Quais cuidados odontológicos devemos ter com paciente com lúpus?

| 28 janeiro 2015 | ID: sofs-17393
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,

Os pacientes devem ser questionados diretamente na anamnese se possuem doença renal, pois podem apresentar hematúria assintomática ou proteinúria. Observar se fazem uso de anti-inflamatórios (prednisona), antimaláricos (hidroxicloroquina), drogas imunossupressoras (azatioprina, ciclofosfamida, metotrexato) que podem causar complicações sistêmicas, pois tais pacientes tem um risco aumentado de infecções e todo o tratamento odontológico confere riscos. O exame clínico detalhado deve excluir processos infecciosos associados a tecidos dentais e periodontais, deve ser observada a presença de erosões, úlceras, placas escamosas, descartar a hipótese de infecção por Cândida, pois a candidíase pseudomembranosa é a expressão mais comum em pacientes imunossuprimidos. Avaliar a ATM, descartar distúrbios como artralgia ou artrite. Deve-se solicitar exames complementares como radiografia panorâmica e periapicais completos para avaliar doenças ou processos infecciosos que não estão muito evidentes no exame clínico; testes de hematologia incluindo teste de coagulação, mesmo quando não considerada no tratamento nenhuma cirurgia. Ao prescrever alguma medicação, ter cuidado com a alta incidência de lesão renal nestes pacientes, devendo-se optar por medicações não metabolizadas por esta via. (1)


COMPLEMENTAÇÃO
O Lúpus é uma doença crônica autoimune. Por uma razão desconhecida, o organismo passa a não reconhecer suas próprias células e produz anticorpos contra elas (auto anticorpos), que pode afetar pele, articulações, rins e outros órgãos (2), causando diversas anormalidades clínicas e laboratoriais.
O tratamento para lúpus envolve uma ampla gama de medicamentos que vão desde anti-inflamatórios comuns, baixas doses de corticoides e medicamentos antimaláricos (ex: cloroquina) para tratar manifestações mais leves – sem comprometimento de grandes órgãos ou sistemas – até drogas que retiram as defesas do organismo (como a ciclofosfamida, azatioprina e metotrexate) para graus mais avançados da doença.
EPIDEMIOLOGIA: Pode ocorrer em qualquer faixa etária, incluindo crianças e gestantes, mas é mais frequente em mulheres jovens – especialmente entre 15 e 45 anos. Nesta faixa etária a razão de mulheres acometidas com relação aos homens se situa entre 6:1 e 9:1. Pessoas da raça negra têm quatro vezes mais chances de desenvolver a doença quando comparados com pessoas da raça branca.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Alguns dos sinais e sintomas iniciais mais frequentes são: inflamação das articulações, mal-estar, cansaço, dor de cabeça, febre, emagrecimento involuntário, diminuição do número de células do sangue e alterações na pele. Uma das características mais clássicas do lúpus é a mancha na face “em asa de borboleta” que acomete de 30 a 60% dos pacientes no curso da doença. Manifestações tardias incluem alterações nos rins, que podem levar à necessidade de hemodiálise e transplante renal, complicações nas membranas que revestem os pulmões e coração, doença neurológica, psiquiátrica, problemas de circulação, doença das válvulas cardíacas, entre outros. Outro complicador é que a atividade da doença (e o seu tratamento) aumenta o risco de infecções oportunistas.
PROGNÓSTICO: Com o avanço das opções terapêuticas nas últimas décadas, a expectativa de vida dos pacientes aumentou significativamente. Atualmente, 80% das pessoas com Lúpus permanecem vivas após 15 anos de doença (3).

ATRIBUTOS APS
A pessoa com Lúpus deve ter garantido seu acompanhamento regular na sua Unidade de Saúde e é através dela, conforme suas necessidades, que será encaminhada para outros pontos do sistema de saúde. O ACS pode facilitar o agendamento de consultas (ACESSO).
Além da doença diretamente, possíveis limitações podem provocar sofrimento psicológico pessoal e familiar, ao qual a equipe de saúde deve estar atenta e fornecer suporte (INTEGRALIDADE).
Com acompanhamento ao longo do tempo, pela mesma equipe, potenciais complicações da doença podem ser identificadas em momentos oportunos para o tratamento (LONGITUDINALIDADE).
Lúpus é uma doença rara e que seu tratamento provavelmente envolverá cuidados multidisciplinares nos níveis secundários e terciários de atenção à saúde. Nesse caso, a equipe de saúde da UBS deverá fazer-se presente para acompanhar e organizar as intervenções, evitando a fragmentação e os conflitos nos cuidados fornecidos, e fornecer suporte de mais fácil acesso ao doente e aos seus cuidadores (COORDENAÇÃO DO CUIDADO) (3).

EDUCAÇÃO PERMANENTE
Você sabia que fatores psicológicos (como ansiedade e desgaste emocional) podem aumentar a gravidade dos problemas imunológicos e assim aumentar o risco de desenvolver os episódios agudos do lúpus?

Bibliografia Selecionada:

  1.  López Labady, J. Manejo odontológico del paciente con lupus eritematoso Acta Odontol Venez [Internet]. 2010;48(3) [citado 2015 Jan 27]. Disponível em: http://www.actaodontologica.com/ediciones/2010/3/art23.asp Acesso em: 29 jan 2015.
  2. Varellis, M L Z. O paciente com necessidades especiais na Odontologia: manual prático. 2 ed. São Paulo: Editora Santos, 2013.
  3. Equipe Telessaúde Rio Grande do Sul. O que é Lupus e quais orientações podem ser repassadas aos pacientes e familiares? [Internet]. Segunda Opinião Formativa. 2013 [citado 2015 Jan 10]. Disponível em: http://pesquisa.bvs.br/aps/resource/pt/sof-5403 Acesso em: 29 jan 2015.