Normalmente, a hemodiálise é realizada duas a três vezes por semana, durante quatro horas, devendo o tratamento dentário realizar-se entre as sessões; assim, por exemplo, se o paciente realiza hemodiálise às segundas, quartas e sextas-feiras, o tratamento odontológico deverá realizar-se na terça, quinta-feira ou sábado. Isso se dá em razão das inúmeras complicações decorrentes do tratamento hemidialítico, como a hipotensão, as cãimbras, náuseas e vômitos, cefaleia, dor no peito, dor lombar, prurido, febre e calafrios(3). Deve-levar também em consideração, a existência ou não do acesso vascular (fístula arteriovenosa ou shunt) uma vez que predispõe ao alto risco para endocardite infecciosa e infecções intravasculares. Além disso, pacientes que se submetem a hemodiálise recebem heparina durante esse processo. Mesmo sendo mínimo o efeito residual da heparina, é prudente marcar as consultas odontológicas para um dia após o da diálise.
A Insuficiência Renal Crônica (IRC) é definida como uma síndrome provocada por uma variedade de nefropatias que em decorrência de sua evolução progressiva, determinam de modo gradativo e quase sempre inexorável uma redução global das múltiplas funções renais, isto é, glomerulares, tubulares e endócrinas(1).Requer como tratamento médico a diálise periódica e o transplante. A hemodiálise é um processo terapêutico capaz de remover catabólitos do organismo e corrigir as modificações do meio interno por meio da circulação do sangue em equipamento idealizado para este fim(2).
Os pacientes com insuficiência renal crônica que requerem hemodiálise necessitam de considerações especiais durante o tratamento odontológico, o qual deve ser sempre executado de forma multidisciplinar, com uma constante comunicação entre o médico (nefrologista) e o Cirurgião Dentista (CD).
A abordagem odontológica inicial é de suma importância, já que nesse momento o CD investiga através da anamnese todos os aspectos que possam influenciar direta ou indiretamente no estado de saúde do paciente. Durante o exame físico, o controle da pressão arterial e da glicemia são medidas importantes como tentativa de minimizar a progressão da IRC, bem como diminuir o risco de doença cardiovascular e do diabetes, frequentemente associados à doença renal crônica. O CD deve ainda conhecer e saber em quais circunstâncias pode prescrever um dado medicamento bem como conhecer suas interações medicamentosas e contra indicações ao paciente com IRC. As drogas que dependem do metabolismo ou excreção renal devem ser evitadas (como a tetraciclina e os antiinflamatórios não esteroidais), ter a dose modificada ou o intervalo de tempo entre as dosagens aumentado(4). Os anestésicos locais podem ser utilizados, sendo o de escolha a Lidocaína 2% a 1:100.000.
Outros aspectos relevantes, como a condição imunológica e hematológica desses indivíduos devem ser respeitados, principalmente diante de procedimentos odontológicos cirúrgicos. O doente renal crônico apresenta anemia e sua imunidade é considerada deficiente em consequência da uremia provocada pelo aumento de substancias tóxicas na corrente sanguínea, fazendo com que apresentem maior tendência ao sangramento e alto risco de infecção, sendo que o foco original pode ser a cavidade bucal, devido à presença de inúmeros microrganismos(5).
Atributos da APS
O indivíduo acometido pela IRC, adscrito na área de abrangência da Equipe de Saúde da Família(ESF), requer uma atenção e acompanhamento conforme a sua doença de base e as alterações secundárias desse estado. A atenção em saúde bucal dos pacientes acometidos pela doença renal crônica, muitas vezes, é deficiente. Isso se deve à insegurança ou mesmo ao despreparo dos Cirurgiões-Dentistas (CD) em lidar com tais indivíduos e as alterações sistêmicas que os mesmos podem apresentar. Para isso, as equipes de saúde precisam estar preparadas a prestar uma assistência à saúde de forma integral e humanitária. O CD que faz parte da ESF deve estar capacitado para a abordagem odontológica desses pacientes, considerando seu estado clínico geral, a fim de melhorar a qualidade de vida do paciente com IRC em tratamento hemodialítico.
1. Costa Filho JZ, Padilha WSM, Dos Santos EKN. Cuidados odontológicos em portadores de insuficiência renal crônica. Rev Cir Traumatol Buco-Maxilo-Fac. 2007;7(2):19-28, abr./jun. Disponível em: http://www.revistacirurgiabmf.com/2007/v7n2/v7n22.pdf
2. Medeiros NH, et al. A insuficiência renal crônica e suas interferências no atendimento odontológico – revisão de literatura. Rev Odontol Univ Cid São Paulo. 2014;26(3):232-42,set./dez. Disponível em: http://publicacoes.unicid.edu.br/index.php/revistadaodontologia/article/view/307/204
3. Terra FS, et al. As principais complicações apresentadas pelos pacientes renais crônicos durante as sessões de hemodiálise. Rev Bras Clin Med. 2010;8(3):187-92, ago. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2010/v8n3/a001.pdf
4. Guevara HG, et al. Manejo odontológico em pacientes com doença renal crônica. Rev Bras Ciênc Saúde. 2014;12(40):74-81, abr./jun. Disponível em: http://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_ciencias_saude/article/view/2273/1550
5. Araújo LF, et al. Manifestações bucais e uso de serviços odontológicos por
indivíduos com doença renal crônica. Rev Assoc Paul Cir Dent. 2016;70(1):30-36,jan./mar. Disponível em: http://revodonto.bvsalud.org/pdf/apcd/v70n1/a06v70n1.pdf