A prática de exercícios físicos regulares em pacientes asmáticos não resulta em piora funcional ou maior número de dias com sibilância; por outro lado há melhora do condicionamento cardiopulmonar. A prática de exercícios físicos não é contraindicada em pacientes asmáticos.
Esta revisão sistemática teve ampla estratégia de busca na literatura e foi atualizada em 2005. Os artigos encontrados, no entanto, tinham na maioria poucos participantes e avaliaram desfechos substitutos. Outra limitação dos estudos foi seu curto período de intervenção e seguimento (até 4 meses). Um único estudo avaliou dias com sintomas, encontrando uma redução entre aqueles que se exercitaram, mas o pequeno número de participantes pode ter impedido um adequado poder para demonstrar diferenças estatisticamente significativas.
São necessários estudos com maior número de participantes, com seguimento mais longo e que avaliem desfechos clínicos, qualidade de vida, dias afastados do trabalho ou escola, ou mesmo desfechos substitutos como necessidade de uso de broncodilatadores e dias com sintomas. Até lá, esta é a melhor evidência quanto à segurança da prática de atividade física regular em pacientes com asma e quanto aos benefícios no condicionamento cardiopulmonar.
Tabela1: Treinamento Físico versus Controle
Desfecho
No.de estudos
No. de participantes
Tamanho de Efeito – Diferença entre grupos (Intervalo de Confiança de 95%)
Pico de fluxo expiratório (litros/minuto)
4
103
-5.47 [-27.55, 16.60]
Volume expiratório forçado no primeiro segundo (litros)
5
129
0.01 [-0.14, 0.16]
Capacidade vital forçada (litros)
4
93
0.09 [-0.12, 0.30]
Volume expirado máximo (litros)
4
111
6.00 [1.57, 10.43]
Freqüência cardíaca máxima (batimentos por minuto)
5
121
7.70 [5.57, 9.83]
Consumo de oxigênio máximo (ml/kg/minuto)
7
175
5.43 [4.24, 6.61]
Episódios de sibilância (dias)
1
24
-7.50 [-22.42, 7.42]
Capacidade de trabalho (Watts)
3
83
14.95 [11.52, 18.38]
Adaptado de Ram et al, Physical training for asthma (Cochrane Review)1.
A prática de exercício físico é uma orientação rotineira para promoção de saúde, assim como em prevenção secundária e reabilitação. Entre os asmáticos não deve ser diferente. Embora os benefícios diretos ao controle da asma não estejam bem estabelecidos pela literatura escassa e heterogênea, esta revisão sistemática mostra que os asmáticos têm melhora do condicionamento cardiopulmonar da mesma forma que não-asmáticos, provavelmente com os benefícios decorrentes já documentados. Assim, a orientação para prática de atividade física em asmáticos não deve ser omitida na orientação aos pacientes acompanhados em Atenção Primária à Saúde. Essa é uma intervenção de baixo custo que pode fazer parte da sua educação quanto a falsas limitações da asma. A orientação do uso de medicações inaladas como cromoglicato antes ou beta-agonista (ex: salbutamol) antes e durante o exercício foi variável nos estudos e pode ser útil em pacientes com sintomas de broncoconstrição associada à atividade física. É freqüente a solicitação de dispensa das crianças com asma da educação física escolar, o que pode ser evitado com esclarecimento e estímulo ao exercício na maioria dos casos.
Não encontramos, nos estudos, a avaliação da custo-efetividade da incorporação de profissionais da educação física para orientação de pacientes. Nessa revisão sistemática, a atividade física foi supervisionada e, em alguns estudos, houve monitoramento com metas de esforço gradualmente aumentadas pela equipe de pesquisadores, o que é uma co-intervenção relevante. Diversos programas de treinamento foram utilizados, incluindo agachamento, abdominal e exercícios com cordas, ou corridas, ou natação e esportes coletivos (futebol, voleibol). Nesse sentido, a oferta da supervisão de exercícios, tanto em centros comunitários específicos ou por equipes de apoio matricial à APS não deve excluir pacientes asmáticos.
Apesar das limitações dos estudos disponíveis na literatura, esta revisão sistemática mostra que não devemos afastar os pacientes com asma das atividades físicas regulares.
Sumário das evidências Meta-análise de ensaios clínicos randomizados e controlados: a intervenção consistia em ao menos 20 a 30 minutos de atividade física aeróbica, de 2 a 3 vezes por semana por um período mínimo de 4 semanas. Foram incluídos estudos com pacientes a partir de 8 anos de idade com qualquer gravidade de asma.
Os desfechos avaliados incluíam episódios de sibilância (em apenas um estudo), avaliações funcionais pulmonares, avaliações de condicionamento cardiopulmonar. Não foram relatados outros resultados de interesse como necessidade de uso do broncodilatador e qualidade de vida.
Foram encontrados 13 estudos. Os resultados não demonstraram diferenças entre grupos nas provas de função pulmonar (tabela1). Um estudo (24 participantes) relatou diminuição no número de dias com sibilância entre os pacientes com atividade física regular, mas o intervalo de confiança (IC95%) não se mostrou significativo ( -7.50 dias [-22.42, 7.42] ).
As avaliações de função cardiopulmonar como consumo de oxigênio máximo, capacidade de trabalho, frequência cardíaca no exercício e volume expirado máximo mostraram melhora significativa nos pacientes que exercitaram-se regularmente (tabela 1).
Bibliografia Selecionada:
Robinson Stewart, Black Peter N, Picot Joanna. Physical training for asthma. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library, Issue 2, Art. No. CD001116. Disponível em: http://cochrane.bvsalud.org/doc.php?db=reviews&id=CD001116&lib=COC Acesso em 26 mar 2015.