O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) é o órgão do Ministério da Saúde (MS) responsável pelo Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) e pela articulação da rede de tratamento do tabagismo no Sistema Único de Saúde (SUS), em parceria com estados e municípios e Distrito Federal. O PNCT é ofertado prioritariamente nas Unidades Básicas de Saúde(1-3).O modelo de tratamento inclui(2): – Avaliação do usuário tabagista pela equipe de saúde: principais doenças e fatores de risco relacionados ao tabagismo, grau de dependência ao cigarro, estágio de motivação para cessação do tabagismo e suas preferencias de tratamento. – Abordagem cognitivo comportamental com possibilidade de ser realizada em grupo ou individualmente. Consiste em 4 sessões (encontros) semanais que se tornam mais espaçados até completarem 12 meses de tratamento. – Apoio medicamentoso, se necessário, reposição de nicotina (adesivo transdérmico e goma de mascar) e o cloridrato de bupropiona, que são disponibilizados no SUS pelo Ministério da Saúde.
Considerando que fumar é um comportamento reforçado diariamente, o modelo cognitivo comportamental atende à proposta do PNCT, pois entende que o ato de fumar é um comportamento aprendido, desencadeado e mantido por determinadas situações e emoções, que leva a dependência devido às propriedades psicoativas da nicotina. As intervenções cognitivas e treinamento de habilidades comportamentais objetivam a aprendizagem de um novo comportamento, através da desconstrução de crenças e vinculações comportamentais ao ato de fumar(1,2).
A disponibilidade dos medicamentos objetiva minimizar os sintomas da síndrome de abstinência à nicotina e facilitar a abordagem cognitiva comportamental. Portanto, não devem ser utilizados isoladamente, mas sim em associação com a abordagem cognitiva comportamental(1,2).
Considerada uma droga bastante danosa, a nicotina atua no sistema nervoso central como a cocaína, heroína, álcool, com a diferença de que leva entre 7 e 19 segundos para chegar ao cérebro. Portanto, é normal que, ao parar de fumar, os primeiros dias sem cigarros sejam os mais difíceis. No entanto, as dificuldades tendem a ser menores com o tempo(1). Os sintomas de abstinência da nicotina incluem dor de cabeça, tonteira, irritabilidade, agressividade, alteração do sono, dificuldade de concentração, tosse, indisposição gástrica e outros. Não acontecem com todos os fumantes que param de fumar e quando acontecem, tendem a desaparecer em uma a duas semanas(1,2). O sintoma mais intenso e mais difícil de se lidar é a chamada “fissura” (grande vontade em fumar). No entanto, ela não dura mais que 5 minutos, tende a ficar mais tempo que os outros sintomas e vai reduzindo gradativamente a sua intensidade quanto aumentando o intervalo entre um episódio e outro(1).
Nos casos de recaída e retorno ao consumo de cigarros após parar de fumar, não deve ser considerada como fracasso. O recomendável é começar tudo novamente e dar várias chances até conseguir parar de fumar(1,2).
Mesmo que o fumante já esteja com alguma doença causada pelo cigarro, tais como câncer, enfisema ou derrame, vale a pena parar de fumar diante dos benefícios(1,2):
· Após 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal
· Após 2 horas, não há mais nicotina circulando no sangue
· Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza
· Após 12 a 24 horas, os pulmões já funcionam melhor
· Após 2 dias, o olfato já percebe melhor os cheiros e o paladar já degustam melhor a comida
· Após 3 semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora
· Após 1 ano, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade
· Após 10 anos, o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram.
O usuário que demonstre interesse em parar de fumar deverá procurar a UBS mais próxima de sua residência e preencher a ficha de cadastro individual para ser acolhido pela sua equipe de saúde(2).
O município que queria oferecer o PNCT deve procurar as secretarias estaduais de saúde, possuem as coordenações do PNCT, que, por sua vez, descentralizam as ações para seus respectivos municípios atuando de forma integrada. Ao ingressar no programa de tratamento do tabagismo as gestões estaduais e municipais assumem o compromisso de organização e implantação das ações para o cuidado da pessoa tabagista(2).
1. Instituto Nacional do Câncer (INCA). Programa Nacional de Controle ao Tabagismo. Tratamento do Tabagismo. [internet]. [acesso em 25 jan 2022]; 2021. Disponível em: https://www.inca.gov.br/programa-nacional-de-controle-do-tabagismo/tratamento
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: o cuidado da pessoa tabagista. [internet]. (Cadernos da Atenção Básica, n. 40). [acesso em 25 jan 2022]. Brasília, 2015:154p. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_40.pdf
3. Zampier VSDB, Silva MHD, Machado RET, Jesus RRD, Jesus MCPD, Merighi, MAB. Abordagem do enfermeiro aos usuários tabagistas na Atenção Primária à Saúde. Rev. Bras. Enferm. 2019;72(4):948-955. Disponível em: http://www.revenf.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672019000500948&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt