De forma geral, as reações de hipersensibilidade às penicilinas podem ser divididas em (1):
Reações imediatas: até 20 minutos após a administração da penicilina por via parenteral. Compreendem: urticária, prurido difuso, rubor cutâneo e em menor frequência: edema laríngeo, arritmia cardíaca e choque.
Reações aceleradas: até 72 horas após a administração de penicilina. Compreendem: urticária ou angioedema, edema laríngeo e, em raras ocasiões, hipotensão e morte.
Reações tardias: após 72 horas da aplicação. São as mais comuns, observa-se erupções cutâneas benignas, morbiliformes e de boa evolução e, menos frequentemente, reações não cutâneas como febre, doença do soro-símile, anemia hemolítica imune, trombocitopenia, nefrite instersticial aguda, infiltrado pulmonar com eosinofilia e vasculite de hipersensibilidade. O mecanismo fisiopatológico não é conhecido.
Outras reações de hipersensibilidade também são apresentadas como possíveis: erupção maculopapular, febre, broncoespamo, vasculite, doença do soro, dermatite esfoliativa, síndrome Stevens-Johnson e anafilaxia. E reações tóxicas incluem depressão da medula óssea, granulocitopenia e hepatite. Pacientes com sífilis podem experimentar uma reação Jarisch-Herxheimer (febre, calafrios, dor de cabeça e reações no local da lesão), após o início do tratamento com penicilina e alguns indivíduos que receberam injeção intravenosa de penicilina G desenvolveram flebite ou tromboflebite. Quando a penicilina G é injetada acidentalmente no nervo ciático, ocorre dor severa e disfunção na área de distribuição deste nervo, que pode persistir por semanas (2).
Para o tratamento de emergência de reações anafiláticas em UBS deverá haver estruturação de recursos físicos (3,4):
Espaço devidamente abastecido com medicamentos e materiais essenciais ao primeiro atendimento/estabilização de urgências que ocorram nas proximidades da unidade ou em sua área de abrangência e/ou sejam para elas encaminhadas, até a viabilização da transferência para unidade de maior porte, quando necessário.
Materiais: Ambú adulto e infantil com máscaras, jogo de cânulas de Guedel (adulto e infantil), sondas de aspiração, cilindro portátil de oxigênio, aspirador portátil ou fixo, materiais para acesso venoso, material para curativo, material para pequenas suturas, material para imobilizações (colares, talas, pranchas).
Medicamentos: Adrenalina, Água destilada, Aminofilina, Amiodarona, Atropina, Brometo de Ipratrópio, Cloreto de potássio, Cloreto de sódio, Deslanosídeo, Dexametasona, Diazepam, Diclofenaco de Sódio, Dipirona, Dobutamina, Dopamina, Epinefrina, Escopolamina (hioscina), Fenitoína, Fenobarbital, Furosemida, Glicose, Haloperidol, Hidantoína, Hidrocortisona, Insulina, Isossorbida, Lidocaína, Meperidina, Midazolan, Ringer Lactato, Soro Glico-Fisiológico, Soro Glicosado.
Além da organização da estrutura física da UBS, é responsabilidade também das equipes de saúde que atuam na ABS realizar o acolhimento e tratamento indicado (mesmo quando necessite de encaminhamento), capacitar os recursos humanos e organizar a rede de apoio para a garantia da integralidade do cuidado (4).
Em caso de reações anafiláticas em decorrência da aplicação de penicilina, deve-se proceder de acordo com os protocolos que abordam a atenção às urgências no âmbito da Atenção Básica à Saúde (ABS) (5). O risco de hipersensibilidade no contexto da ABS não está restrito ao uso de penicilina e a anafilaxia associada à ocorrência de parada cardiorrespiratória de qualquer natureza impõem a necessidade da disponibilidade de materiais/equipamentos para suporte adequado a pacientes com risco de choque (6).
Mesmo com riscos associados, o uso da penicilina benzatina continua indicado, sendo a droga de primeira escolha para o tratamento de pacientes com infecção estreptocócica (I-B) (7,8) e é indicada para tratamento da sífilis (IV) (8) e na profilaxia da Febre Reumática (A) (9), pois os benefícios superam os riscos.
Importante destacar que são comuns as reações do tipo vasovagal durante a administração da penicilina, e todo cuidado deve ser tomado para não confundir estes episódios com quadro real de reação anafilática (7).
A história de hipersensibilidade deve ser sempre investigada e se houver qualquer reação o uso da substância deve ser interrompido e o tratamento adequado realizado (6). Orienta-se não liberar o indivíduo imediatamente após a aplicação de penicilinas e orientar para o tempo de ação do medicamento e o tempo médio até o início dos efeitos sistêmicos, garantindo a compreensão para qualificar para o autocuidado.
Miranda MCC. Reações adversas não alérgicas à suspensão injetável de Benzilpenicilina Benzatina: uma revisão sistemática (dissertação). Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ; 2002. p. 13-5; 82-4. Disponível em: http://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/4785/2/522.pdf Acesso em: 11 ago 2014.
Cofen. Parecer de Conselheiro nº 008/2014 – solicitação de posicionamento do Cofen quanto a Portaria Ministério da Saúde nº 3.161, de 27/12/2011.
Brasil. Portaria nº 3.161, de 27 de dezembro de 2011. Dispõe sobre a administração da penicilina nas unidades de Atenção Básica à Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3161_27_12_2011.html Acesso em: 17 jul 2014.
Barbosa PJB, Müller RE, Latado AL, Achutti AC, et al. Diretrizes Brasileiras para Diagnóstico, Tratamento e Prevenção da Febre Reumática da Sociedade Brasileira de Cardiologia, da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Arq Bras Cardiol. 2009; 93(3 supl.4):1-18. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2009/diretriz_febrereumatica_93supl04.pdf Acesso em: 06 nov 2014.
Duncan BB, Schmidt MI, Giugliani ERJ. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2006.