Ao redor do mundo, as populações têm trocado as áreas rurais por cidades, tornando-se mais sedentárias e consumindo quantidades crescentes de bebidas e alimentos industrializados (1). Estas mudanças no estilo de vida, associadas a maior longevidade da população, isto é, a uma maior expectativa de vida, têm proporcionado um aumento da ocorrência de doenças crônico-degenerativas, tais como o câncer, as doenças do coração e o diabetes, por exemplo.
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 tipos diferentes de doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células anormais com potencial de invadir os tecidos sadios do organismo. Sua origem se dá por condições multifatoriais, através de uma combinação variável de fatores genéticos e ambientais (2,3). Esses fatores causais podem agir em conjunto ou em sequência para iniciar ou promover o câncer, e por serem diversos, também são múltiplos os seus fatores de risco, a depender do órgão ou tecido em que o câncer ocorrer.
O câncer (também chamado por neoplasia), no Brasil, constitui a segunda causa de morte na população, representando cerca de 20% dos óbitos de causa conhecida notificados em 2007 no Sistema de Informações sobre Mortalidade (3).
Dados da OMS estimam que no ano de 2020 o câncer seja a principal causa de morte em todo o mundo (3), em consequência do crescimento e do envelhecimento da população, bem como da redução na mortalidade infantil e nas mortes por doenças infecciosas em países em desenvolvimento (2).
No Brasil, a estimativa para o ano de 2014, que será válida também para o ano de 2015, aponta para a ocorrência de aproximadamente 576 mil casos novos de câncer, incluindo os casos de pele não melanoma, reforçando a magnitude do problema no país. Em homens, os tipos mais incidentes serão os cânceres de próstata, pulmão, cólon e reto, estômago e cavidade oral; e, nas mulheres, os de mama, cólon e reto, colo do útero, pulmão e glândula tireoide (2).
Como já dito anteriormente, as neoplasias resultam de uma combinação variável de fatores genéticos e ambientais. A importância de fatores genéticos é mais evidente nas neoplasias da infância, ao passo que o ambiente parece mais determinante nas neoplasias do adulto (3). Diversos fatores de risco ambientais têm sido reconhecidos quanto ao desenvolvimento de neoplasias, conforme descrito abaixo (3,4):
– O tabagismo está diretamente associado a cerca de um terço das mortes por câncer, sendo responsável por 85% dos casos de câncer de pulmão em homens e 75% dos casos em mulheres.
– A ingestão crônica de bebidas alcoólicas aumenta o risco de neoplasias de cavidade oral, faringe, hipofaringe, laringe, esôfago e fígado.
– A exposição ao sol aumenta o risco para tumores da pele, e o uso de doses elevadas de radiação com finalidades terapêuticas em neoplasias eleva o risco de tumores secundários (como os sarcomas) na área irradiada.
– A infecção causada por certos subtipos de Papilomavírus humano (HPV) é o principal fator predisponente para o surgimento do câncer de colo uterino.
– O uso crônico de estrógenos (hormônio feminino) eleva o risco de adenocarcinoma de endométrio em pacientes na pós-menopausa, e a terapia de reposição hormonal nessa população está correlacionada como fator de risco para o desenvolvimento das neoplasias epiteliais de mama.
– Vários agentes químicos estão associados ao desenvolvimento de neoplasias, como níquel, asbesto, cloreto de vinila e cromatos.
Atributos APS – O desenvolvimento da maioria dos cânceres requer múltiplas etapas que ocorrem ao longo de muitos anos. Assim, alguns tipos de câncer podem ser evitados pela eliminação da exposição aos fatores determinantes.
A prevenção e o controle do câncer precisam adquirir o mesmo foco e a mesma atenção que a área de serviços assistenciais, pois o crescente aumento do número de casos novos fará com que não haja recursos suficientes para dar conta das necessidades de diagnóstico, tratamento e acompanhamento. As consequências serão mortes prematuras e desnecessárias. Assim, medidas preventivas devem ser implementadas para reduzir a carga do câncer, como as estratégias para o controle do tabagismo, relacionado ao câncer de pulmão, entre outros; a promoção da alimentação saudável, para a prevenção dos cânceres de estômago e intestino, entre outros; a vacinação para HPV e hepatite, contra o câncer do colo do útero e de fígado. De igual modo, a adoção de estilos de vida mais saudáveis, como uma alimentação adequada e a prática de atividade física, permitirá um melhor controle dos cânceres de mama, próstata e intestino (2).
É incontestável que o câncer é hoje, no Brasil, um problema de saúde pública, cujo controle e prevenção deverão ser priorizados em todas as regiões, desde as mais desenvolvidas – cultural, social e economicamente – até às mais vulneráveis. Neste sentido, as abordagens orientadas para enfrentar esse problema de saúde, no contexto da atenção primária, deverão focar em ações de educação para saúde, enfatizando a importância de hábitos de vida saudáveis, já mencionados no parágrafo anterior, e esclarecendo para a comunidade a associação dos diversos tipos de neoplasias com os fatores ambientais descritos.