Pacientes que fazem uso prolongado de penicilina benzatina podem vir a desenvolver alguma reação (choque anafilático)?

| 6 agosto 2009 | ID: sofs-2105
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

As penicilinas são um grupo de antibióticos de baixíssimo custo e elevada eficácia e, portanto, de importante utilidade no tratamento e prevenção de doenças infecciosas piogênicas e suas complicações. São antibióticos de primeira escolha nas infecções por agentes encapsulados sensíveis (pneumonia pneumocócica, abscesso cerebral, meningite bacteriana), na sífilis (neurosífilis congênita, gestacional, associada ao HIV), profilaxia primária e secundária da febre reumática e na glomerulonefrite pós-estreptocócica.
Assim sendo, esse medicamento, referendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como essencial e de incontestável utilidade, tornou-se bastante estigmatizado pelos profissionais de saúde e pela população em geral, devido, principalmente, à falta de informação atualizada no que se refere às reações alérgicas.
Muitas vezes, o relato de reações refere-se a distúrbios neurovegetativos, caracterizados por ansiedade, medo e sudorese, associados à dor ou à possibilidade de sensação dolorosa frente à administração de quaisquer medicamentos parenterais ou outros procedimentos médicos. Esses episódios são corriqueira e erroneamente interpretados como reações alérgicas, principalmente pela população em geral. Em tais situações há agitação e ansiedade excessivas, que podem cessar em poucos minutos apenas com a manutenção do paciente na posição deitada, sem necessidade de qualquer tipo de tratamento específico.
A chance de desenvolver uma reação alérgica à penicilina é de aproximadamente 2% por tratamento. A reação anafilática raramente ocorre. O seguimento clínico, por mais de 3 anos, de pacientes em uso de penicilina benzatina para profilaxia de doença reumática, mostrou uma incidência de reações de 3,2% e incidência de anafilaxia em 1,23/10.000 injeções. Reação fatal ocorreu em 1/32.000 injeções. Estudos demonstram que as reações alérgicas consideradas moderadas são pouco freqüentes, observadas em 0,5 a 1,0 de cada 1.000 tratamentos, e as raras reações anafiláticas fatais podem ocorrer em 1,0 a 2,0 de cada 100.000 tratamentos.
Reações de hipersensibilidade podem ocorrer com qualquer tipo de droga, fazendo com que as atenções e os cuidados requeridos para as penicilinas sejam os mesmos dedicados aos demais medicamentos.
Por todo o exposto anteriormente, a aplicação de penicilina em quaisquer de suas formas deve ser realizada nas unidades de saúde da família com ótimo nível de segurança.
Os estudos encontrados na literatura sobre este assunto possuem Grau de Evidência A.

 


Bibliografia Selecionada:

  1. Adkinson NF Jr. Drug Allergy. In Adkinson NF Jr., Yunginger JW, Busse WW, Bochner BS, Holgate ST, eds. Middleton’s Allergy: Principles and Practice. 6th ed. Philadelphia, Pa: Mosby Elsevier; 2003. chap 92.
  2. Malamann MF, Adkinson NF. -lactams. In: Honsinger RW, Green GR, editors. Handbook of drug allergy. Philadelphia, PA: Williams & Wilkins; 2004.
  3. Sarti W. Alergia a drogas. In: Grumach AS, editor. Alergia e imunologia na infância e na adolescência. São Paulo: Atheneu; 2001.
  4. Rosario NA, Grumach AS. Alergia a beta-lactâmicos na clínica pediátrica: uma abordagem prática. J Pediatr (Rio J). 2006;82(5,supl):S181-S8. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v82n5s0/v82n5s0a08.pdf. Acesso em: 12 maio 2015