cardíacas; ECG; Radiografia de tórax; hemograma completo; tempo de protrombina (TP) e de TTP. Alguns outros devem ser ponderados conforme as alterações e fatores de risco percebidos como Ecodoppler cardiograma e ecodoppler de carótidas, líquor, radiografia de toráx, Holter. Não é obrigatório o encaminhamento para seguimento com neurologista. Essa avaliação deve ser solicitada em algumas situações, conforme critérios clínicos. Os exames de rotina pós AVC são direcionados aos fatores de risco.


Complementação resposta:
O AVC isquêmico responde por 85% dos casos e o AVC hemorrágico por cerca de 15%. O ataque isquêmico transitório (AIT) é um rápido episódio de disfunção neurológica causada por isquemia focal no cérebro ou na retina, com sintomas clínicos que geralmente duram menos que 1 hora e sem evidência de infarto agudo. Esses pacientes apresentam risco de AVC isquêmico precoce. Os fatores de risco fortes do AIT incluem fibrilação atrial, valvulopatia, estenose da carótida, insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão, diabetes mellitus, tabagismo e abuso de álcool.
Fatores de risco altamente associados ao AVC isquêmico são tabagismo, diabetes, fibrilação atrial, comorbidades cardíacas, estenose da artéria carótida e doença falciforme. Para o quadro hemorrágico os fatores mais importantes são a anticoagulação, o abuso de simpatomiméticos e as malformações vasculares.
A investigação e acompanhamento pós AVC visa a identificação e controle desses fatores de risco, além da reabilitação e seguimento do quadro. Para este objetivo o acompanhamento médico é fundamental.
No domicílio, o foco é a avaliação e a recuperação dos déficits cognitivos e físicos, a compensação das sequelas residuais e a melhora da funcionalidade. Isso pode ser melhor obtido através de trabalho multiprofissional, por exemplo, incluindo os profissionais do NASF.
A família e/ou os cuidadores devem ser orientados a ter uma participação ativa no processo de recuperação da pessoa. É necessário que conheçam o que é uma perda definitiva de uma capacidade e as que apresentam possibilidades de serem recuperadas. Isso é importante para evitar a construção de falsas expectativas e consequentes decepções.
A equipe de saúde precisa dar apoio à família envolvida no cuidado para que as necessidades emocionais e físicas possam ser compartilhadas, e o cuidado se torne menos árduo. E mesmo que as expectativas iniciais em relação a recuperação se mostrem irreais é importante mostrar novas possibilidades e objetivos.

Atributos APS
A ocorrência de sintomas neurológicos agudos exige tecnologia, na maior parte das vezes, não disponíveis na APS. Porém o papel da equipe de saúde reside na identificação de pessoas em risco e um ágil encaminhamento dos casos detectados. Para isso a importância do ACESSO facilitado a situações desse tipo. E lembrar que, mesmo quando o caso necessite de avaliação de outros níveis (integralidade) de atenção (neurologista, neurocirurgião, cardiologista) , a COORDENAÇÃO do caso (centralizar e transmitir informações, ser referência para o paciente, ajuste de medicações que possam ser conflituosas) ainda é função da equipe de Saúde da Família.

Bibliografia Selecionada:

  1. BMJ Best Practice – Visão geral do AVC – Disponível em: <http://brasil.bestpractice.bmj.com/best-practice/monograph/1080.html> Acesso em: 19 fev 2015.
  2.  DURO, Luciano Nunes Venzke; ZELL, Clauceane. Acidente isquêmico transitório e acidente vascular cerebral. In: GUSSO G., LOPES, JMC (Org). Tratado de Medicina de Família e Comunidade – princípios, formação e prática – 2 volumes. ArtMed, 2012-01-01. VitalBook file. p. 1879 – 1886 Disponível em: http://www2.hu.usp.br/wp-content/uploads/2013/07/Livro-94-Tratado-de-Medicina.pdf Acesso em: 4 fev 2015.